domingo, 22 de outubro de 2023

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - HANS-ULRICH RUDEL

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* 2/7/1916 - Konradswaldau, Alemanha

+ 18/12/1982 - Rosenheim, Alemanha 

Hans-Ulrich Rudel nasceu na Silésia, filho de um pastor. Quando criança nada indicava que seria especialmente corajoso; realmente dizia-se que sua mãe ainda segurava sua mão quando trovejava. Mas sempre esteve apto à prática de esportes, e talvez este tenha sido um fato oportuno para que pudesse desenvolver suas atividades esportivas em serviço militar.

Em 1936 ele entrou para a Luftwaffe como oficial-cadete. Após ser aprovado em seu curso de treinamento de voo e qualificado como piloto, Rudel foi voluntário para treinos futuros com bombardeiros de mergulho para apoio aéreo aproximado e não foi bem visto pelos instrutores destes treinamentos. Teve seu pedido rejeitado e, para sua humilhação, foi mandado para um curso de observação de reconhecimento aéreo.

Participou, na campanha da Polônia como observador em missões de reconhecimento de longo alcance. Rudel desejava pertencer ao que era então encarado pelos muitos jovens pilotos como o mais atraente da força aérea - voar em um Junkers Ju-87 Stuka. Continuou tendo seus pedidos de transferência para a divisão aérea de bombardeiro de mergulho Stukas sistematicamente negados até 1940, quando preencheu uma vaga em um dos cursos de voo do Ju-87. Após completá-lo, foi transferido para uma brigada de treinamento do Stuka (I/St.G.2) próxima à Stuttgart, de onde observou a campanha na França e nos Países Baixos.

No início da Operação Barbarossa, o I/St.G.2 foi para o "front " russo na Frente Oriental, onde executava missões quase vinte e quatro horas por dia. Todas as tripulações eram necessárias e Rudel foi transferido para o esquadrão cujo líder interessou-se imediatamente por ele. "O Rudel é o melhor homem do meu esquadrão" disse ele duas ou três semanas depois, "apesar de ser um sujeito louco, não viverá muito tempo".

Rudel levantou voo na sua primeira missão de bombardeio de mergulho às 3 horas da manhã do dia 23 de junho de 1941, e ainda estaria voando 18 horas depois, tendo estado fora em quatro missões diferentes. O ritmo das operações era tal que os pilotos saíam para até 8 missões em um só dia, e isso dia após dia, semana após semana.


Missões e façanhas

A maior façanha individual de Rudel foi em setembro de 1941. Duas brigadas do seu Geschwander (esquadrão, grupo aéreo) haviam se deslocado para Tyrkovo ao sul de Luga para uma ofensiva direta a Leningrado. Por volta do fim do mês, entretanto, um avião de reconhecimento avistou os encouraçados soviéticos October Revolution e Marat, além de dois cruzadores e algumas embarcações menores da Armada Soviética do Báltico, no porto de Kronstadt.

Durante toda a guerra Rudel voou o bombardeiro de mergulho Ju-87 Stuka


O Geschwander de Rudel decidiu atacar os três esquadrões, levando bombas especiais de 1.000 kg. Sorrateiramente levantaram voo na manhã do dia 23 de setembro. Rudel estava pilotando um Stuka da esquadrilha líder; e quando o ataque começou ele estava diretamente atrás do líder de esquadrão que havia dito que ele era "louco". O dia estava claro com o céu sem nuvens. Naquele estágio da guerra, os caças russos raramente levantavam voo e, como que para confirmar isso, nenhum apareceu no dia 23 de setembro.

Os Stukas se aproximaram de Kronstadt a uma altitude de 3.000 mil metros, e a 15 km do seu alvo, entraram numa tempestade de fogo antiaéreo. Alguns Stukas tentaram escapar do fogo, e, ao fazê-lo, as esquadrilhas e esquadrões se misturaram. Mas o líder do esquadrão de Rudel decididamente manteve seu rumo com Rudel colado a sua cauda. Quando Rudel viu que seu líder tinha acionado os freios aerodinâmicos de seu avião, ele fez o mesmo, e ambos os Stukas começaram seus mergulhos em ângulos cujas medidas estavam entre 70 e 80º. Descendo estridentemente em direção ao Marat, Rudel viu que seu líder estava recolhendo seus freios aerodinâmicos; portanto, como antes, ele fez o mesmo. 


