terça-feira, 31 de janeiro de 2017

"ATÉ O ÚLTIMO HOMEM": SOLDADO RETRATADO EM FILME DE MEL GIBSON SE RECUSOU A MATAR INIMIGOS POR TEMOR A DEUS

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Personagem principal do novo filme de Mel Gibson, Desmond Doss teve um testemunho impactante de superação e desafios para conservar seus valores de fé, durante a Segunda Guerra Mundial.


Quando Mel Gibson revelou que novo filme seria um drama sobre a Segunda Guerra Mundial e o primeiro homem a contrariar as 'regras de guerra', se recusando a pegar em armas, o ator e diretor teve cinco palavras para descrever o soldado da história: 'heróis reais não vestem Spandex' — fazendo referência ao tecido comumente utilizado para a fabricação das roupas super heróis dos quadrinhos.

O filme "Hacksaw Ridge" (no Brasil, "Até o último homem") conta a verdadeira história de Desmond Doss, um rapaz adventista que se alistou no exército durante a Segunda Guerra Mundial, determinado a salvar vidas na linha de frente como um médico, mas se recusou a carregar uma arma consigo, porque dizia que sua fé não permitia atirar em alguém.

Doss, que morreu em 2006, foi condecorado com a Medalha de Honra do Congresso pelo presidente Harry Truman em 1945, após salvar sozinho a vida de mais de 75 de seus companheiros, durante a batalha de Okinawa (Japão).

O presidente Harry Trumman condecora Doss com a Medalha de Honra do Congresso


Durante a batalha, seu batalhão foi atacado no topo de um penhasco de mais de 120 metros de altura — local que acabou dando nome ao filme 'Hacksaw Ridge' ('Cume de Hacksaw').  Os soldados norte-americanos escalaram a montanha, mas foram recebidos com lança-chamas e tiros de metralhadora dos japoneses.  Enquanto outros recuavam, Doss — um socorrista interpretado por Andrew Garfield no filme — recusou-se a procurar abrigo e passou a cuidar dos feridos feridos. Ele levou os homens, um por um, à beira do precipício e os desceu baixo, usando uma maca que ele mesmo improvisou.

Doss, um membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, cresceu em Lynchburg, Virginia. Quando ele era criança, seu pai comprou um poster emoldurado dos 'Dez Mandamentos' e uma dessas ordenanças falava forte ao coração do garoto: "Não matarás".  "Eu me perguntava: 'como no mundo, poderia um irmão fazer uma coisa dessas?'. A ideia de matar alguém simplesmente imprime um horror no meu coração. Como resultado eu levei isso para o lado pessoal, como se Deus me dissesse: 'Desmond, se você me ama, você não vai matar ninguém", disse Doss certa vez a Larry Smith, durante o documentário 'Beyond Glory', que contava a história de soldados que ganharam medalhas de honra.

Desmond Doss cresceu em uma cidade pequena, na borda das montanhas de Blue Ridge, na Virgínia (EUA), onde ele acabou vendo seu pai bêbado abusar de sua mãe.

O filme 'Hacksaw Ridge' mostra um incidente de sua infância, no qual Doss entrou em uma briga com seu irmão e acertou a cabeça do garoto com com um tijolo. O acontecimento deixou Desmond muito arrependido. Logo depois, Doss tornou-se um pacifista e passou a se interessar cada vez pela medicina, embora não tivesse condições financeiras para bancar os estudos em uma faculdade.

Em abril de 1942, Doss estava com 23 anos e trabalhava em um estaleiro, quando foi chamado para o exército. Ele teve o direito de tornar-se um 'objetor de consciência', depois de ter se recusado a portar armas, devido a seus princípios de fé. Em seguida, ele se alistou no exército como médico.  Ele escolheu se tornar um socorrista, com o objetivo de seguir o sexto e o quarto mandamentos: honrar o sábado.  Apesar dos adventistas do sétimo dia considerarem a importância de guardar o sábado, Doss acreditava que não haveria problemas em servir como socorrista sete dias por semana, alegando que "Cristo curou no sábado".

Desmond Doss com suas condecorações


"Eu senti que era uma honra servir a Deus e ao meu país", disse ele ao Richmond Times-Dispatch, em 1998. "Eu não queria ser conhecido como alguém que violou as regras do exército, mas tenho certeza que não sabia exatamente no que eu estava entrando".

Pouco antes de entrar efetivamente para o serviço militar em agosto de 1942, Doss se casou com sua namorada, Dorothy, uma enfermeira. 

