quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

TRÊS GRANDES (E DESCONHECIDOS) FEITOS DO T-34 E SUAS GUARNIÇÕES

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O T-34 foi um dos melhores tanques da Segunda Guerra Mundial, não apenas por suas características técnicas. Também foi importante a coragem demonstrada por seus tripulantes, que muitas vezes permitiam a esses tanques soviéticos fazer coisas impensáveis, como enfrentar sozinho – e vencer – uma divisão alemã inteira.


Por Boris Egorov


Incursão frenética na retaguarda do inimigo

Em 17 de outubro de 1941, a 21ª Brigada Soviética de Tanques surgiu nos arredores de Kalinin (Tver), ocupada pela Wehrmacht. Os tanques foram ordenados a fazer uma incursão na retaguarda do inimigo, cercar a cidade e alcançar suas próprias tropas.

Durante o ataque, um tanque T-34 comandado pelo sargento Stepan Gorobets foi separado do grupo principal. Devido a uma falha de rádio, a tripulação do tanque não tinha ideia de que sua brigada havia sido imobilizada por um ataque aéreo, e Gorobets seguia em direção às posições inimigas completamente sozinho.

Sargento Stepan Gorobets

Depois que o T-34 de Gorobets destruiu uma coluna de motocicletas ao longo do caminho, viu-se repentinamente na frente de um aeródromo alemão. Perplexos pela audácia do tanque soviético solitário, os alemães acompanharam o T-34 destruir dois aviões Junkers Ju 87 e suprimentos de combustível, e depois se dirigir a Kalinin.

Ali, o comandante se deu conta que estava sozinho e não receberia apoio de outros tanques. Para chegar a suas próprias linhas, Gorobets dirigiu o tanque sob fogo intenso pelo centro da cidade, cheio de alemães, esmagando uma arma de artilharia e batendo contra um tanque inimigo no caminho.

Finalmente, o T-34 em chamas, cheio de buracos feitos por projéteis inimigos, com uma arma quebrada, alcançou as posições dos soldados soviéticos, que receberam a tripulação como heróis.


Uma fuga inesperada

Durante o rigoroso inverno de 1942, um T-34 dirigido pelo capitão Gavril Polovtchenia ficou atolado em um rio perto da cidade de Andreapol. A tripulação esperava reforços quando os alemães chegaram e cercaram o tanque.

Polovtchenia ordenou que a tripulação não fizesse barulho, embora fosse difícil com tanto frio em um T-34 completamente congelado. Ainda que os alemães não tenham conseguido abrir a escotilha, decidiram que o tanque havia sido abandonado e o tiraram da água.

T-34 passando sobre um Pzkpfw II durante um combate aproximado

Em 15 de janeiro, os alemães enviaram o T-34 de Polovtchenia para Andreapol, enquanto a tripulação permanecia em silêncio. Às 5 horas da manhã seguinte, o tanque soviético tentou escapar. Saiu à toda pelas ruas da cidade, atirando e esmagando o inimigo, desorganizado e em estado de choque. Mais de 20 soldados, 30 veículos e caminhões militares, além de 10 armas de artilharia foram destruídas enquanto o tanque se dirigia para as posições soviéticas. Além disso, os alemães ficaram chocados e não conseguiram resistir ao avanço das tropas soviéticas, que facilmente libertaram Andreapol no mesmo dia. 


Lutando duas semanas em um pântano

Em dezembro de 1943, o Exército soviético estava libertando o nordeste do país. Durante uma operação, um T-34 liderado pelo tenente Stepan Tkatchenko ficou preso em um pântano semicongelado não muito longe de Pskov.

Toda a tripulação ficou gravemente ferida ou morreu, e apenas o operador de rádio Víktor Tchernichenko permaneceu ileso. Durante a noite, ele se juntou a outro motorista de tanque, Aleksêi Sokolov, que chegou ao tanque às escondidas vindo de posições das tropas soviéticas. Mas suas tentativas de libertar o tanque foram inúteis.

T-34 operando em um pântano congelado

Tchernichenko e Sokolov decidiram não deixar o T-34 e, por 13 dias, resistiram aos ferozes ataques da infantaria alemã. Contavam somente com algumas latas de carne, um pouco de açúcar, biscoitos, e água que vazava no tanque do pântano.

Completamente congelados, famintos e sem sono, os dois soldados soviéticos se defenderam da contínua avalanche de ataques alemães até que, em 30 de dezembro, as tropas soviéticas atravessaram as linhas inimigas até o solitário T-34.

Ferido, Sokolov morreu no dia seguinte ao resgate.  Tchernichenko conseguiu sobreviver à batalha, mas, infelizmente, teve ambas as pernas amputadas.