Marat

Em 23 de setembro de 1941, os dois Staffeln do I/St.G 2 (Gruppe I do St.G 2) atacaram a frota soviética ancorada no porto de Kronstadt (na área de Leningrado), defendido por mais de 1.000 armas antiaéreas. Entre os navios lá ancorados, estava o encouraçado Marat, de 26.500 toneladas - um dos dois únicos navios de grande porte da esquadra vermelha. Mais tarde, Rudel se recordaria:

“Foi terrível. Havia explosões por todos os lados. O céu parecia estar repleto de cascalhos. Eu estava me sentindo muito mal e o vôo foi uma tortura. (…) O mergulho, num ângulo de 70º a 80º, tirou o meu fôlego. Eu tinha o "Marat" em minha mira, ele se aproximava cada vez mais rápido. O navio se tornava cada vez maior. Eu via as bocas de suas armas antiaéreas apontando ameaçadoramente para mim. (…)
Não havia tempo para me preocupar com o fato de que um tiro direto de Flak poderia me partir em pedaços. O "Marat" já preenchia completamente meu visor. Os marinheiros corriam pelo deck do navio, alguns carregando munições. Um dos canhões virou em minha direção e começou a disparar. Neste momento eu apertei o botão que liberava a bomba. Puxei o manche para trás com toda minha força, na tentativa de tirar o avião do mergulho, já que minha altitude era de apenas 300 metros.
A bomba de 1.000kg que tinha acabado de soltar não poderia ser lançada de uma altitude inferior a 1.000 metros sob o risco de destruir o bombardeiro. Mas eu não estava me importando com isso. Eu queria atingir o "Marat" — nada mais. Embora eu puxasse o manche como um louco, eu tinha a sensação que o avião não estava me obedecendo. Eu estava quase perdendo os sentidos. Havia uma sensação terrível em minha cabeça e estômago, quando eu escutei a voz excitada de meu artilheiro-de-ré:
— Herr Oberleutnant, o navio explodiu!
Eu me virei lentamente. Lá estava o "Marat" atrás de uma nuvem de fumaça quase impenetrável de 400 metros.”

Ao finalizar seu mais bem sucedido ataque, Rudel, descendo dos céus em um ângulo de 90º, saiu do mergulho a apenas 4 metros da superfície da água! "Somente nesse momento eu percebi que ainda estava vivo" - ele afirmou bem depois.

Em 1941 Rudel participou de um ousado ataque contra o encouraçado Marat


Com este feito poderia ter sido condecorado, ocasião que não ocorreu. Hauptmann Steen, que comandou todo o Gruppe que participou daquele ataque disse a ele:

“Eu tenho certeza de que você compreenderá que eu não posso condecorar um único homem depois desta corajosa missão na qual o Gruppe inteiro tomou parte (…) eu considero o valor da equipe como um time, o que é mais importante do que recomendá-lo para a Cruz de Cavaleiro.”


Condecorações

Em 29 de Dezembro de 1944, Hitler instituiu aquela que seria a mais alta condecoração militar por bravura entregue durante o III Reich: a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho Douradas, Espadas e Diamantes ou: Ritterkreuz des Eisernen Kreuzes mit Goldenem Eichenlaub, Schwertern und Brillanten. Essa condecoração era idêntica aos Diamantes, com exceção que era feita em ouro ao invés de prata.

O único recebedor desta condecoração foi o Coronel Hans-Ulrich Rudel, que como um piloto de Stuka no Front Russo voou surpreendentes 2.530 missões, tendo destruído mais de 519 tanques, 800 veículos de todos os tipos, 150 peças de artilharia, inúmeras pontes, 70 embarcações anfíbias, um encouraçado, um cruzador, um destroier e nove aviões soviéticos, incluindo sete caças abatidos em combates.

Josef Stalin ofereceu uma recompensa de 100.000 rublos a quem conseguisse abatê-lo.