Doss enfrentou o preconceito dos outros soldados, devido à sua devoção à oração, sua recusa em pegar em armas e comer carne, além do respeito que tinha com relação ao sábado. Certo dia, de acordo com o New York Times, um oficial tentou classificá-lo como um portador de doença mental.  O pacifismo de Doss o levou a ser ameaçado por uma corte marcial, mas o problema foi resolvido e ele foi para a guerra.

Já na batalha de Okinawa, na primavera de 1945, foi durante um sábado, 5 de maio, que Doss e seus companheiros de tropa viveram os momentos de tensão, escalando o cume de Hacksaw. Ele conseguiu descer os soldados feridos do penhasco usando um tipo de maca improvisada, apoiada por uma corda que ele havia, com nós que havia aprendido a dar quando era criança e brincava de marinheiro. Depois de descer cada homem ferido, Doss desceu da montanha ileso.  Acredita-se que Desmond tenha salvo mais de 75 soldados, porém ele mesmo corrigiu este número, baixando esta conta para aproximadamente 50 homens. 

Pouco mais de duas semanas depois, em 21 de Maio, Doss foi ferido nas pernas por uma explosão de granada, durante um ataque noturno, enquanto permanecia em território exposto, ajudando outros soldados. De acordo com informações passadas na citação de sua Medalha de Honra, ele cuidou de seus próprios ferimentos, em vez de pedir a ajuda de um outro soldado.  Doss esperou por cinco horas, até que dois de seus companheiros conseguiram alcançá-lo para levá-lo a um local seguro.

Doss e os homens que o levavam foram depois capturados em um ataque inimigo. Quando Doss viu um homem mais gravemente ferido nas proximidades, se arrastou em direção à maca daquele soldado para ajudar a tratar dos ferimentos de seu colega. Mas, enquanto esperava que os carregadores da maca voltassem, Doss foi atingido novamente e fraturou o braço. Ele improvisou uma tala e se arrastou por cerca de 275 metros até um posto de socorro.

Em 12 de outubro de 1945, o presidente Harry Truman condecorou Doss com a Medalha de Honra por suas ações em Okinawa. "Através de sua coragem excepcional e determinação inabalável diante das condições desesperadamente perigosas, Doss salvou a vida de muitos soldados", dizia o texto da Medalha de Honra. "Seu nome tornou-se um símbolo de toda a 77ª Divisão de Infantaria pela bravura excepcional, muito acima e além do que o dever chama".

Desmond Doss com sua esposa Dorothy


Nos cinco anos seguintes, Doss teve que passar por diversos hospitais para tratar seus ferimentos, e também acabou perdendo um pulmão, devido à tuberculose.

Por causa de suas doenças, Desmond não conseguiu encontrar um trabalho estável e acabou se dedicando à vida ministerial. Trabalhou com jovens em programas patrocinados pela igreja nos estados da Geórgia e do Alabama. Na década de 1950, Doss e sua esposa Dorothy se mudaram para a cidade de Lookout Mountain, a noroeste da Geórgia, onde construíram uma casa e criaram seu filho, Desmond Jr, de acordo com registros da Biblioteca da Virgínia.

Dorothy morreu em um acidente de carro, em 1991 e Doss casou-se com Frances May Duman, uma viúva com três filhos adultos, em 1993. Doss morreu, aos 86 anos, em março de 2006, em razão de uma grave doença respiratória. Ele foi enterrado no cemitério nacional de Chattanooga, no Tennessee (EUA).



Garfield — o ator que interpreta Doss no novo filme — ficou famoso anteriormente por fazer o papel do herói dos quadrinhos, Homem Aranha. Porém o astro de Hollywood não escondeu a satisfação em ter atuado no papel mais recente e afirmou que o soldado cristão foi muito mais inspirador do que o herói mutante.

"Ele tinha uma sabedoria em seu coração, entendendo que ele não deveria tirar a vida de um homem, mas queria servir a algo maior do que ele e encontrou sua própria forma de fazer isso", acrescentou.

"Hacksaw Ridge" foi lançado nos cinemas dos EUA no dia 4 de novembro. A pré-estreia no Festival de Veneza terminou com aplausos que duraram cerca de 10 minutos.

Fonte: Portal guiame.com.br


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

IMAGEM DO DIA - 30/1/2017

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Durante a guerra de 1866, a infantaria prussiana investe contra uma bateria de canhões austríaca

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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

UMA ARMA UNIFORME CONTRA OS INIMIGOS

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Muitos consideram que a história do uniforme militar na Rússia teve início com o czar Pedro I, o Grande. No entanto, em busca de maior unidade e eficiência, tropas russas do século 16 já contavam com soldados uniformizados.

