segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

HÁ EXATOS 75 ANOS O EXÉRCITO VERMELHO LIBERTAVA O CAMPO DE EXTERMÍNIO DE AUSCHWITZ

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Em um cenário desesperador, os soldados evacuaram o maior campo de concentração nazista. Cerca de 1,5 milhão de pessoas morreram no local

No final da guerra, prevendo a vitória dos aliados, os alemães começaram a destruir crematórios e documentos enquanto evacuavam os prisioneiros de Auschwitz. Os que não conseguiam andar foram deixados lá e liberados pelo Exército Vermelho em 27 de janeiro de 1945. Lá, cerca de 1,5 milhão de pessoas morreram, a maioria em câmaras de gás.

Arbeit machr frei ("O trabalho liberta", em português). Era essa a inscrição na entrada do maior campo de concentração nazista. Erguido em 1940 nos subúrbios da cidade de Oswiecim, na Polônia, ele tinha três partes: Auschwitz I, a mais antiga; Auschwitz II-Birkenau, que reunia o aparato de extermínio; e Auschwitz III-Buna, com cerca de 40 subcampos de trabalho forçado.

As primeiras vítimas do nazismo foram poloneses, seguidos de soviéticos, ciganos e prisioneiros de guerra. Em 1942, o campo voltou-se para a destruição em massa dos judeus. Os presos eram obrigados a usar insígnias nos uniformes conforme a categoria – motivo político era um triângulo vermelho; homossexual, um rosa. Muitos foram usados em experimentos médicos.


Fornos de Hitler

Entre as muitas vítimas estava Olga Lengyel. Uma judia que vivia com o marido e os  filhos na cidade de Cluj, capital da Transilvânia. Ao ouvirem relatos sobre as atrocidades cometidas pelos nazistas em terras ocupadas, não acreditaram que isso poderia se tornar um pesadelo real. 

Oficiais do Exército Vermelho conversando com prisioneiros libertados
 
Em 1944, o seu marido, que era médico, seria deportado para a Alemanha. Ela acreditava que o companheiro poderia ser enviado para suprir a falta de médicos, e assim optou por segui-lo com os filhos. Contudo, era uma emboscada. O destino final da família seria Auschwitz. No local, Olga perdeu a sua família. Entretanto, sobreviveu para contar a sua trajetória. Em Os Fornos de Hitler, Olga detalhou um dos primeiros relatos sobre o horror dos campos de extermínio nazistas. 

"(...) Os alemães deixavam vivos alguns milhares de deportados de cada vez, mas apenas para facilitar o extermínio de milhões de outros. Faziam tais vítimas executar seu trabalho sujo. Elas faziam parte do sonderkommando. Trezentas ou quatrocentas serviam em cada forno do crematório. Seu dever consistia em empurrar os condenados para dentro das câmaras de gás e, depois que o assassinato em massa tivesse sido cometido, abrir as portas e transportar os cadáveres."

Hoje, Auschwitz é um museu que preserva a memória do maior genocídio da História.

Fonte: Aventuras na História


sábado, 25 de janeiro de 2020

RÚSSIA CRIARÁ O MAIOR ARQUIVO DE DOCUMENTOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

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A Rússia criará o maior arquivo de documentos da Segunda Guerra Mundial e vai torná-lo acessível tanto para os seus cidadãos como para os de outros países, declarou Vladimir Putin, numa intervenção na Assembleia Federal (Parlamento).

O arquivo será “o maior e mais completo de documentos escritos, fotografias e filmes relativos à Segunda Guerra Mundial e será acessível aos cidadãos do nosso país como do mundo inteiro. Vemos neste trabalho o nosso dever de país vencedor desta guerra e a nossa responsabilidade para as futuras gerações”, afirmou Putin.

O presidente russo também sublinhou a obrigação da Rússia em conservar a verdade sobre a Segunda Guerra Mundial e opor-se às tentativas de falsificação da história.

