quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

PENSAMENTO MILITAR

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"O conhecimento das partes superiores da guerra só se adquire pela experiência e pelo estudo da história das guerras e das batalhas dos grandes capitães."

(Napoleão Bonaparte)

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terça-feira, 13 de dezembro de 2022

IMAGEM DO DIA - 13/12/2022

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Soldados argentinos fotografados nas Ilhas Malvinas/Falklands, 1982




terça-feira, 6 de dezembro de 2022

OS COMANDANTES PARA ALÉM DO "GENERAL INVERNO"

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As conquistas contra o Grande Exército de Napoleão e a máquina nazista de Hitler foram muitas vezes atribuídas ao inverno extremo na Rússia. No entanto, dar tanto crédito ao clima minimiza a importância dos líderes militares do país. O lendário comandante Aleksandr Suvorov disse certa vez: “Você não conquistará não em número, mas por habilidade”. Os oficiais nesta lista, incluindo o próprio Suvorov, são prova disso.


Por Oleg Skripnik

Até o século XVIII, os comandantes militares dos exércitos russos eram geralmente membros da aristocracia. Um corpo completo de oficiais surgiu somente sob Pedro, o Grande, após uma derrota pesada em Narva que forçou o Tsar a modernizar as forças armadas. Durante o reinado de Catarina, a Grande, a reputação dos oficiais russos se espalhou por toda a Europa. No início do século XX, a Rússia perdeu um número considerável de líderes militares na Primeira Guerra Mundial e na Guerra Civil, mas uma nova geração de líderes surgiu durante a Segunda Guerra.


Dmítri Khvorostínin, século XVI

Khvorostínin era o “homem de apagar incêndio” do tsar Ivan, o Terrível. Era enviado para comandar tropas ao longo das frentes mais difíceis e quase sempre venceu suas batalhas. Assim que repeliu as tropas suecas na fronteira norte do país, Khvorostinin recebeu a missão de salvar os moradores da Rus Kievana dos tártaros. Após mais uma vitória, foi então enviado ao Báltico para lutar contra os lituanos.

Na Guerra da Livônia (contra coalizão formada por Dinamarca, Grão-Ducado da Lituânia, Reino da Polônia e Suécia), os exércitos europeus eram superiores ao russo em termos de tecnologia, mas Khvorostínin conseguiu afastá-los por meio de ataques agressivos e estratégicos.

Khvorostínin era o “homem de apagar incêndio” do tsar Ivan, o Terrível

“Ele é o seu principal homem, que é ainda mais necessário em tempo de guerra”, escreveu o embaixador inglês Giles Fletcher sobre Khvorostínin, em seu livro Sobre o governo da Rus, publicado em 1591. Talvez seja por causa dessa reputação que Khvorostínin não foi executado depois de descumprir uma das ordens de Ivan. Em vez disso, o tsar ordenou que ele se vestisse com roupas femininas e moesse farinha.


Aleksandr Suvorov (1730-1800)

Aleksandr Suvorov era considerado um excêntrico. Ficou conhecido por correr nu à noite, dançar valsa fora do ritmo nas festas imperiais, trombando deliberadamente em outros casais, e chegar para o almoço usando apenas um sapato. Quem que conhecia Suvorov, porém, não se deixava levar por sua aparência. “A Espada Russa, Flagelo dos Turcos e Tempestade dos Poloneses. Violento nas ofensivas, destemido por natureza, era a imagem de Átila”, descreveu Luís XVIII em suas memórias.

Aleksandr Suvorov em 1799

Por esses motivos, Suvorov foi, talvez, o maior comandante russo de todos os tempos. Não perdeu uma única de suas 63 batalhas, ainda que, por vezes, enfrentasse inimigos muito superiores  em quantidade. Concentrava as forças no ataque, e sua estratégia ofensiva se baseava na velocidade e na confiança em seus homens. Aliás, era bastante querido entre os militares. Hábil em logística, treinava seus soldados para que tivessem iniciativa e astúcia em vez de focar exercícios repetitivos.

A vitória mais famosa de Suvorov foi sua campanha acerca dos Alpes. Em 1799, o Exército russo na Suíça foi cercado. Estavam sem munição, sem comida, e as botas já estavam gastas. Teria sido um milagre manter-se firme sob tais circunstâncias: Suvorov assumiu o desafio, conduzindo seus exércitos por montanhas nevadas, lagos e um inimigo hostil. Ao final, os russos escaparam e perderam menos homens que os franceses.


Michael Andreas Barclay de Tolly (1761-1818)

Barclay de Tolly foi comandante do Exército russo durante a invasão da Rússia por Napoleão, em 1812. O imperador francês esperava derrotar as tropas russas na fronteira e forçar o tsar a aceitar seus termos para a paz. Em junho, o Exército francês era muito superior ao russo; Barclay de Tolly sabia que enfrentá-los seria desastroso. A decisão foi recuar, sacrificando sua reputação, queimando aldeias e plantações por onde passavam. E a estratégia funcionou. Em vez de conquistar uma rápida vitória, os franceses foram obrigados a seguir os russos até Moscou.

Os soldados franceses estavam literalmente morrendo de fome e foram atacados por trás pelos cossacos enquanto o inverno se aproximava. A aristocracia exigia, porém, uma batalha corajosa de Barclay em vez de um recuo “vergonhoso”. “Aquele velhaco do Barclay desistiu de uma posição gloriosa”, escreveu o general Piotr Bagration.