Fonte: Russia Beyond


segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

BATALHA DE HOLLABRUNN (1809)

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A Batalha de Hollabrunn foi uma ação de retaguarda travada em 9 de julho de 1809 pelo VI Corpo de Exército austríaco, sob o comando de Johann von Klenau, contra elementos do IV Corpo do Grande Armée francês, sob o comando de André Masséna.


A batalha terminou em favor dos austríacos, com Masséna forçado a interromper o combate e esperar por suas divisões restantes para reforçá-lo, mas o marechal francês foi capaz de reunir informações cruciais sobre as intenções do inimigo.

A vitória francesa na Batalha de Wagram, em 6 de julho, forçou o comandante do Kaiserlich-königliche Hauptarmee, o principal exército austríaco, o arquiduque Carlos da Áustria, a recuar. Apesar da derrota, o recuo foi ordenado e muito bem realizado. Os franceses, comandados por Napoleão, estavam inicialmente incertos sobre a direção exata, com relatos dizendo que os austríacos estavam recuando em direção à Boêmia, mas ainda não estava claro se recuariam usando a estrada para Brünn ou a estrada para Znaim. Outros relatórios indicaram que os austríacos estavam realmente se retirando para a Morávia.

Marechal Andre Masséna

Masséna enviou batedores para Krems e para o distrito de Horn e foi capaz de verificar que o inimigo não estava recuando naquela direção, mas não conseguiu concluir para onde se retirariam. Isso obrigou os franceses a uma parada por alguns dias antes que pudessem reunir inteligência suficiente para realmente entender para onde os austríacos estavam indo. No entanto, em 8 de julho, as coisas começaram a se esclarecer para Napoleão, principalmente devido a informações enviadas por Auguste de Marmont, comandante do XI Corpo de Exército e a interpretação de uma série de combates travados por elementos do Corpo de Masséna contra o VI Corpo liderado por Klenau. Estes combates, travados em Korneuburge Stocerau, permitiram que Masséna informasse a Napoleão que uma grande força austríaca estava de fato se retirando para a Boêmia.

O comandante austríaco Klenau, com uma força inicial de 18.000 homens e 64 canhões, tinha ordens para atrasar a perseguição francesa. Em 9 de julho, Klenau decidiu fazer outra parada, desta vez perto de Hollabrunn, a cerca de 55 quilômetros a noroeste de Viena . Após as escaramuças iniciais, a força de Klenau ainda era de 17.000 homens e agora ocupava uma posição forte. Diante dele, Masséna só tinha sob seu controle imediato a 1ª Divisão do IV Corpo de Exército do general Claude Legrand, a cavalaria do corpo do general Jacob François Marulaz, e os couraceiros da 2ª Divisão de Cavalaria Pesada do general Raymond-Gaspard de Bonardi de Saint-Sulpice. 

Soldados austríacos em 1809

Masséna prontamente estabeleceu contato com as forças de Klenau, ao mesmo tempo em que realizava um reconhecimento completo do campo de batalha, o que lhe permitiu escrever ao imperador e reafirmar que nenhum regimento austríaco se encaminhava para Krems. Os ataques de Masséna foram, a princípio, bem-sucedidos, mas Klenau contra-atacou e repeliu os franceses, e depois se opôs à firme resistência a quaisquer novos ataques. Devido à desvantagem numérica, Masséna foi forçado a interromper o combate e esperar por suas outras três divisões de infantaria, sabendo que as divisões de Claude Saint-Cyr seriam capazes de se juntar a ele em breve, mas que as de Gabriel Jean Joseph Molitor e Jean Boudet estavam muito longe para prestarem alguma ajuda.

As perdas na batalha são desconhecidas e, apesar de uma vitória austríaca, a batalha de Hollabrunn permitiu que Masséna escrevesse a Napoleão e informasse que ele estava no caminho certo depois dos austríacos, cujo corpo principal estava recuando ao longo do rio Thaya, perto de Laa an der Thaya. Johann von Klenau seria posteriormente condecorado com a Ordem Militar de Maria Theresa por suas ações na batalha de Wagram e ações de retaguarda por bravura em combate. 

Johan von Klenau recebeu a Ordem de Maria Theresa por suas ações em Wagram

Enquanto isso, o arquiduque Carlos da Áustria reagrupou uma grande força em Jetzelsdorf, no Pulkaurio, mas evacuou essa posição, depois de receber informações de que uma força francesa estava se aproximando de Znaim pelo leste. O próximo grande combate seria o de Znaim, onde os austríacos exigiam um armistício.