“O 9 de Maio é a maior e mais sagrada festa para a Rússia. A memória (da guerra) é mais que um tributo ao passado histórico, também serve o nosso futuro porque fortalece a nossa unidade. Defender a verdade sobre a Vitória é nossa obrigação, caso contrário o que diremos aos nossos filhos se permitirmos que a mentira se propague como uma peste pelo mundo inteiro? Devemos opor os factos à descarada mentira e às tentativas de reescrever a história”, finalizou.

Fonte: Sputnik


domingo, 19 de janeiro de 2020

A GUERRA DO PACÍFICO: O MARTÍRIO DA BOLÍVIA



Feriado mais importante no país é exigir o mar de volta ao Chile


Por Fábio Marton

Todo 23 de março, celebra-se o Dia do Mar na Bolívia. É uma espécie de Carnaval patriótico, em que adultos e crianças se vestem de marinheiro ou usam fantasias com chapéu de barco, ondas ou qualquer outro tema "oceânico" e desfilam rumo à plaza Eduardo Albaroa. Também valem roupas de soldado ou os trajes tradicionais dos povos de língua quéchua e aimará, etnias da maioria da população do país. O presidente faz um discurso. Acontecem salvas de canhões e paradas militares, inclusive da Marinha boliviana.
A Bolívia não tem mar. E esse é o ponto do Dia do Mar.


Um pedaço de Marte

A Guerra do Pacífico, como ficou conhecida, colocou Chile contra Bolívia e Peru de 1879 a 1883. Em números absolutos, foi mais modesta que a Guerra do Paraguai, envolvendo cerca de 70 mil combatentes, contra 350 mil. Mas suas consequências e seus ressentimentos seriam bem mais dramáticos. "Como a maioria dos conflitos no que posteriormente seria conhecido como Terceiro Mundo, a Guerra do Pacífico foi um grande momento para os povos envolvidos, mas acabou largamente ignorada fora da região", afirma o historiador Bruce W. Farcau em The Ten Cents War. 

Historicamente, a região não valia nada. Era um pedaço de terra seca, sem rios, no deserto mais inclemente do mundo - o Atacama, onde o período entre duas chuvas se mede em décadas. E uma precipitação anual 20 vezes menor que nas partes mais secas do deserto do Saara. Não há nenhuma vida vegetal ou animal ali, exceto no litoral, onde nevoeiros oferecem alguma umidade a líquens e cactos. A região é comumente usada por equipes de filmagem quando querem recriar o ambiente de Marte, como na série Space Odissey (2004), da BBC. (Perdido em Marte, de 2015, não; esse foi filmado na Jordânia).


Fronteiras tensas

O Atacama é o deserto mais letal do mundo, mas não só por falta de água. Alguém tentando cruzar a fronteira entre Peru e Chile, ao norte de Arica, vai se deparar com uma "atração" inusitada: campos minados, marcados por placas em espanhol, inglês e aimará. 113 121 minas antipessoal e antitanque foram plantadas na fronteira pelo governo Pinochet (1973-1993) e vem sendo removidas desde 2000, mas apenas 9,34% do total foi desativado, segundo dados do governo chileno.

Batalha travada durante a Guerra do Pacífico 

As encrencas do Chile não se limitaram ao norte. Em 1978, quando ditaduras militares dominavam ambos os países, Chile e Argentina quase entraram em guerra por causa de três ilhas minúsculas no canal de Beagle, que faz a passagem do oceano Atlântico para o Pacífico e corta os dois países. A Argentina chegou a preparar uma invasão militar das ilhas, que considerava suas, mas desistiu na última hora. Até o papa teve de intervir: com o fim do regime militar argentino, o presidente Raúl Alfonsín assinou no Vaticano um acordo com Pinochet, entregando as ilhas ao Chile. Pinochet, de seu lado, plantou também minas na fronteira com a Argentina.