Barclay de Tolly retratado em 1829

O comando do exército passou para o general Mikhail Kutuzov, e Barclay de Tolly enfrentou a ira do povo. Foi, inclusive, atingido deliberadamente por um disparo na Batalha de Borodino – mas sobreviveu para ver sua estratégia triunfar. Novamente nomeado comandante após a morte de Kutuzov, Barclay de Tolly conduziu o exército russo ao longo do trajeto até Paris.


Konstantin Rokossôvski (1896-1968)

A crença de Rokossôvski no partido Rodina (União Patriótica Nacional), não foi rompida nem mesmo durante o tempo que esteve preso durante as purgas do final dos anos 1930. Em 1940, Stálin perdoou o futuro Marechal da União Soviética e, um ano depois, essa decisão se mostrou acertada. Após os alemães invadirem a União Soviética, as tropas de Rokossôvski lutaram em pontos cruciais no Fronte Oriental. Sua divisão reteve tanques alemães na Batalha de Moscou, em 1941; no ano seguinte, o exército de Rokossôvski cercou os alemães em Stalingrado; já em 1943, derrotou a Wehrmacht em Kursk, que representou uma reviravolta na guerra.

Rokossôvski foi um dos mais hábeis comandantes soviéticos na 2ª Guerra Mundial

A fama de Rokossôvski, entretanto, vem sobretudo da organização e execução da Operação Bagration, em 1944. Depois de enganar os alemães , fazendo-os acreditar que planejava um ataque pela Ucrânia, o Exército Vermelho atingiu posições alemãs na Bielorrússia. A frente alemã desmoronou. Em dois meses, o Exército Vermelho libertou a Bielorrússia, a Lituânia e o ocidente da Ucrânia dos nazistas.

Fonte: Gazeta Russa


segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O REIDE DE TONDERN: O PRIMEIRO ATAQUE DE PORTA-AVIÕES DA HISTÓRIA

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Em julho de 1918 a Marinha Real britânica desencadeou ou ousado reide contra a base de Zepellins em Tondern, Dinamarca, o primeiro ataque com porta-aviões da história militar.


Em 1918, a Marinha Real britânica colocou em serviço um novo avião especialmente concebido para operar com o HMS Furious: o Camel naval 2F.1. Este era uma variante navalizada do altamente manobrável Sopwith Camel, o icônico caça britânico da Primeira Guerra Mundial. Para colocar em perspectiva, o Camel tinha especificações de desempenho comparáveis a um automóvel atual, atingindo uma velocidade de 113 milhas por hora e um alcance máximo de 300 quilômetros.

O 2F.1 navalizado tinha asas mais curtas, uma cauda dobrável para facilitar o armazenamento no convés e ganchos para que os guindastes montados no navio pudessem facilmente retirá-lo da água depois do pouso e do abandono pelo piloto.  O trem de pouso foi projetado para ser descartado, para permitir aterrissagens na água mais seguras. 

O 2F.1 era equipado com um novo motor Bentley BR1 e teve substituída uma das duas metralhadoras Vickers sincronizadas com a hélice por uma metralhadora Lewis, mais adequada para atacar Zeppelins de baixo para cima. Além disso, podia levar bombas de oitenta a cem libras, aproximadamente equivalentes em peso a uma única granada de artilharia pesada.

Três Camel 2F.1 enfileirados no convoo do HMS Furious

O HMS Furious também conduzia os aviões Sopwith 1 ½ Strutter, mas estes eram reservados para as missões de observação, altamente necessárias. O Furious agora transportava caças capazes e sete pilotos experientes treinados para operá-los. A questão era onde seriam utilizados?  Como a base de Zeppelins em Tondern, na costa da Dinamarca, era a única dentro do alcance, ela se apresentava como um alvo compensador e adequado.

A base de Zeppelins em Tondern, com seus três grandes hangares

A primeira tentativa de ataque, no entanto, realizada no final de junho de 1918, falhou devido aos fortes ventos impossibilitaram o lançamento das aeronaves. O HMS Furious e suas escoltas foram obrigados a abortar a missão para não serem descobertos.

O Furious partiu novamente três semanas depois, no dia 17 de julho, acompanhado por um esquadrão de cruzadores e encouraçados, bem como um grupo de destroieres de escolta. O plano da Operação F7 era navegar com a força até 12 milhas da costa alemã. Dessa posição os Camels decolariam em duas levas, utilizariam o farol dinamarquês de Lyngvig como auxílio de navegação, voariam pela costa em direção aos hangares dos Zeppelins em Tondern, que seriam atacados com cada aeronave lançando duas bombas Cooper de cinquenta libras. No entanto, se eles encontrarem os Zeppelins em voo durante a missão, deveriam atacá-los, mesmo que isso significasse alijar as bombas e o combustível necessário para voltar para casa. Os militares britânicos estavam dispostos a fazer grandes sacrifícios para destruir os dirigíveis alemães.

Mapa mostrando o deslocamento dos Camel por ocasião do reide contra Tondern

Novamente, o HMS Furious deparou-se com ventos fortes quando chegou ao ponto de lançamento em 18 de julho, mas estes se acalmaram no início da manhã do dia 19. Às 3 horas da manhã o porta-aviões começou a lançar os caças 2F.1, uma operação que levou vinte minutos. Imediatamente, o Camel pilotado pelo capitão T. K. Thyne apresentou problemas no motor e teve que fazer um pouso de emergência no mar. Ele abandonou o Camel e foi resgatado, mas o avião foi acidentalmente atropelado pelo destroier enviado para buscá-lo.