Pós-guerra

No Dia da vitória, Rudel e seu esquadrão encontravam-se na Boêmia. Voaram até Kitzingen e entregaram-se às forças americanas, evitando ser capturados pelos soviéticos.
Esteve aprisionado para interrogatórios na Inglaterra e na França. Libertado, permaneceu internado em um hospital da Baviera até 1946. Depois de receber alta, iniciou uma atividade no ramo de transportes.

Mudou-se para a Argentina em 1948 onde, com outros pilotos alemães, trabalhou para a Companhia Estatal de Aviação. Tornou-se amigo do presidente Juan Perón e prestou assessoria à Força Aérea Argentina. Alfredo Stroessner, ditador do Paraguai, Otto Skorzeny e outros ex-dirigentes nazistas exilados na América do Sul também pertenciam a seu círculo de amizades.

Alertou o criminoso de guerra Josef Mengele, que encontrava-se em Buenos Aires, de que a Alemanha Ocidental pedira sua extradição ao governo argentino. A Argentina negou tal pedido alegando que ele não vivia em seu território. Depois Rudel auxiliou Mengele a fugir para o Paraguai.

Retornou à Alemanha Ocidental em 1953 e filiou-se ao Deutsche Reichspartei, partido político de extrema-direita. Reprovou o atentado de Klaus von Stauffenberg contra a vida de Hitler. Declarou-se nacional-socialista até o fim da vida.

Auxiliou a USAF a desenvolver o caça-bombardeiro A-10 Thunderbolt II. Suas Memórias foram publicadas com o título em português Piloto de Stuka com prefácio dos ases da aviação aliados Douglas Bader e Pierre Clostermann.

Apesar de ter perdido a perna direita no final da guerra e de usar uma prótese, continuou praticando esportes. Jogava tênis e esquiava. Na Argentina, escalou os montes Aconcágua e, em três ocasiões, o Llullaillaco.

O túmulo de Hans-Ulrich Rudel, o mais condecorado piloto alemão da 2ª Guerra Mundial


Morte

Rudel faleceu em Rosenheim em 18 de dezembro de 1982, aos 66 anos de idade. A seu pedido, todas as suas condecorações foram doadas por sua viúva para um museu alemão, onde repousam até esta data, já que Rudel não queria vê-las leiloadas nos Estados Unidos.

Como Rudel, durante toda a sua vida, declarou-se um Nacional Socialista convicto, o Governo Alemão proibiu qualquer manifestação ou homenagem. A Bundesluftwaffe proibiu a presença de seus pilotos nos funerais. Apesar dessas ordens, vários pilotos fizeram-se presentes à cerimônia e, no momento em que seu ataúde baixava à sepultura, caças McDonnell-Douglas F-4 Phantom II da Luftwaffe fizeram um sobrevoo rasante sobre o cemitério, numa última saudação a uma das maiores lendas da aviação militar alemã. 

Os pilotos dos Phantom, por sinal, justificaram-se depois dizendo que "sobrevoaram o local por acaso".




terça-feira, 10 de outubro de 2023

EDITOR DO BLOG TOMA POSSE NA ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL

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O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar tomou posse, no dia 9 de outubro de 2023, como acadêmico titular da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio - Academia Marechal João Batista de Mattos. 

 
A cerimônia foi realizada na sede do Clube Militar e contou com grande número de autoridades, acadêmicos e convidados, incluindo o coronel Claudio Moreira Bento, fundador da Academia e atual presidente de seu Conselho Consultivo.

Carlos Daróz assumiu como primeiro titular, a cadeira nº 19, que homenageia o Marechal Hugo Panasco Alvim, oficial de Artilharia (como eu) que, durante a Segunda Guerra Mundial, comandou o IV Grupo de Artilharia da Força Expedicionária Brasileira, atual 11º Grupo de Artilharia de Campanha.

O então tenente-coronel Hugo Panasco Alvim comandou o IV Grupo de Artilharia da Força expedicionária Brasileira durante a Campanha da Itália, 1944-1945.


Carlos Daróz teve a honra de ser recepcionado pelo Prof Israel Blajberg, atual presidente da AHIMBT/RIO. 