Mas mesmo um tirano como Pinochet teve seu momento de iluminação - ou, quem sabe, solidariedade a outros ditadores militares. Em 1972, quando a Bolívia estava sob a ditadura do general Hugo Banzer e o Peru sob a do general (de esquerda) Juan Velasco Alvarado, ele propôs entregar uma faixa de terra à Bolívia, ligando o país à cidade de Arica. Os bolivianos deveriam entregar uma faixa equivalente ao Chile, incluindo aí o território da faixa marítima. Os bolivianos ficaram exultantes, mas, como Arica originalmente era parte do Peru, não da Bolívia, os acordos com o Chile exigiam a consulta ao Peru antes da entrega. O ditador peruano não gostou e propôs que os 3 países dividissem Arica. Acabou ficando tudo como estava - e está.

No conturbado processo de independência das colônias da América do Sul, o deserto acabou dividido entre o Peru, que conquistou a independência, em 1821, e a Bolívia, liberada em 1825. Os países, que eram simplesmente o "Peru" na época colonial, unificaram-se em 1833, e isso levou a uma primeira guerra com o Chile, entre 1836 e 1839, separando-os novamente. O Chile não queria um vizinho gigante ao norte, mas não levou nenhum território - e nem estava interessado. Isso mudaria radicalmente na década de 1840, quando começou a se explorar um recurso inusitado: o guano, excremento de aves marinhas que, sem chuvas para removê-lo e ressecado pelo sol, forma morros brancos em rochas perto do mar. "Os chilenos nunca se incomodaram com a questão de fronteiras até a descoberta do guano", afirma o cientista político Waltraud Q. Morales em A Brief History of Bolivia.

O guano tem em sua composição o nitrato de sódio, ou salitre, que começava a ser usado em fertilizantes e era matéria-prima na produção de explosivos. Não apenas nas pedras brancas mas também enterrado no solo, havia enormes depósitos de salitre no Atacama. Isso tornou, da noite para o dia, o terreno morto em um dos pontos mais importantes da Terra.

A princípio, o Chile não precisou tomar territórios para se favorecer com isso. Com instituições privadas e governamentais bem mais sólidas que as dos vizinhos, foram as indústrias chilenas, fomentadas por capitais britânico, francês e americano, que rapidamente se instalaram na região, com mão de obra dos próprios chilenos e migrantes do mundo todo, inclusive da China.


Acordo secreto

A situação mudou em 1878, quando o Congresso boliviano tornou nulo um acordo que isentava de impostos a chilena Compañia de Salitres y Ferrocarril de Antofagasta (ferrocarril é "ferrovia" em espanhol e Antofagasta era a cidade mais ao sul do litoral boliviano, na fronteira com o Chile). A Compañia deveria pagar 10 centavos de peso para cada 100 kg de salitre extraídos. A empresa se recusou, e o Congresso boliviano votou por confiscar suas propriedades, marcando o início do processo para 23 de fevereiro de 1879. No dia da execução, 500 soldados chilenos desembarcaram em Antofagasta para proteger a empresa - foram recebidos com festa, já que 95% da população da cidade era chilena.

A princípio, os bolivianos decidiram contornar a situação com eufemismos. A declaração de guerra contra o Chile foi aprovada pelo Congresso em 27 de fevereiro, mas não foi anunciada. Em vez disso, o presidente, Hilárion Daza, preferia falar em "estado de guerra". Em 1º de março, anunciou a expulsão dos chilenos do país. Com ou sem declaração, os chilenos se mexeram. Em 23 de março, 554 soldados chilenos avançaram pelo deserto, rumo à cidade de Calama. Lá enfrentaram e massacraram 135 civis e soldados, comandados pelo engenheiro Eduardo Albaroa - que se tornou o mártir do Dia do Mar e herói na Bolívia.

Artilharia chilena em posição.

O Peru também tentou evitar o pior. Desde 1872, tinha um acordo de defesa secreto firmado com a Bolívia, que exigia que honrasse o compromisso. Os peruanos tentaram sediar um congresso de paz em seu país, mas o Chile, tomando conhecimento do acordo de defesa, preferiu declarar guerra a ambos os países em 4 de abril de 1879.


Ofensiva brutal

Avançar pelo deserto era complicado. O Chile preferiu, então, fazer uma guerra focada em combates navais e invasões anfíbias. O país tinha 7 navios, e o Peru, 6 - a maioria comprada dos americanos após a Guerra Civil que funcionavam a vapor e eram modernos para a época.