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quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

IMAGEM DO DIA - 10/1/2024

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Guarda Cívica (Garde Civique) belga. Oficial do Esquadrão Marie Henriette (1905)


IMPÉRIO VERMELHO: A REVOLUÇÃO HÚNGARA DE 1956, ESMAGADA PELA UNIÃO SOVIÉTICA

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Os húngaros tentaram depor o Partido Comunista e foram aniquilados por tanques de Moscou


Por Jardel Sebba

Em 1989, quando o mundo assistiu pela TV à derrocada do comunismo no Leste Europeu, pouca gente se deu conta de que as manifestações contra o modelo soviético na região haviam começado a ser desenhadas num pequeno país do bloco, pouco mais de três décadas antes. 

Em outubro e novembro de 1956, 200 mil pessoas se reuniram na maior demonstração de insatisfação de um país comunista diante da poderosa União Soviética. Mas o sonho de autonomia húngara iria durar apenas alguns dias. 

Na madrugada de 4 de novembro daquele ano, os manifestantes se viram impotentes diante da chegada dos tanques russos a Budapeste. Comunistas do mundo inteiro, que costumavam bradar contra o imperialismo americano, descobriram atônitos a face brutal de outro imperialismo: o soviético.


Zona de influência 

Para os húngaros, a chegada dos russos era apenas mais um capítulo da história de um país subjugado por invasores há séculos. Desde que Estêvão I estabeleceu o reino da Hungria, no ano 1000, o território fora dominado por mongóis e turcos otomanos e, mais tarde, pelos Habsburgos, da Áustria, quando integrou o chamado Império Austro-Húngaro. 
Derrotados e separados dos austríacos na Primeira Guerra, os húngaros foram obrigados, em 1920, a doar dois terços de seu território aos vizinhos. Depois de um malfadado ensaio de revolução comunista, o país terminou se aliando à Alemanha na Segunda Guerra na esperança de recuperar os territórios perdidos. 

Derrotados mais uma vez, a União Soviética logo fez questão de colocar o país em sua zona de influência, assim como fez com os outros países do Leste Europeu no pós-guerra.
No início, tudo parecia normal no país: a Hungria continuava permitindo o multipartidarismo e o Partido Comunista Húngaro mantinha apenas o controle do Ministério do Interior, o que significava, na prática, o controle do aparelho policial. 

Mas, a partir de 1947, as coisas esquentaram entre Estados Unidos e União Soviética e a Guerra Fria levou os comunistas a mudarem de postura: dali em diante, todos os países do leste teriam que rezar pela cartilha de Moscou.

Para comandar a Hungria, os soviéticos escalaram comunistas húngaros que haviam morado em Moscou. Entre eles, Imre Nagy e Mátyás Rákosi, este segundo na condição de dirigente principal do país. Culto, inteligente, duro e extremamente leal a Moscou, o líder húngaro Rákosi era tão fiel a Stalin que, na festa de 70 anos do ditador, teve lugar garantido ao lado do aniversariante. 

Mátyás Rákosi, líder húngaro fiel a Stalin

Para o povo húngaro, esse culto stalinista rendeu perseguições, exílios, violações dos direitos humanos e fechamento do país para o resto do mundo. As húngaras, acostumadas a ter Viena e Paris como referências de moda, tiveram de se voltar para as soviéticas, cuja maneira de vestir estava estagnada havia três décadas. 

A polícia política vigiava, forjava provas e torturava qualquer cidadão suspeito de ser simpático a “reformas burguesas”. No total, estima-se que 600 mil húngaros foram condenados entre 1948 e 1953. A repressão era tão forte que, em 1951, o líder Rákosi mandou dirigentes do próprio partido para a cadeia. 

A produção agrícola caiu e os preços subiram, jogando ainda mais para baixo a qualidade de vida de um país que tinha um enorme déficit habitacional (264 habitantes para cada 100 quartos disponíveis) e a proporção de um automóvel para cada 500 habitantes (enquanto na Inglaterra, por exemplo, essa taxa no período era um para dez). Até o embaixador soviético no país, J. Kiseljov, alertou seus compatriotas de que aquilo não ia acabar bem.


Enterro do stalinismo 

Em 1953, Josef Stalin morreu e, com ele, o culto ao seu poder. O enterro do stalinismo se deu definitivamente em fevereiro de 1956, durante o 20º Congresso do PC soviético, quando Nikita Kruchev fez seu histórico pronunciamento condenando os excessos do stalinismo, prometendo a recuperação dos valores da “democracia socialista”. Parecia a senha de que os países comunistas precisavam para construir um socialismo com cara própria. Em todo o bloco comunista, trabalhadores se sentiram encorajados a se manifestar, mas logo aprenderam que a tal democracia socialista não era assim tão democrática. 