A primeira onda de três Camels levou uma hora e meia de voo para percorrer as oitenta milhas que separavam o navio de Tondern e localizar a base aérea. Dos três hangares da base, os dois menores, denominados "Toni" e "Tobias", poderiam acomodar um único Zeppelin, mas ambos estavam vazios naquela manhã. No entanto, havia dois Zeppelins – o L54 e o L60 - dentro da instalação maior, o enorme hangar de 740 por 130 pés chamado de "Toska".

Sopwith Camel 2 F.1, versão naval utilizada pela Royal Navy no reide de Tondern


O capitão W. F. Dickson liderou o ataque, mas suas bombas não atingiram o alvo. Seus alas foram mais bem sucedidos, as pequenas bombas perfuraram o telhado do mega-hangar “Toska” e incendiaram sua estrutura.

O imenso hangar "Toska" em chamas após o ataque. A guarnição alemã, no entanto, conseguiu salvá-lo da destruição total

A segunda onda de Camels chegou dez minutos depois e foi capaz de localizar facilmente a base pela coluna de fumaça com "mil pés de altura" proveniente do hangar queimado. Enquanto se posicionavam sobre o alvo para lançarem suas bombas,  foram recebidos por um ineficaz fogo de fuzis, disparados pelas tripulações dos Zeppelins. O comandante alemão de Zeppelin, Horst Treusch von Buttlar, lembrou mais tarde dos pilotos britânicos acenando para eles enquanto atravessavam incólumes o fogo das armas de pequeno calibre.  Os aviadores alemães conseguiram salvar os hangares removendo as bombas que estavam armazenadas dentro deles antes que os incêndios pudessem atingi-las, perdendo, nesse processo, apenas quatro homens feridos. No entanto, ambos os caros e complexos dirigíveis se incendiaram até seus esqueletos.

Os pilotos britânicos agora precisavam voltar à frota, mas estavam sem combustível e só podiam estimar a posição do HMS Furious.  Somente o Capitão B. A. Smart conseguiu encontrá-lo e ter seu avião devidamente recuperado. O capitão S. Dawson, com pouco combustível, foi forçado a pousar no mar, sendo resgatado pelo destroier HMS Violent. O Camel do capitão W. A. Yeulett desapareceu no mar e seus restos mortais e os destroços de seu avião foram recuperados da água dias mais tarde.

Dois Zeppelins como este - o L54 e o L60 - foram destruídos no reide de Tondern


Os restos calcinados do L54 e do l60 no interior do hangar "Toska"

Outros três pilotos lidaram com o seu problema de combustível aterrissando na Dinamarca, país neutro, onde foram internados sob circunstâncias bastante confortáveis. Todos os três escaparam de seus captores embarcados em navios escandinavos e voltaram para o serviço na Marinha Real em algumas semanas.

O reide improvável foi saudado como um grande sucesso pelas imprensas inglesa e americana, incluindo com um artigo publicado no New York Times. Os pilotos receberam condecorações e o HMS Furious recebeu a visita do rei George. Na verdade, os Camel haviam infligido uma quantidade surpreendente de danos, apesar de sua limitadíssima capacidade de transporte de bombas. Mesmo que os hangares alemães tenham sobrevivido com poucos danos, a base em Tondern foi abandonada. Sua localização perto da costa foi considerada muito vulnerável. Hoje, um museu conta a história da base.

Fontes:

- LAYMAN, R. L. Furious and the Tondern Raid. Warship International. Vol. X, n. 4. pp. 374–385, 1973.

- TILL, Geoffrey. Air Power and the Royal Navy, 1914–1945: A Historical Survey. London: Macdonald and Jane's, 1979.

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quinta-feira, 17 de novembro de 2022

SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO MILITAR NA VENEZUELA

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Universidad Simón Bolívar promove seminário sobre educação militar


O Instituto de Investigações Históricas Bolivarium da Universidad Simón Bolívar convida para a discussão virtual "La educación militar: primeros esfuerzos por profesionalizar la Fuerza Armada en Iberoamérica", organizada pelo Prof. Dr. Germán Guía, vinculado ao Departamento de Educação Geral e Ciências Básicas e membro deste Instituto.

Data: 24 de novembro de 2022
Hora: 10:00h, horário de Caracas.
Link para a sala: https://us02web.zoom.us/j/84256685733?pwd=NEQ2dUJWRHFMUVpSYTArdWlJNzVRZz09#success




sexta-feira, 4 de novembro de 2022

FIEDOROV: A HISTÓRIA DO PRIMEIRO FUZIL DE ASSALTO DO MUNDO

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Apesar de a Rússia ser conhecida mundo afora como o berço do Kalashnikov, pode ser uma surpresa descobrir que o primeiro fuzil de assalto foi desenvolvido muitos anos antes.


Por Aleksandr Verchínin


Se a lenda da era soviética deve ser mantida, foi o czar Nikolai II que teria impedido a produção russa do rifle automático desde o início. "Nós não temos munição suficiente", ele supostamente disse ao projetista enquanto os projetos da nova arma eram apresentados. Mas essa história está longe de ser realidade - o fuzil automático ou de assalto foi, de fato, desenvolvido na Rússia quase que inteiramente por entusiastas de armas independentes antes da Revolução Russa de 1917.

