sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O SISTEMA MILITAR HOLANDÊS DO SÉCULO XVII

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A revolta holandesa (1565-1609) produziu o que é geralmente considerada pela historiografia militar como o primeiro sistema militar moderno. A luta entre holandeses e seus senhores espanhóis durou cerca de meio século e não oficialmente concluída, na medida em que os espanhóis tentaram resistir à rebelião até 1648. O poder militar e a riqueza dos Habsburgos espanhóis acabaram por ser vencidos pelas forças holandesas, mas foi somente na última década do século XVI que Maurício de Nassau - filho do príncipe-regente assassinado Guilherme de Orange, o Taciturno - recebeu o comando do esforço de guerra holandês. Maurício trabalhou incansavelmente para a reforma do sistema militar, a fim de tirar vantagem da crescente disponibilidade e eficácia das armas de fogo. Seus adversários Alba e Parma, que eram vassalos do rei da Espanha, eram muitas vezes desfalcados em função da guerra na França e muitos dos primeiros sucessos holandeses ocorreram devido à ausência do Exército Espanhol de Flandres e de seus generais mais experientes. Quando Alba e Parma voltaram à Holanda, os espanhóis inverteram a situação, vencendo a maioria dos embates com os holandeses.

Justus Lipsius influenciou profundamente Maurício. O calvinismo e a filosofia neo-estóica de Lipsius, forneceram ao príncipe de Nassau as bases para reformar o exército holandês, cujas inovações se estenderam muito além dos Países Baixos. Diversos soldados e oficiais a serviço da Holanda eram alemães, ingleses, escoceses e huguenotes provenientes de outros países da Europa protestante, ao passo que a rainha Elizabeth contribuiu com grandes somas em dinheiro e tropas para a causa holandesa. Com as reformas de Nassau, o sistema militar holandês tornou-se a escola para os exércitos protestantes do século XVII.

Nassau atribuiu grande importância à hierarquia e à disciplina e determinou a formação de um corpo de oficiais profissionais, baseando-se nos ensinamentos de Lipsius e nas lições de Flávio Vegécio. Os oficiais superiores eram selecionadas entre os nobres holandeses ou nomeados pelo príncipe-regente, enquanto que, nos níveis mais baixos, os oficiais procediam da classe média, cuja riqueza privada lhes permitia subsidiar o custo de manter uma companhia. Apesar da diferença na origem, todos estavam sujeitos à mesma disciplina e recebiam o mesmo treinamento militar, e eram obrigados a incutir o mesmo em suas tropas.

Príncipe Maurício de Nassau


Cada companhia holandesa, comandada por um capitão, possuía tenentes e alferes, juntamente com cinco sargentos. A proporção de oficiais em relação aos soldados era maior nessas formações, permitindo uma melhor disciplina e maior controle durante o combate. Nassau não se limitava a aplicar este sistema nos regimentos holandeses, mas exigia de seus aliados a mesma organização. As companhias estrangeiras e seus capitães, em serviço junto aos holandeses, após liberadas ao final das campanhas, levavam toda essa experiência de serviço militar para seus países de origem.

O sistema militar holandês foi incorporado pelos exércitos sueco e inglês, no início do século XVII. Gustavo Adolfo II, rei da Suécia, empregou oficiais formados segundo o modelo holandês para treinar e liderar seus regimentos, e usou as idéias holandesas para desenvolver seu próprio sistema, utilizando as formações mais compactas e atribuindo maior ênfase ao poder de fogo. Em comparação com o exército holandês, as companhias suecas possuíam uma quantidade semelhante de oficiais, mas o número de sargentos era ligeiramente maior. O sistema de Gustavo Adolfo também foi muito bem sucedido, conforme foi demonstrado durante a Batalha de Breitenfeld (1631), quando os suecos venceram o exército do Sacro-Império Germânico que, embora poderoso, era organizado com base em um sistema militar mais antigo.

O sistema militar holandês também influenciou o Novo Exército inglês de Oliver Cromwell, na medida em que grande parte das tropas de Nassau eram de origem inglesa.


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