Na ocasião, o novo acadêmico proferiu a seguinte alocução, em homenagem ao patrono de sua Cadeira:

Senhor Gen Márcio Tadeu Bettega Bergo, mais alta autoridade militar presente; senhor Cel Cláudio Moreira Bento, fundador da Academia de História Militar Terrestre do Brasil; senhor Tenente de Artilharia e engenheiro Israel Blajberg, Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio – Academia Marechal João Baptista de Mattos; senhores membros da Academia de História Militar; autoridades; minhas senhoras; meus senhores; meus caros confrades e confreiras, 

A alegria de ser acolhido nesta casa dedicada à pesquisa e ao estudo da história militar brasileira é ainda maior, por ser recebido por um dileto amigo, artilheiro como eu, presidente da Academia, e confrade do IGHMB – Prof. Israel Blajberg. Homem dotado de invulgar inteligência, capacidade de pesquisa, fineza e elegância, autor de extensa produção intelectual no campo da História Militar. Grande é a minha honra por ser recepcionado por tão relevante personalidade da cultura nacional.

Amigo Israel, muito obrigado por constantemente prestigiar meus trabalhos e pesquisas, por anos a fio, divulgando e fortalecendo a História Militar, e, neste momento solene, saudar minha posse como acadêmico deste sodalício.

Nesta casa, reza a tradição, sempre que aos novos acadêmicos é ensejado transpor os seus umbrais, cabe-lhes exaltar a figura do patrono da cadeira que irá ocupar. Incumbe-me, pois, trazer para compor a galeria dos vultos deste cenáculo a figura do Marechal Hugo Panasco Alvim, importante oficial do Exército Brasileiro que teve destacada carreira, e que, no momento de crise assinalado pela Segunda Guerra Mundial, liderou uma das unidades de Artilharia da Força Expedicionária Brasileira no combate ao nazifascismo e na luta pela liberdade.

Impõe-se, contudo, uma breve contextualização sobre o momento histórico no qual o patrono da cadeira nº 19 da AHMTB/Rio teve seu maior destaque.
 
O Brasil ingressou na Segunda Guerra Mundial em agosto de 1942, quando o governo declarou guerra às potências do Eixo, decisão que foi influenciada por uma série de fatores, incluindo gestões diplomáticas dos Aliados e, principalmente, ataques a navios brasileiros por submarinos alemães e italianos, que causaram a morte de centenas de brasileiros e geraram uma crescente comoção popular.
Decidido o ingresso no conflito, foi organizada a Força Expedicionária Brasileira, composta pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, a qual combateu na Itália em 1944-1945. Organizada segundo o modelo norte-americano, a divisão brasileira possuía uma Artilharia Divisionária, composta por quatro grupos de artilharia de campanha, um dos quais foi liderado em combate pelo então tenente-coronel Alvim. 
 
Nascido no Rio de Janeiro em 12 de junho de 1901, Hugo Panasco Alvim ingressou na Escola Militar do Realengo no ano de 1919, e foi declarado aspirante a oficial da arma de Artilharia em janeiro de 1922. Foi sucessivamente promovido aos postos de segundo-tenente (1922), primeiro-tenente (1923) e capitão (1932). Depois de frequentar o curso de estado-maior na École de Guerre da França, entre 1935 e 1937, ascendeu ao posto de major em agosto de 1940.
Quando o Brasil ingressou na Segunda Guerra Mundial, Alvim cursava a Escola de Artilharia do Exército dos Estados Unidos da América, em Fort Sill, Oklahoma. Com a organização da Força Expedicionária Brasileira, foi promovido ao posto de tenente-coronel e designado para comandar o 1º Regimento de Artilharia Pesada Curta, unidade criada em 1943, e designada, durante a guerra, como IV Grupo da Artilharia Divisionária da FEB. Cumpre ressaltar que o IV Grupo hoje é o 11º Grupo de Artilharia de Campanha, Grupo Montese, em referência à batalha de Montese, na qual tomou parte. O Tenente-coronel Alvim esteve à testa de sua unidade durante toda a campanha com liderança e eficiência, e permaneceu no comando até janeiro de 1946.

Depois da guerra, prosseguiu com sucesso em sua carreira e foi promovido a general de brigada em 1956, comandando, sucessivamente, dois dos mais importantes estabelecimentos de ensino do nosso Exército: a Academia Militar das Agulhas Negras e a Escola de Comando e Estado-Maior. Posteriormente, comandou a 9ª Região Militar, com sede em Campo Grande.