A vanguarda neste campo estava com Vladímir Grigorievitch Fiodorov, que escreveu seu nome nos anais da fabricação de armas como o projetista do primeiro fuzil de assalto do mundo. 

Vladímir Grigorievitch Fiodorov


Em princípio, qualquer tentativa de adaptá-lo ao carregamento automático dependia, em última instância, do calibre. O Exército russo usava munição 7,62 milímetros, mas a guerra russo-japonesa tinha mostrado como a vantagem de um calibre maior era praticamente anulada em condições modernas de batalha.

Do ponto de vista de design, isso significava que o calibre poderia ser sacrificado para aumentar a velocidade do ciclo inicial e consequente redução do peso do cano, uma característica explorada por Fiodorov.

Em 1913, ele produziu um protótipo de desenvolvimento do rifle com calibre 6,5 milímetros e seu projeto de cartucho próprio. O novo rifle tinha muito em comum com o seu antecessor, mas, em campo, apresentava uma vantagem crucial: cano mais curto.

Esses avanços em tecnologia de arma levaram paulatinamente à criação do fuzil automático moderno. No entanto, a eclosão da Primeira Guerra Mundial obrigou os armeiros a alterar os seus planos, e muitos tiveram que deixar suas pesquisas para enfrentar os desafios de natureza mais prática. As trincheiras de guerra exigiam a adaptação de fuzis de cano longo por combates a curta distância. 

Isso deu a Fiodorov inspiração para cortar o cano de seu rifle de 1913 e adaptá-lo com um punho para disparo. E assim nasceu o que hoje chamamos de fuzil de assalto, a principal arma de qualquer exército contemporâneo.

Sua cadência de tiro de 100 disparos por minuto a uma distância de 300 metros tornou o projeto incomparável a qualquer outra arma de qualquer exército daquele tempo. Fiodorov adaptou o rifle para disparar os cartuchos de rifle japonês Arisaka 6,5 milímetros, que o governo czarista comprara em grandes quantidades durante os anos de guerra.


Lenda nova

A ideia de infantaria com armas automáticas de disparo rápido nasceu na reviravolta da Guerra Russo-Japonesa, nos anos de 1904-1905. Metralhadoras leves tinham começado a aparecer nas linhas de frente e rapidamente demonstraram a sua eficácia. Se fosse possível equipar todos os homens com tal arma, o seu valor como unidade de combate seria imensamente multiplicado.



Logo depois da derrota para o Japão, o armeiro russo Fiodorov começou a redesenhar o honroso rifle de "três linhas" Mosin, de 1891, com o objetivo de automatizar e transformá-lo em uma temível arma de infantaria. Depois de meses de experimentação, o primeiro rifle automático calibre 7,62 milímetros entrou em produção.

Mesmo assim, possuía as qualidades integrais que ainda distinguem as armas russas de seus equivalentes estrangeiros mais elaborados e pouco confiáveis: simplicidade e facilidade de uso. Nos testes, o rifle foi submerso em um lago e untado em lama antes dos disparos.

O projeto de Fiodorov deu conta do recado, foi agraciado com um título estatal, e o primeiro lote de fuzis começou a ser produzido na fábrica Sestroretsk, nos arredores de Petrogrado (atual São Petersburgo).

Fiodorov ainda não estava satisfeito, entretanto. Tendo estudado todos os detalhes e características do rifle de três linhas, o designer acreditava que a máxima eficiência em armas automáticas modernas só poderia ser alcançada ao reformar completamente a estrutura do cano existente. O principal problema era o fato de o rifle de três linhas ser simplesmente pesado demais. 


Último suspiro

O fuzil de Fiodorov rapidamente ganhou elogios por suas inovações, e, no final de 1916, uma companhia do Exército Russo disposta no fronte romeno estava inteiramente equipada com a nova arma. A decisão também foi tomada para iniciar a produção em massa da arma, embora isso só tenha acontecido mesmo no final da Guerra Civil Russa. Em 1925, uma metralhadora compatível também foi colocada em produção.

No entanto, a história do primeiro fuzil de assalto teve, na sequência, um fim abrupto e em grande parte inexplicável. Foi quase como se alguém nos corredores do poder de Moscou não gostasse da arma, mas ninguém pudesse dizer exatamente o motivo. Alguns acreditam que isso aconteceu porque era incapaz de penetrar estruturas blindadas, enquanto outros alegam que os estoques de munição japoneses tinham se esgotado. 

Seja qual for a verdade, a despedida do rifle de Fiodorov aconteceu nas florestas da Carélia, em 1940, durante a Guerra de Inverno contra os finlandeses. Mas o legado de Fiodorov encontrou continuidade no trabalho de outros armeiros, fazendo, assim, com que seu projeto assumisse a posição de “precursor" das armas russas modernas.

Fonte: Gazeta Russa


quinta-feira, 20 de outubro de 2022

EDITOR DO PORTAL PUBLICA ARTIGO EM REVISTA EQUATORIANA

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O editor do portal Carlos Daróz-História Militar publicou artigo na Revista Acadêmica de História Militar, no Equador.


A edição especial nº 8 da Revista Académica de Historia Militar, que trata das independências dos países latino-americanos, publicou o  artigo "INDEPENDENCIA O MUERTE!": EL BICENTENARIO DE LA INDEPENDENCIA DE BRASIL, no qual Carlos Daróz analisa o processo de emancipação política de Portugal e a guerra de independência que consolidou a formação do Império do Brasil.

