sábado, 16 de abril de 2011

PRIMEIRAS INVASÕES FRANCESAS NO BRASIL





 A França não admite a existência do Tratado de Tordesilhas – estabelecido entre D. João II, rei de Portugal, e os Reis Católicos, em 7 de Junho de 1494, em Tordesilhas, no qual se determinou a divisão do mundo em duas regiões de influência, uma portuguesa e outra espanhola – e advoga o direito de posse do território brasileiro a quem primeiro atingisse o território em questão.


Tais fatores resultaram na tentativa francesa de colonização de parte do litoral do Rio de Janeiro (1555) – a chamada França Antártica – e da costa do Maranhão (1612) – França Equinocial.
 
 
Mapa da França Antártica (Rio de Janeiro), de Duval, elaborado a partir das viagens de Villegagnon e Jean de Leri ao Brasil nos anos de 1557 e 1558


França Antártica
 

No contexto da desastrosa administração de Duarte da Costa, iniciada em julho de 1553, os franceses, chefiados pelo Vice-Almirante Nicolas Durand de Villegagnon, desembarcaram na Baía da Guanabara, em 1555, com a franca intenção de fundar uma colônia nas Américas, a França Antártica.

Villegagnon, desiludido com a sociedade francesa e contando com a prestimosa ajuda do Almirante Gaspar de Chântillon, o Conde de Coligny, e ainda com a permissão do Rei Henrique II, após receber a esperada ajuda material e financeira e promover um rápido recrutamento pelos cantões das cidades francesas, partiu em direção ao Novo Mundo, a fim de dividi-lo com portugueses e espanhois. Contando com a ausência de resistência militar organizada por parte dos portugueses, ocupou, sucessivamente, as ilhas da Lage e de Serigipe, erguendo, nessa última, o fortim de Coligny. Assim, mediante a aliança com os indígenas e dispondo de reforços militares recebidos a partir de 1557, consolidou-se, no Rio de Janeiro, a presença militar francesa no Brasil.

Vice-almirante Nicolas Durand de Villegagnon


A  verdadeira reação à ocupação francesa desencadeou-se somente a partir de 1557, com a chegada de Mem de Sá ao Brasil, na condição de novo Governador-Geral. Ciente das disparidades numéricas e materiais concernentes às forças portuguesas e francesas e da necessidade de prudência diante de ações ofensivas contra as bases francesas, Mem de Sá tratou de fundar uma base terrestre na altura da Capitania do Espírito Santo, com a intenção de obter apoio cerrado em suas incursões e, ao mesmo tempo, impedir o acesso dos franceses à capital da colônia. Após um breve período de reorganização da sociedade colonial e organização das companhias compostas por portugueses e indígenas, voltou-se, então, para a difícil tarefa de expulsão do estrangeiro.

Mapa de época mostrando a entrada da Baía de Guanabara e o Forte de Coligny


A primeira investida de Mem de Sá contra os franceses deu-se no decorrer do ano de 1560, após receber valiosas informações sobre as tropas francesas fundeadas no Rio de Janeiro e recolher reforços nas capitanias pelas quais passava. Em 15 de maio iniciaram-se os combates e, apesar da discordância dos chefes portugueses em relação à oportunidade do ataque, prevaleceu a decisão de Mem de Sá. Mesmo diante da reação inimiga e de sua superioridade numérica, a vitória sobre os franceses foi rápida. Entretanto, a intempestiva saída do Rio de Janeiro somada a vários erros de conduta permitiram a reorganização dos franceses e dos indígenas seus aliados, fato que culminou na reconstrução do Fortim de Coligny, bem como na fortificação de uma aldeia na ilha de Paranapuã (atual Ilha do Governador) e na formação de um reduto em Uruçu-Mirim (atual bairro da Glória).