Em 5 de abril, os chilenos bloquearam o porto peruano de Iquique. Após uma troca de tiros, o Peru conseguiu expulsar os navios chilenos da cidade e afundar um dos 7 navios da Marinha chilena, mas a um enorme preço: o Independencia, um de seus dois navios mais bem armados, bateu em uma rocha e afundou. Com a retirada chilena, o segundo navio peruano mais poderoso, o Huáscar, passou a circular pelas guarnições costeiras chilenas e fazer ataques esporádicos, atrasando seu avanço. Em 8 de outubro, os chilenos conseguiram capturar o Huáscar, na Batalha de Angamos, e o usaram contra as forças peruanas. Depois disso, ficaram praticamente livres para desembarcar tropas. Em 2 de novembro, baixaram em Pisagua, 500 km ao norte de Antofagasta. Em 19 de novembro, conquistaram Iquique. Com um tanto de excesso de confiança, levaram o que foi seu maior revés na guerra: em 27 de novembro, na Batalha de Tarapacá, uma coluna chilena de 2,3 mil homens enfrentou 4,5 mil peruanos e bolivianos e foi massacrada. Apesar disso, os peruanos não conseguiram manter a posição e recuaram para Arica, e as notícias causaram uma enorme turbulência política. 

Tropas do Exército do Chile com uniformes históricos, que remetem à Guerra do Pacífico.


Em 23 de dezembro, um golpe de estado depôs o presidente peruano, Mariano Ignazio Prado, e o boliviano Hilárion Daza fugiu para a Europa no dia 27. Em 26 de fevereiro de 1880, os chilenos invadiram Ilo, isolando as tropas de reforços via Peru. Em 26 de maio, na Batalha de Tacna, destruíram a maioria do que restava do exército, fazendo com que a Bolívia se retirasse do conflito. Em 7 de junho, liquidavam a fatura na Batalha de Arica, em que 5 mil chilenos venceram 1 903 peruanos, deixando o inimigo sem exército.

Em 23 de outubro, numa conferência mediada pelos americanos no navio USS Lackawanna, em Arica, tentou-se uma solução de paz sem resultados. Os chilenos decidiram ir até o fim. Em 17 de janeiro, 23 mil militares chilenos invadiam a cidade de Lima, defendida por 18 mil civis recrutados às pressas e por sobreviventes do exército. A cidade foi saqueada, as mulheres, estupradas, e mesmo a Biblioteca Nacional teve seu conteúdo transferido para o Chile - 3 778 livros, só devolvidos em 2007.


Paz ressentida

Aos peruanos, restou fazer uma campanha de guerrilha e revolta civil até 1883, quando o Tratado de Ancón encerrou as hostilidades. A Bolívia assinou uma trégua em 1884, e um tratado definitivo de "amizade", cedendo todo seu litoral, em 1904, em troca de livre acesso ao porto de Arica e a construção de uma ferrovia ligando-a à capital, La Paz.

O boom do guano durou pouco: no início do século 20, os alemães criaram formas sintéticas de nitrato e a região perdeu interesse comercial. Mas o Chile aproveitou: "Antes de o nitrato de potássio ser produzido sinteticamente, o Chile já havia explorado fontes naturais de nitratos por muitos anos, à custa das regiões ocupadas da Bolívia e do Peru", afirma o historiador Cesar Augusto Barcellos Guazzelli, da UFRGS. Em 1929, quando os bolsões de guano não tinham mais valor comercial, a região de Tacna, no extremo norte, foi devolvida ao Peru. Na década seguinte, o cobre seria descoberto na região. Hoje, o Peru é o segundo maior produtor do mundo, atrás do Chile. Talvez por isso o ressentimento lá sejam um pouco menor que na Bolívia.