Por ocasião da X Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores, na qual instituiu-se uma missão de pacificação no âmbito da Organização dos Estados Americanos para lidar com a guerra civil na República Dominicana, o governo brasileiro indicou o General Alvim para o comando da Força Interamericana de Paz. Sobre a missão, afirmou que era "uma grande experiência internacional, tendo em vista evitar conflitos, mesmo os de ordem interna, como é o caso de São Domingos."

Em novembro de 1964, depois de cumprir com sucesso seu comando na Força Interamericana, Alvim foi promovido ao posto máximo da hierarquia, general de exército, e nomeado chefe do Departamento-Geral do Pessoal, função que desempenhou até 1966, quando passou para a reserva, no posto de marechal. 

Após longeva carreira militar, o Marechal Alvim faleceu no dia 29 de julho de 1978, e seu legado e memória encontram-se preservados no Espaço Cultural Hugo Panasco Alvim, localizado no 11º Grupo de Artilharia de Campanha, unidade que comandou nas duras jornadas da Segunda Guerra Mundial.

Na qualidade de oficial da arma de Artilharia do Exército Brasileiro e de neto de oficial que combateu na Campanha da Itália pela Força Expedicionária Brasileira – o então Tenente Pefani Daróz –, sinto-me extremamente honrado em tornar-me o primeiro ocupante da cadeira nº 19 da Academia, dedicada ao Marechal Hugo Panasco Alvim, comandante de um dos quatro grupos de Artilharia de Campanha pertencentes à Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, nas difíceis jornadas de 1944-1945.

Devo, por fim, confessar, sob a mais profunda emoção, que recebo a indicação para integrar a Academia de História Militar Terrestre do Brasil como uma grande distinção alcançada em minha atividade de historiador militar, e vejo, nesta investidura, o coroamento de décadas de trabalho em prol do desenvolvimento da História Militar em nosso País.

Finalmente, na condição de descendente direto de febiano e de preservador da história e da memória da FEB, reafirmo um solene compromisso: “A FEB continua fumando, e, se depender de nós, continuará fumando por muito tempo”.

Muito obrigado.

Carlos Daróz – Cel Art 
Doutor em História UFF – Université Libre de Bruxelles


Mais uma oportunidade para contribuir com  novas pesquisas e fortalecer a História Militar em nosso país.

A seguir, algumas fotos do evento.

O colar-insígnia da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMBT)


O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar juntamente com o coronel Claudio Moreira Bento, fundador da AHIMBT


O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar realizando a saudação ao patrono da Cadeira nº 19, Marechal Hugo Panasco Alvim 


O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar após sua posse na AHIMBT/RIO.


O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar recebe do Prof. Israel Blajberg, presidente da AHIMBT/RIO, o colar-insígnia e o diploma correspondentes.


Seguimos pesquisando, sempre!

domingo, 8 de outubro de 2023

A BATALHA DE XUZHOU (1948)

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Em 6 de novembro de 1948 começou a batalha decisiva de Xuzhou, na qual os comunistas chineses derrotaram os nacionalistas. Os liderados de Mao Tsé-tung vinham do norte, pressionando o Kuomintang cada vez mais para o sul.

Por Thomas Bärthlein


Na primavera setentrional de 1949, as tropas de Mao Tsé-tung conquistaram quase todo o território continental da China. Cerca de seis meses antes, elas não tinham sequer uma cidade importante sob o seu controle. Mas logo tinham conseguido impor-se através da vitória na batalha de Huaihai, nas proximidades da cidade de Xuzhou, um entroncamento ferroviário de grande importância estratégica na China central. A batalha começou no dia 6 de novembro de 1948 e durou até 10 de janeiro de 1949.

Esta foi a primeira batalha campal desde o início da guerra civil em 1946. Até então, os comunistas haviam empregado uma tática de guerrilha no interior do país. Em Xuzhou, participaram da batalha cerca de 600 mil soldados de cada lado. No final, as tropas de Chiang Kai-shek foram derrotadas de forma aniquilante.