A revista é editada pelo Centro de Estudios Históricos del Ejercito Ecuatoriano e contou com artigos de pesquisadores de diversos países, como: Equador, Brasil, Colômbia, Argentina, Peru, Venezuela e Espanha.







sábado, 15 de outubro de 2022

O MASSACRE DE SREBRENICA: "O TRIUNFO DO MAL"

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Em 1995, cerca de 8 mil homens e meninos muçulmanos foram executados por forças sob o comando do general Ratko Mladic

O massacre de muçulmanos de Srebrenica, pelo qual o ex-comandante servo-bósnio Ratko Mladic foi acusado de genocídio, é considerada a maior atrocidade cometida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Mladic foi preso em 2011, depois de passar mais de 15 anos foragido e condenado à prisão perpétua em 2017 pelo Tribunal Penal Internacional.

Em cinco dias de assassinatos em julho de 1995, cerca de 8 mil homens e jovens muçulmanos foram sistematicamente exterminados em Srebrenica, então sob a fraca proteção de soldados holandeses das forças de paz da ONU, no que foi descrito pelo tribunal de crimes de guerra da ONU como "o triunfo do mal".

Em 1995, Srebrenica havia sido designada pela ONU como "área segura". Posteriormente ao massacre, um juiz da corte de Haia descreveu o que ocorreu na cidade como "verdadeiras cenas do inferno escritas nas páginas mais macabras da história humana".

O general Mladlic fotografado com crianças muçulmanas em Srebrenica na véspera do massacre

Milhares de civis - na maioria muçulmanos bósnios - tinham buscado refúgio em Srebrenica para escapar de outras ofensivas sérvias no nordeste da Bósnia. Eles estavam sob proteção de apenas 100 mal equipados soldados holandeses das forças de paz, que provaram não ser páreo para o Exército Sérvio que avançava pesadamente armado.

As forças sérvias bombardearam Srebrenica entre 6 e 11 de julho, antes de entrarem na cidade acompanhadas de equipes de filmagem. No dia seguinte, mulheres e crianças foram separadas dos homens e colocadas em ônibus, mostraram gravações de TV da Sérvia. Os homens e meninos foram separados "para interrogatório por suspeitas de crimes de guerra". Segundo Mladic disse às mulheres, todos seriam retirados dos ônibus para serem reunidos posteriormente em segurança.

Com pedidos de reforços negados, os holandeses das forças de paz foram forçados a testemunhar a execução dos civis enquanto as tropas sérvias agiam com o objetivo de "limpeza étnica". Nos dias anteriores ao ataque, 30 mil muçulmanos que fugiam do avanço do Exército Sérvio lotavam a cidade. Depois do massacre, não havia restado nenhum muçulmano.

Milhares de homens e meninos com idades de 10 a 77 anos foram cercados e assassinados. Aqueles que tentaram se esconder em suas casas foram, de acordo com as evidências apresentadas no julgamento do general sérvio Radislav Krstic, em Haia em 2000, "caçados como cães e massacrados".

"Presenteamos a Srebrenica sérvia ao povo sérvio. Chegou o momento de vingar os 'turcos' (nome depreciativo para os muçulmanos bósnios)", disse Mladic em Srebrenica, em palavras registradas então pelos repórteres de rádio e televisão.

Mais de 60 caminhões com os refugiados saíram de Srebrenica para locais de execução onde eles foram vendados, tiveram as mãos atadas e foram mortos por disparos de rifles automáticos. Algumas das execuções foram feitas à noite sob a luz de refletores. Posteriormente, escavadoras industriais empurraram os corpos para valas comuns.

Alguns foram enterrados vivos, disse em 1996 ao tribunal de Haia o policial francês Jean-Rene Ruez, que coletou evidências de muçulmanos bósnios. Segundo ele, há provas de que as forças sérvias mataram e torturaram os refugiados à vontade. Muitos cometeram suicídio para evitar que seus narizes, lábios e orelhas fossem cortados fora. Também há relatos de adultos que foram forçados a matar seus filhos ou assistir aos soldados porem fim à vida de crianças.

Sepulturas das vítimas do massacre no memorial de Srebrenica construído após a guerra
 
Mais tarde, foi revelado que Mladic foi capaz de atuar sem ser coibido por ter emitido ultimatos à força de proteção da ONU. Sugeriu-se que o alto comando da ONU havia prometido suspender os bombardeios contra o Exército Sérvio em troca da libertação de 370 soldados da ONU mantidos prisioneiros, com Mladic considerando isso um sinal verde para atacar Srebrenica.

O comandante dos soldados holandeses da ONU, coronel Thomas Karremans, disse ao tribunal de Haia em 1996 que ele primeiramente pediu ataques aéreos da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando os soldados de Mladic começaram sua ofensiva em 6 de julho, mas que esse pedido não foi acatado até 11 de julho, data na qual Srebrenica ficou sob controle sérvio.

Karremans disse que um longo bloqueio sérvio anterior ao ataque deixou o batalhão holandês quase sem alimentos e combustível, mas que pedidos para novos suprimentos não foram respondidos. Em 1999, a ONU admitiu seu erro em esperar que 100 soldados holandeses detivessem o Exército Servio-bósnio.

Em 22 de novembro de 2017, Ratko Mladic foi condenado pelo Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia à prisão perpétua por crimes de guerra. Entre as acusações estavam sua participação no massacre de Srebrenica e no cerco de Sarajevo.