Todo mundo levou um naco

Os bolivianos nunca se esqueceram. Depois da guerra, perderam ainda territórios para o Brasil - o Acre, em 1903 - e para o Paraguai - a região do Chaco, em 1935, após outra guerra tola e sangrenta -, além de outros nacos para Chile e Argentina. A soma é cruel: em 1825, a Bolívia tinha 2,36 milhões de km2. Hoje sua área é pouco maior que 1 milhão de km2. Ou seja, o país perdeu mais da metade de suas terras. Essas regiões ainda aparecem nos discursos nacionalistas, mas o litoral é o topo das prioridades. Por todo o país, há murais e estátuas apontando para o mar, ilustrando os massacres da guerra, pedindo a devolução. 

De 2002 a 2005, esse sentimento voltou a aflorar na "Guerra do Gás", uma série de protestos e greves iniciada pela proposta de exportar gás natural através de uma linha até o Chile, em que sentimentos antichilenos se misturaram a anticapitalistas e antiamericanos. Evo Morales, que vinha de uma carreira em defesa dos plantadores de coca, liderou protestos pela nacionalização do gás e acabou eleito presidente, em 2005, fazendo reformas que incluíram uma nova Constituição.

A atual Constituição boliviana anuncia com todas as letras que "o Estado boliviano declara seu direito irrenunciável ao território que dá acesso ao oceano Pacífico e seu espaço marítimo", a seguir toma o cuidado de acrescentar que isso se dará por "vias pacíficas".

O Chile considera isso um entrave à retomada das relações diplomáticas dos países, paradas desde 1978. É fácil entender por quê: os departamentos ao norte do Chile têm a maior renda per capita e Índice de Desenvolvimento Humano do país graças ao cobre, e o metal responde por metade das exportações chilenas. "Além de uma questão de soberania nacional, isto faria da Bolívia um país competidor com o Chile pelo mercado aberto pelo Pacífico, o que é impensável nos termos atuais da economia latino-americana. Controlando as exportações que passam pelo seu país, os chilenos precisariam de compensações econômicas de vulto para ceder tais direitos", afirma Guazzelli. Os tempos mudam, mas nem tanto.

O caso está no Tribunal de Haia desde 2013. A Bolívia está confiante na vitória. 


Saiba mais

- FARAU, Bruce. The Ten Cents War: Chile, Peru, and Bolivia in the War of the Pacific, 1879-1884. Greenwood Publishing Group, 2000.

- SATER, William. Andean Tragedy: Fighting the War of the Pacific, 1879-1884. University of Nebraska Press, 2007

Fonte: Aventuras na História


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

A BATALHA DA ILHA DE VALCOUR (1776)

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A Batalha Naval da ilha de Valcour teve lugar em 11 de outubro de 1776, no Lago Champlain. A ação principal ocorreu na Baía de Valcour, um estreito entre a ilha de Nova York e a ilha de Valcour. 


A batalha foi uma das primeiras batalhas navais da Guerra de Independência dos EUA e uma das primeiras travadas pela Marinha dos Estados Unidos. Diversos navios da frota americana, sob o comando de Benedict Arnold, foram capturados ou destruídos por uma força britânica sob o comando geral do general Sir Guy Carleton. No entanto, a defesa norte-americana do Lago Champlain deteve os planos britânicos em seus planos para chegar ao vale do Rio Hudson.

Benedict Arnold comandou a frota norte-americana durante a batalha


O comandante britânico Sir Guy Carleton

O Exército Continental tinha se retirado de Quebec para os fortes Ticonderoga e Crown Point em junho de 1776, após as forças britânicas terem sido maciçamente reforçadas. Eles passaram o verão de 1776 fortalecendo essas posições e construindo navios adicionais para aumentar a pequena frota americana já existente no lago. 

O general Carleton possuía um exército de 9.000 homens em Forte Saint-Jean, mas precisava construir uma frota para levá-lo para o lago. Os americanos, durante a sua retirada, tinham capturado ou destruído a maioria dos navios britânicos no lago. No início de outubro, a frota britânica, que era significativamente mais fraca do que a frota americana, estava pronta para o lançamento.