Só existem especulações sobre o número de mortos, feridos e desertores: os arquivos chineses continuam até hoje fechados para a pesquisa por parte dos historiadores. Em janeiro de 1949, os comunistas conquistaram Pequim e Tientsin no norte da China; em abril, cruzaram o rio Yang-tsé, em direção ao sul. O exército de Chiang Kai-shek estava derrotado.

O líder Nacionalista Chiang Kai-shek

Toda a história remontava à década de XX. Na época, Chiang Kai-shek já tinha lutado contra os comunistas. Eles controlavam grandes áreas, mas tiveram de retirar-se para as regiões afastadas do interior, promovendo a famosa "longa marcha".

Veio então a invasão japonesa. Entre 1937 e 1945, as tropas japonesas assolaram a China. Os comunistas e o Kuomintang de Chiang Kai-shek formaram uma "frente de unidade nacional" para combater os japoneses.

Para o sinólogo Thomas Kampen, o equilíbrio na China foi decisivamente abalado durante o período da ocupação japonesa: "Sem a invasão dos japoneses, Chiang Kai-shek teria podido derrotar os comunistas na década de 30. Ele teria podido investir todas as forças nessa luta e teria alcançado o seu objetivo. É preciso levar em conta, por exemplo, que a 'longa marcha' de 1934/35 começou com cem mil comunistas e terminou com dez mil – os comunistas estavam praticamente derrotados!"



Duas consequências

"O ataque japonês resultou em duas coisas: em primeiro lugar, Chiang Kai-shek não pôde mais concentrar-se na luta contra os comunistas; e em segundo lugar, os comunistas puderam fazer um longo trabalho clandestino nas regiões onde estava o exército japonês. Pois o problema para os japoneses era de que não dispunham de tanta tropa, para controlar todo o território. Eles controlavam principalmente as metrópoles e as linhas ferroviárias. E os comunistas podiam fazer a sua mobilização nas áreas rurais."

Isso valeu também na região de Xuzhou, por exemplo. Os comunistas tinham apoio nos povoados da região, pois tinham conquistado prestígio durante a luta contra os invasores japoneses. Já as tropas de Chiang Kai-shek tinham se retirado durante esse período. Thomas Kampen: "A Segunda Guerra Mundial terminou com a derrota do Japão. Mas não se pode dizer que os chineses tenham derrotado os japoneses. O motivo da derrota foi, antes, a bomba atômica etc. Ou seja: um grande problema era o fato de Chiang Kai-shek, seu partido e seu exército serem acusados de não ter combatido os japoneses com determinação. E, por essa razão, eles tinham uma péssima imagem."

Utilizando material bélico capturado, forças comunistas de Mo Tsé-tung avançam contra Xuzhou

Além disso, os soldados de Chiang Kai-shek estavam pouco motivados nessa guerra civil. Muitos não sabiam o porquê da luta contra os comunistas. O que não era de se admirar, pois muitos deles eram camponeses recrutados compulsoriamente, segundo esclarece Thomas Kampen: "Eles não ingressaram voluntariamente no exército, mas foram sequestrados e então incorporados à tropa. Por isso, muitos deles também desertaram".

"Entre os comunistas, uma das prioridades era motivar os camponeses, fazendo com que cooperassem voluntariamente. Na verdade, os comunistas não tinham o poder necessário para fazer um recrutamento compulsório."

Os camponeses – na época, 90 por cento da população chinesa – deveriam sustentar a Revolução, segundo a teoria de Mao Tsé-tung. De fato, num trabalho minucioso de anos de duração, os comunistas conseguiram convencer muitos camponeses a dar apoio às suas reivindicações de reforma agrária.

A longo prazo, a luta pelo poder foi decidida através da péssima imagem do governo e da excelente imagem dos comunistas, tanto em questões nacionais quanto em questões sociais.

O que causa admiração é que os comunistas tenham conseguido enfrentar com êxito as tropas do Kuomintang, equipadas com armamentos americanos. Nem mesmo os soviéticos ajudaram os comunistas chineses com o fornecimento de armas. Pois, tradicionalmente, Moscou mantinha um bom relacionamento com Chiang Kai-shek.

Fonte: DW