Na Alemanha Oriental, por exemplo, uma manifestação de trabalhadores no dia 17 de junho de 1956 foi duramente reprimida, resultando na morte de 51 pessoas. Onze dias depois, foi a vez de os poloneses se manifestarem na cidade de Poznan, onde morreram 54 pessoas.

Em meio a esse clima de insatisfação, os soviéticos derrubaram o durão Rákosi do poder da Hungria e colocaram Ernö Gerö em seu lugar. Em 19 de outubro de 1956, encorajados por uma vitória do PC polonês frente ao comando soviético, os húngaros acreditaram que poderiam fazer o mesmo. 

Três dias depois, integrantes da juventude comunista montaram um grupo dissidente e marcaram para o dia seguinte uma manifestação em apoio aos poloneses. É o início da revolta. 


Rebelião 

Mas, enquanto escritores e intelectuais lutavam por um modelo socialista adaptado à realidade húngara, os estudantes resolveram pedir mais: eleições multipartidárias, imprensa livre e retirada das tropas do Pacto de Varsóvia, organização militar do bloco comunista. 

T-34 soviético destruído por insurgentes húngaros em Budapest


No fim do dia 23 de outubro, a rebelião já havia reunido 200 mil pessoas. Na porta da Rádio Budapeste, o protesto pacífico virou uma batalha campal que se espalhou país adentro. Às 21h30, a estátua de Stálin foi derrubada. Às 23h, os manifestantes fizeram com que o dirigente do Partido Comunista Imre Nagy, considerado mais sensível às reivindicações do povo húngaro, fosse alçado ao posto de primeiro-ministro, apesar de Gerö permanecer como primeiro secretário do partido. A situação era confusa. Em 24 de outubro, foi anunciada, junto com a nova junta de poder, a proibição de reuniões públicas e a implantação do toque de recolher.

Os rebeldes não obedeceram e tampouco a polícia reprimiu os manifestantes. Na verdade, o líder Imre Nagy ainda hesitava em apoiar os rebeldes. Em 28 de outubro, ele deu uma guinada em direção aos manifestantes: nomeou para o governo ministros não-comunistas e chamou o movimento de “do povo”, em contraponto a Moscou, que via os manifestantes como “fora da lei”. No dia 30, o multipartidarismo voltou à ordem política da Hungria. Mas o Exército Vermelho já estava alerta.

Apesar de negativas do embaixador russo, o exército de Moscou começou a ocupar o aeroporto de Budapeste alegando que precisava transportar os feridos da rebelião. Diante da ameaça soviética, Nagy enviou um pedido de apoio à Organização das Nações Unidas. 

Mas, para o azar dos húngaros, o pedido foi enviado no mesmo dia em que estourou a crise do Canal de Suez no Egito, cuja nacionalização fez com que ingleses e franceses traçassem planos de invadir o país. Se os países ocidentais podiam invadir uma nação árabe, como poderiam evitar que os soviéticos sufocassem uma rebelião na vizinhança?


Início do fim

Anos depois, documentos liberados pelo governo soviético revelaram que o Kremlin decidira pela intervenção militar no dia 31 de outubro. Enquanto Kruchev havia comunicado seus planos de invasão a outros líderes comunistas no dia 2 de novembro, Moscou continuava “negociando”, um dia depois, a retirada de suas tropas da Hungria. 

Quando o ministro da Defesa húngaro voltou a conversar com os militares russos sobre esse tema por volta das 22h do dia 3 de novembro, foi preso. Naquela madrugada, a chamada Operação Turbilhão entrou em ação e, antes do almoço, a Hungria estava dominada. 

O novo governo húngaro, apoiado pelos soviéticos, encontrou alguma resistência armada até meados de novembro, tendo que negociar com comitês e conselhos até dezembro de 1956. A partir daí, acabou a conversa e veio a repressão.

Em janeiro de 1957, os húngaros contabilizavam 2500 mortos e 20 mil feridos. Mas as cicatrizes foram expostas para todo o mundo, inclusive no Brasil. A fé no socialismo como projeto humanista estava abalada. 

Comunistas de carteirinha como o cantor francês Yves Montand e o escritor Jean-Paul Sartre condenaram a invasão. O historiador inglês Eric Hobsbawn assinou na ocasião, ao lado de outros renomados intelectuais, um manifesto de repúdio à invasão que o jornal do PC britânico se recusou a publicar. Era o início do fim.

Fonte: Aventuras na História

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