Em 11 de outubro, Arnold atraiu a frota britânica para uma posição que ele tinha escolhido cuidadosamente para limitar suas vantagens. Na batalha que se seguiu, muitos dos navios americanos foram danificados ou destruídos. Naquela noite, Arnold esgueirou a frota americana para além dos britânicos, iniciando uma retirada em direção a Crown Point e Ticonderoga. O clima desfavorável impediu o recuo americano, e boa parte da frota foi capturada ou incendiada antes que pudesse chegar a Crown Point. Ao chegar na localidade, Arnold verificou que os fortes haviam sido queimados, e se retirou para Ticonderoga.

Mapa mostrando o posicionamento da frota americana ao lado da ilha Valcour

A frota britânica incluía quatro oficiais que mais tarde se tornaram almirantes na Marinha Real: Thomas Pringle, James Dacres, Edward Pellew e John Schank.  A Baía de Valcour, o local da batalha, é hoje um Marco Histórico Nacional dos EUA, preservado pelo governo.

O Forte Ticonderoga preservado


segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

SISTEMA DE MÍSSEIS AAe BUK - UM PRODUTO DA GUERRA FRIA



Por Ignácio Cobo

O sistema Buk é um produto clássico do final da Guerra Fria, época em que se pensava em um conflito em larga escala entre blocos antagônicos. Nesse contexto, a artilharia antiaérea era o principal elemento para deter a primeira ofensiva dos aviões inimigos.

Em funcionamento desde 1979, o sistema Buk disseminou-se amplamente nos países satélites da Rússia e afins, como Índia, Síria e, naturalmente, Ucrânia. A experiência das guerras árabe-israelenses e a certeza de que um conflito na Europa teria grande mobilidade levaram os criadores do projeto a concluir que o sistema deveria ser autopropulsado e possuir um radar próprio que o tornasse independentemente de qualquer estação fixa. A solução foi colocá-lo sobre um veículo de esteiras, em um lançador com quatro mísseis associados a um radar monopulso, cuja função era guiar o projétil até o alvo.

Cada veículo precisava ser autônomo no momento do disparo, embora o normal fosse agruparem-se em baterias. Cada bateria incluía um posto de comando a partir do qual se controlavam os disparos dos diversos lançadores, um radar de aquisição para localizar alvos a grande distância e vários veículos de abastecimento de armas.

A partir desse modelo básico, que a OTAN apelidou de Gadfly (“Moscão”), foram desenvolvidas várias versões posteriores, algumas com um radar adicional de onda contínua para melhorar a detecção de aeronaves em voo de baixa altitude. Com um alcance de até 32 quilômetros de profundidade e 22 quilômetros de altitude, o sistema Buk se tornou a espinha dorsal da defesa antiaérea de muitos países.

Evidentemente, o manuseio de um sistema tão sofisticado requer pessoal altamente qualificado. Sejam recrutas ou reservistas que tenham prestado o serviço militar em unidades antiaéreas, os operadores devem ser profissionais treinados, dotados de uma visão muito clara do que está voando lá em cima. Com isso, seria quase impossível confundir um avião civil com um de combate.

Um míssil AAe Buk foi o responsável pela derrubada do voo MH-17 da Malaysia Airlines em 2014


Como elemento adicional, a exemplo do que ocorre na maioria dos sistemas antiaéreos modernos, o Buk possui seu próprio sistema de identificação “amigo ou inimigo” (IFF na sigla em inglês), imprescindível para saber que aeronaves estão circulando. Um radar secundário interroga o avião eletronicamente para perguntar “quem está voando”. O avião, seja comercial ou não, responde automaticamente a este sinal. Se, por algum motivo, não houver resposta, os operadores sabem que não é amigo, mas não podem confirmar que seja inimigo. Nesses casos, assim como quando o IFF não funciona, é preciso aplicar as regras de enfrentamento que definem claramente que não se pode derrubar uma aeronave não identificada como inimiga, exceto para autodefesa.

Fazer isso constitui uma ação criminosa que nenhuma eventual vantagem tática justifica. Dizer que o voo MH-17 da Malaysia Airlines foi confundido com uma aeronave militar não é desculpa. Os operadores deveriam saber.