Fonte: BBC, CNN, EFE


quinta-feira, 13 de outubro de 2022

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - SARGENTO-MOR CARLOS ENRIQUE BUTLER



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Soldados de ascendência hispânica serviram como voluntários, tanto na União quanto nos exércitos confederados, durante a Guerra Civil Americana. 


* ??/??/1837 - Matanzas, Cuba

+ ??/??/1894 - Fort Meade, EUA


O sargento-mor norte-americano Carlos Enrique Butler foi um deles. Depois de se alistar em julho de 1862, ele participou de todas as grandes batalhas na Virgínia. Após isso, foi acometido por uma disenteria antes de Gettysburg, em meados de 1863. Mais tarde, Butler tornou-se padre e serviu sua "segunda missão" na fé pelo resto de sua vida.

Nascido em 1837 em Matanzas, Cuba, filho de Charles P. e Dona Francisca Arrendondo, Butler frequentou o Seminário Teológico Kenyon College em Ohio, antes da guerra. Segundo seu pai, Carlos estava "ansioso para servir a seu país de adoção" e alistou-se em julho de 1862 na cidade de New York.

Ele foi nomeado sargento do 145º Regimento de Infantaria de New York, uma unidade pertencente ao 12º Corpo do Exército do Potomac, que desempenhou papel significativo na Batalha de Chancellorsville. Durante a marcha para Gettysburg, o sargento-mor Butler foi afligido pela disenteria e transferido para o Corpo de Reserva de Veteranos. Infelizmente, sua papelada foi extraviada e, como resultado, ele foi preso erroneamente como desertor, e encarcerado por vários meses.

Por fim, os registros foram corrigidos e Carlos recebeu dispensa e uma pensão. Ordenado como padre episcopal em 1868, serviu em dioceses da Pensilvânia, Nova York, Ohio, Colorado, Kansas, Cidade do México e Flórida, antes de sua morte em Fort Meade, em 1894.

Companheiro de clero o descreveu como "vivendo um ideal elevado e tentando elevar outros, suportando, sem se queixar, provações e dificuldades muito reais".



terça-feira, 11 de outubro de 2022

A BATALHA DE FLEURUS (1622)

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Há quatrocentos anos, os espanhóis venciam um exército de mercenários protestantes na sangrenta Guerra dos Trinta Anos 


Em Fleurus, durante a Guerra dos Trinta Anos, o exército mercenário protestante do Conde Palatino, sob o comando do general mercenário Peter Ernst II von Mansfeld e seu tenente-general e comandante de cavalaria, o Duque Christian von Brunswick, de apenas 22 anos, foi interceptado pelo Exército do Palatinado espanhol, liderado por Gonzalo Fernández de Cordoba y Cardona (bisneto do Gran Capitan Gonzalo de Cordoba). 

Em julho de 1622, o Exército da Flandres, sob Ambrosio Spinola, havia iniciado o cerco de Bergen-op-Zoom. O exército mercenário de 12.000 homens recebeu a missão de invadir o sul da Holanda e aliviar o cerco da cidade. Depois que as tropas de Mansfeld atravessaram o rio Sambre, em 29 de agosto, os 8.000 homens liderados por Córdoba os confrontaram perto da cidade de Fleurus (Fleuru, no condado de Namur). Se o exército mercenário pudesse romper a linha católica, as tropas de Spinola corriam o risco de serem atacadas pela retaguarda.

Peter Ernst II von Mansfeld, Conde Palatino, comandante do exército de mercenários

Mansfeld comandou a infantaria no centro e o Duque Christian a cavalaria na ala direita. Córdoba, cuja cavalaria era fraca, ordenou a Baltasar de Santander que organizasse a infantaria em quatro grandes quadrados defensivos. Brunswick esperava romper a formação espanhola com um ataque frontal completo. 

A primeira carga foi repelida pela cavalaria do coronel Gauchier, mas Brunswick ordenou uma segunda carga. A primeira linha foi empurrada para trás novamente, mas a segunda linha conseguiu derrotar a cavalaria valã.  Brunswick, então, concentrou-se contra a infantaria espanhola, mas não conseguiu resistir ao ataque, pois os homens do famoso Tercio de Napoli, sob o comando do mestre de campo Francisco de Ibarra, mantiveram-se firmes enquanto os mosqueteiros camuflados na floresta começaram a disparar contra a cavalaria protestante. 

Mapa mostrando a primeira fase da Batalha de Fleurus (1622)


Durante uma quarta e última carga desesperada, Brunswick foi gravemente ferido por um tiro no braço esquerdo, que, mais tarde, foi amputado. Após cinco horas de combate, Mansfeld ordenou uma retirada. A cavalaria protestante fugiu, deixando a infantaria alemã à sua própria sorte, e muitos dos homens foram mortos ou capturados. Gauchier também capturou a artilharia de 11 canhões do inimigo e sua bagagem.

Derrotado na batalha, Brunswick teve seu braço esquerdo amputado por um tiro de mosquete

Os protestantes sofreram 5.000 baixas (mortos, feridos ou capturados), o Exército do Palatinado muito menos, cerca de 1.200.  Entre os mortos estavam vários nobres espanhóis, incluindo mestre de campo de Ibarra, atingido por um tiro de mosquete, bem como dois coronéis de Mansfeld: o Duque Frederick de Saxe-Weimar e o Conde Heinrich von Ortenburg.