Mem de Sá


A partir de 1563, reorganizou-se a reação aos franceses com os reforços vindos de Portugal e chefiados por Estácio de Sá. Contanto com auxílio dos índios temiminós, inimigos dos tamoios, e com os reforços enviados por seu tio, Mem de Sá, Estácio erigiu fortificações e um povoado que seria o embrião da cidade do Rio de Janeiro. Reforçado por tropas oriundas de São Vicente, atacou as fortificações francesas e, em 1567, estes foram expulsos da Baía de Guanabara, refugiando-se, provisoriamente, na localidade de Cabo Frio. De lá, continuaram a pilhagem da costa e o comércio com os tamoios, e acabaram sendo novamente expulsos devido aos esforços de Salvador Correia de Sá, Capitão-Mor do Rio de Janeiro e Antônio Salema, Governador da Repartição do Sul, ambos auxiliados por indígenas.


França Equinocial

Depois de serem expulsos do Rio de Janeiro e já no contexto da união das Coroas Ibéricas, os franceses, unindo-se aos índios potiguaras, voltaram a assolar o litoral brasileiro acima de Pernambuco. Tal fato levou, a partir de 1580, à fundação de várias fortificações e povoados com vistas à defesa das terras luso-espanholas. Em 1584, tropas chefiadas por Frutuoso Barbosa iniciaram a construção de um forte denominado “Cabedelo”, no litoral da Paraíba, e o povoado de Nossa Senhora das Neves (Filipéia), erguido em seus arredores, originou a cidade de João Pessoa. Posteriormente, a ida dos franceses para o litoral do atual Rio Grande do Norte motivou, entre 1597 e 1598, a construção do Forte dos Reis Magos.

Em 1612, os franceses rumaram em direção ao litoral do atual estado do Ceará, onde tropas luso-espanholas fundam uma igreja e um forte dedicados a Nossa Senhora do Amparo, os quais originaram a atual cidade de Fortaleza. Ainda em 1612, os franceses, comandados por Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, invadiram o Maranhão e fundaram um núcleo, sede da França Equinocial, que deu origem à cidade de São Luís.

Diante da notícia da presença de franceses no Maranhão, o Rei Felipe II emitiu, de imediato, ordens para expulsá-los e, nesse contexto, o bravo Jerônimo de Albuquerque foi imbuído da missão. Recrutando homens até mesmo nas prisões e convencendo os indígenas à luta, Jerônimo organizou uma tropa mista de portugueses e indígenas e, contando com reforços vindos de Portugal, iniciou os combates contra os franceses. Diante da inferioridade numérica, os portugueses construíram fortificações e passaram a, literalmente, cercar as tropas francesas que desembarcavam nas praias. Em Guaxenduba, na madrugada de 19 de novembro de 1614, uma força naval formada por 50 canoas que conduziam franceses e tupinambás foi atacada e, diante da maré baixa desfavorável e da impossibilidade de os franceses receberem reforços, bem como de fugir para os sertões, deu-se a vitória portuguesa.

Após a derrota francesa, um acordo temporário de paz, respeitado por Jerônimo de Albuquerque mas contestado pelo governo luso-espanhol, levou à nomeação de um novo comandante das forças do Maranhão: o General Alexandre de Moura. Em 31 de outubro de 1615, iniciou-se um novo ataque aos franceses, chefiado por Jerônimo de Albuquerque, por terra, e por Alexandre de Moura, pelo mar, o qual levou, incondicionalmente, os franceses a uma grande retirada e à entrega do Forte de São Luís aos luso-espanhóis.

Busto de Daniel de La Touche, Senhor de La Ravàrdiere, existente em São Luís-MA

Enquanto os franceses se  retiravam das terras do Maranhão, o governo espanhol, que já sabia da presença de estrangeiros no delta do Amazonas, emitiu ordens para que Francisco Caldeira Castelo Branco seguisse para o norte e fundasse a capitania do Pará. De 1616 a 1632 ocorreram vários conflitos entre luso-espanhóis, de um lado, e ingleses e holandeses, de outro, fato que resultou, dentre outros fatores, na fundação do Forte do Presépio, o qual originou Belém, na presença e conquista portuguesa nas áreas ribeirinhas do Rio Amazonas, e na ocupação das terras denominadas de Cabo Norte, a qual se estendia até o Rio Oiapoque.
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No século XVIII, os franceses ainda ensaiariam uma nova tentativa de invasão ao Rio de Janeiro, mas logo desistiram da idéia. De todos os processos de invasão à América do Sul, somente na região da atual Guiana Francesa os franceses conseguiram estabelecer uma efetiva exploração colonial.






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