Fonte: El País

sábado, 4 de janeiro de 2020

A BATALHA DA ILHA DE TRINDADE

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 Nos primeiros dias da 1ª Guerra Mundial, um inusitado combate naval entre dois navios de passageiros convertidos em cruzadores auxiliares ocorreu em águas brasileiras.


Mesmo tendo o governo brasileiro ter declarado o país neutro, a guerra continuava a rondar as águas brasileiras, quando ocorreu um inusitado combate naval entre dois navios de passageiros de linha convertidos em cruzadores auxiliares.

Após três semanas protegendo navios-carvoeiros, a canhoneira alemã Eber recebeu ordens para unir-se ao grande navio de passageiros Cap Trafalgar, para o qual deveria transferir seu armamento e a maior parte de sua tripulação, a fim de transformá-lo em incursor de superfície. O encontro entre os dois navios deu-se no dia 31 de agosto de 1914, junto à Ilha de Trindade, em águas territoriais brasileiras. No dia 10 de setembro, completada a transferência dos canhões e do pessoal, agora arvorando em seu mastro uma bandeira de navio mercante e guarnecida por apenas trinta homens, a Eber partiu desarmada em direção à Bahia, e chegou a Salvador quatro dias depois, exatamente na mesma data em que o cruzador auxiliar britânico HMS Carmania afundou o SMS Cap Trafalgar em Trindade.

O novíssimo navio de passageiros alemão Cap Trafalgar foi convertido para atuar como cruzador auxiliar
 
O paquete a vapor Cap Trafalgar era um novíssimo navio de transporte de passageiros, com menos de um ano de uso, que deslocava 18.170 toneladas e possuía 187 metros de comprimento. Aproveitando sua modernidade e bom desempenho em alto-mar, a Marinha Imperial alemã resolveu transformá-lo em cruzador auxiliar para empreender a guerra de corso no Atlântico Sul, atuando em conjunto com os cruzadores SMS Karlsruhe e SMS Dresden.

A trajetória do corsário SMS Cap Trafalgar, no entanto, foi curta e desafortunada. Depois de a canhoneira Eber transferir seu armamento e partir para a Bahia, na manhã de 14 de setembro o Cap Trafalgar estava sendo abastecido pelo navio-carvoeiro Eleonore Woermann, ainda na ilha de Trindade, quando foi surpreendido pelo cruzador auxiliar HMS Carmania, também um navio de passageiros convertido.

O RMS Carmania, pertencente à companhia Cunard Line, afundou o Cap Trafalgar ao largo da ilha de Trindade
 
Após breve perseguição, na qual embarcação alemã tentou se colocar fora do alcance do Carmania, os canhões dos dois navios abriram fogo, dando início a um tenso duelo que durou cerca de duas horas. Como os canhões britânicos possuíam maior alcance e eram servidos por uma central de tiro mais moderna, o Cap Trafalgar foi duramente atingido e começou a adernar. Quando atingiu a inclinação de 30º, o comandante alemão, capitão de corveta Julius Wirth, ordenou o abandono do navio, que não demorou muito para afundar.

O jornal alemão Die Grüne Post, em edição de 1936, rememora a Batalha de Trindade

A vitória não foi sem custo para os britânicos: o Carmania recebeu 73 impactos diretos das granadas dos canhões do Cap Trafalgar e, por muito pouco, também não afundou. Depois de ter um incêndio a bordo controlado, o Carmania precisou ser escoltado pelos cruzadores HMS Bristol e HMS Cornwall até o porto do Recife, onde sofreu reparos de emergência, antes de seguir viagem.

O Carmania recebeu 73 impactos diretos das granadas dos canhões do Cap Trafalgar e, por muito pouco, também não afundou.
Navios-carvoeiros alemães conseguiram resgatar do mar 279 marinheiros do Cap Trafalgar, muitos feridos com gravidade. A Batalha de Trindade, como ficou conhecido o episódio, resultou em 25 mortos, nove britânicos e dezesseis alemães, inclusive o capitão Wirth, que, em conformidade com as melhores tradições navais alemãs, preferiu ir ao fundo com seu navio. Posteriormente, os marinheiros alemães sobreviventes foram desembarcados em Montevidéu, no Uruguai.


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