A Batalha de Fleurus foi comemorada como uma grande vitória pelos espanhóis. Fernández de Cordoba y Cardona foi feito Marquês de Maratea pelo Rei Felipe IV. No entanto, Cordoba não havia conseguido impedir que 3.000 cavaleiros protestantes chegassem a Breda. Os esquadrões de Mansfeld se reuniram ao exército de Maurício de Nassau, Príncipe de Orange, e participaram do levantamento do cerco de Bergen-op-Zoom, no dia 2 de outubro.


sexta-feira, 30 de setembro de 2022

EDITOR DO PORTAL PARTICIPA DE SEMINÁRIO INTERNACIONAL PROMOVIDO PELA REDE MARIA QUITÉRIA

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O editor do portal Carlos Daróz-História Militar participou do seminário internacional "Bicentenário em Perspectiva", organizado pela Rede Maria Quitéria de Segurança e Defesa em comemoração aos 200 anos da emancipação política do Brasil.

A Rede Maria Quitéria, fundada em 2021, reúne pesquisadores com o objetivo de produzir estudos e pesquisas sobre a área de segurança, defesa, política externa, política de inteligência, cibersegurança e segurança pública.


A sessão temática de ontem, dedicada às perspectivas regionais das independências dos estados latino-americanos foi mediada pela Profa. Dra. Ana Paula Lage de Oliveira, da PUC de Campinas, contou com a apresentação das pesquisas de Carlos Daróz (Instituto de Geografia e História Militar do Brasil-Universidade Federal Fluminense/Université Libre de Bruxelles), Michel Laguerre (Marina de Guerra del Peru) e Maria Aparecida Lopes (California State University).


Na ocasião, Carlos Daróz apresentou pesquisa sobre O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DAS COLÔNIAS IBÉRICAS NAS AMÉRICAS, SOB A PERSPECTIVA DA HISTÓRIA COMPARADA E DO PODER MILITAR.

Quem quiser conferir, segue o link


terça-feira, 27 de setembro de 2022

IMAGEM DO DIA - 27/9/2022

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1º Regimento de Guardas a Pé britânico avança para atacar Blenheim, em 2 de agosto de 1704, durante a Guerra de Sucessão Espanhola


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domingo, 25 de setembro de 2022

A BATALHA DE KURSK ATRAVÉS DOS OLHOS DE SEUS PROTAGONISTAS

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Cidade na região de Prokhorovka foi palco da maior batalha de tanques da história mundial.

Por Viktor Gavrilov e Nezavissiomoie Obozrenie


Paira o silêncio sobre o campo de Prokhorovka. Somente de tempos em tempos ouve-se o repicar dos sinos, chamando os paroquianos para o serviço religioso na Igreja dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, construída com recursos doados pelo povo, em memória dos soldados que morreram na Batalha de Kursk.

Há quase 80 anos, nesse local fervia um terrível combate. Na região de Prokhorovka se desenrolou a maior batalha de tanques da história mundial. Tudo o que poderia se inflamar estava queimando, tudo estava coberto de poeira e fumaça dos tanques, aldeias, florestas e campos de trigo que ardiam em chamas. A terra foi queimada a tal ponto que não restou um único fiapo de grama. Aqui a guarda soviética se encontrou frente a frente com a elite da Wehrmacht, as divisões Panzer SS.

A batalha de Kursk também leva o nome de batalha no saliente de Kursk. Esse nome é devido à forma arqueada da frente de combate, constituída pelas tropas soviéticas (ver mapa abaixo). Os combates na face sul do saliente começaram no dia 4 de julho de 1943, mas os principais eventos ocorreram na madrugada de 5, quando os alemães lançaram o primeiro ataque maciço com as suas formações de tanques.

Mapa da Batalha de Kursk


Na manhã de 5 de julho, o comandante da Divisão SS "Leibstandarte Adolf Hitler", Obergruppenführer, Josef Dietrich, se aproximou dos seus "Tigres", e um dos oficiais gritou para ele: "Vamos almoçar em Kursk!". Mas os integrantes da SS não conseguiram nem almoçar nem jantar em Kursk. Em 12 de julho, às 8h30, os batalhões de assalto soviéticos iniciaram um contra-ataque, opondo-se às tropas do 4º Exército Panzer alemão.

Para revidar os ataques das tropas soviéticas, o comandante alemão Erich von Manstein lançou todas as forças disponíveis, porque entendia perfeitamente que o sucesso do avanço das tropas soviéticas poderia levar à completa derrota dos batalhões de assalto do grupo “Sul” dos exércitos alemães. Na enorme frente, com uma extensão total de mais de 200 km de comprimento, eclodiu uma luta feroz.

Os mais ferozes combates durante o dia 12 de julho estavam sendo realizados na assim chamada ponte (área de estágio tático) de Prokhorovka. Essa área foi conquistada pelo adversário em uma luta tensa ao longo do dia 11 de julho. Ali se estabeleceu e começou a agir o principal grupo das forças inimigas, que integrava a 2ª Divisão Panzer SS "Das Reich". Foi sobre essa força que o comando soviético lançou o seu ataque principal.

Blindados alemães destruídos em Prokhorovka


"Poucos minutos depois, os tanques do primeiro escalão das nossas 29ª e 18ª Divisões, atirando em movimento, com um impacto frontal, penetraram nas disposições militares das tropas alemãs-fascistas e com um rápido e lancinante ataque, literalmente perfuraram as disposições do inimigo. […] Os seus 'Tigres' e 'Panteras' foram privados da supremacia do seu poder de fogo, no combate de curta distância. No início da ofensiva, eles se aproveitaram dessa supremacia durante o confronto com as nossas outras conexões de tanques e agora estavam sendo derrotados com êxito pelos tanques T-34 soviéticos e até mesmo pelos leves T-70, a distâncias curtas. O campo de batalha era um turbilhão de fumaça e pó, a terra tremia devido às explosões poderosas. Os tanques colidiam uns com os outros e ficavam enroscados sem conseguir se separar, então lutavam até a morte até que um deles se inflamava como uma tocha ou parava com as lagartas destruídas. Mas mesmo os tanques abatidos, se as suas armas estivessem em condição de operar, continuavam a disparar”.
Pável Rotmistrov, comandante militar soviético


“O primeiro tanque, eu abati quando estava me movimentando pela estrada de ferro, ao longo da área de desembarque e, literalmente, a uma distância de cem metros, vi um tanque 'Tigre' que estava virado de lado para mim, disparando em nossos. Pelo visto ele tinha atingido vários tanques nossos, pois eles estavam indo de lado para cima dele e ele disparava nas laterais das nossas máquinas. Eu mirei um projétil perfurante e disparei. O tanque pegou fogo. Eu disparei mais uma vez e o tanque se inflamou ainda mais. A tripulação saltou para fora, mas não sei bem porque, eu não estava interessado nela. Eu contornei esse tanque e, em seguida, abati um tanque T-III e um tanque 'Pantera'. Sabe, quando eu abati o tanque 'Pantera', experimentei uma sensação de euforia, pois, vejam só, consegui realizar um feito heroico".
Evguêni Chkurdalov, ex-oficial soviético


"De repente um T-34 irrompeu e dirigiu-se diretamente para nós. O nosso primeiro operador de rádio começou a me passar os projéteis, um a um, para que eu os colocasse no canhão. Enquanto isso, o nosso comandante que estava no compartimento de cima, não parava de gritar: ‘Atirem! Atirem!’, porque um tanque se aproximava cada vez mais. E somente após o quarto ‘Atirem’, eu ouvi ele dizer: ‘Graças a Deus!’. Então, depois de algum tempo, verificamos que o T-34 parou apenas a oito metros de distância de nós! No topo de sua torre, como se tivessem sido carimbados, havia orifícios de 5 centímetros [...]. As disposições militares dos dois lados se misturaram. 'Os nossos tanquistas atingiam com êxito o inimigo, de distâncias próximas, mas também sofriam pesadas perdas'”.
Wilhelm Rees, ex-oficial alemão da divisão “Adolf Hitler” 


"O tanque T-34 do Comandante do 2º Batalhão da 181ª brigada da 18ª divisão, capitão Skripkin, penetrou a formação de 'Tigres' e abateu dois tanques inimigos, antes que um projétil de 88 mm atingisse a torre do seu T-34 e outro perfurasse a sua blindagem lateral. O tanque soviético pegou fogo, e Skripkin, ferido, foi retirado do tanque destroçado pelo condutor, sargento Nikolaev e pelo operador de rádio, sargento Zirianov. Eles se refugiaram na cratera aberta pela bomba, mas ainda assim um dos 'Tigres' os descobriu e partiu para cima deles. Então Nikolaev e seu artilheiro Tchernov saltaram novamente para o tanque em chamas, deram a partida e o orientaram diretamente para o 'Tigre'. Os dois tanques explodiram com o impacto”.
Extraído dos documentos do Arquivo Central do Ministério da Defesa da Federação Russa


Formação de uma divisão blindada em Kursk

O ataque com os blindados soviéticos, tanques novos com um conjunto completo de munição abalou significativamente as divisões do inimigo, já desgastadas pelas batalhas, e a ofensiva alemã malogrou.

Como resultado do contra-ataque das principais forças Soviéticas da 5ª guarda do exército de tanques, a sudoeste de Prokhorovka foi frustrada a ofensiva sobre o nordeste, das divisões Panzer SS Totenkopf” e "Leibstandarte Adolf Hitler". Essas divisões sofreram tamanhas perdas, que não puderam mais implementar uma ofensiva consistente.

As unidades da Divisão Panzer SS “Das Reich” também sofreram pesadas baixas devido aos ataques de unidades. Corpos da guarda de tanques que passaram a contra-atacar ao sul de Prokhorovka.

T-34/76 do 2º Exército de Tanques soviético. Kursk, 1943


Perdas e resultados

As perdas totais dos dois lados do confronto de tanques nas proximidades de Prokhorovka estão avaliadas da seguinte maneira: do lado soviético se perderam 500 tanques e do lado alemão, 300 tanques e canhões autopropulsados.

É claro que o grupo "Sul" do exército alemão sofreu as piores perdas nos primeiros sete dias de combates, antes mesmo da batalha nas proximidades de Prokhorovka.

Mas o significado básico da batalha de Prokhorovka consiste no fato de que os soldados soviéticos deram um duríssimo golpe e conseguiram parar as divisões de tanques da SS que avançavam em direção à Kursk. Isso minou o espírito de combate da elite das tropas blindadas alemãs, e depois disso, elas definitivamente perderam fé na vitória das armas alemãs.

Fonte: Gazeta Russa