Por Aleksandr Verchínin


O uniforme militar não tem como objetivo servir à moda. É claro que o soldado deve ter um aspecto impecável, mas também não deve se destacar por sua aparência – aqui a moda se sujeita a leis diferentes das da vida social. Como um elemento integrante do Exército regular, o uniforme disciplina, cria um elo especial entre os soldados e, em última instância, introduz um sistema especial de diferenciação.

Na Idade Média não existia a noção de vestimenta militar uniformizada. Todo mundo vestia o que calhava. Quanto mais de destacava a armadura do cavaleiro, maior era o seu status. Já o soldado moderno, ganha não por suas qualidades individuais, mas como parte de uma formação militar – justamente a união que o uniforme simboliza.

Na Rússia, muitos consideram que a história do uniforme militar nacional teve início com Pedro I, o que não é exatamente verdade. Os padrões elaborados para a vestimenta de todos os soldados do Exército apareceram somente no início do século XVIII. Porém, eles foram introduzidos em solo já preparado.

Até o século XVII, o Exército russo, assim como a maioria das forças europeias, não tinha um padrão único para vestes militares. A espinha dorsal dos exércitos da época tinha a seguinte configuração: milícia nobre montada.

O pomeschik (senhor feudal na Rússia) recebia um lote de terra do Estado e, com a renda dela, tinha que se armar e participar de campanhas militares. Ele tinha que cumprir a norma em “termos equinos, humanos e bélicos”. Assim, equipavam-se dentro de suas possibilidades e do modo que considerasse aceitável.

É evidente que não se pensava aqui em nenhuma uniformização da roupa militar: os coloridos caftans russos (casaco até os joelhos abotoado pela frente) eram vistos junto a roupas de couro tártaras e armaduras polonesas obtidas como troféu de guerra. Esse tipo exército apresentava baixo desempenho em combate.


Moda streltsi

Em meados do século XVI, Ivan, o Terrível, decidiu formar as primeiras forças armadas regulares da Rússia. Surgiriam, então, os regimentos de streltsi (“flecheiros”), que contavam com 3.000 homens. Eles combatiam com um novo tipo de arma, os mosquetes manuais, vivem em quartéis nos arredores de Moscou, passaram a receber uma quantia regular e ganharam uniformes: um caftan com um corte específico e sem cor definida nos primeiros tempos. Registros de época revelaram a existência de caftans vermelhos, amarelo e azuis.

Streltsi russos


Com a aproximação da virada do século, a cor também foi uniformizada. Em 1606, um observador estrangeiro descreveu o regimento de infantaria de streltsi “com caftans de lã vermelhos e uma faixa branca no peito”. Nessa época, já havia um destacamento de streltsi montados, porém igualmente vestidos.

No início do século XVII, surgiu um tipo único de uniforme militar entre os streltsi russos e que se manteve inalterado até Pedro I. Era basicamente composto por um caftan longo abotoado da direita para a esquerda. O número de casas da abotoadura variava dependendo do regimento, e as dos oficiais eram feitas com fios de prata ou ouro. A cor do chapéu, botas e caftan também variava conforme o regimento.

Por cima do caftan era usado um zipun (tipo de casaco) da mesma cor. Na cabeça vinha um gorro alto de pele, geralmente valiosa, e na parte da frente do uniforme exibiam toda uma variedade de emblemas em ouro ou moedas.

Os oficiais carregavam consigo um tipo especial de lança chamado protazan. Era pela cor da empunhadura da protazan que se distinguiam os diferentes títulos militares. Um elemento essencial do equipamento de soldados de baixo escalão era a faixa branca que passava por cima do ombro e que guardava cargas de pólvora e uma sacola para as balas.


Disputa de estilo

As primeiras representações de uniformes russos foram feitas por ilustradores estrangeiros em meados do século XVII. “Os caftans deles”, escreveu um austríaco ao serviço do Exército russo, “eram bastante vistosos: em um regimento eram confeccionados com lã verde clara, e em outra, verde escuro, abotoados no peito, segundo os costumes russos, com cordões de ouro”.

Soldado russo em 1720


Segundo a opinião pública, a primeira pessoa a introduzir um uniforme militar unificado para seus soldados foi o inglês Oliver Cromwell, em 1645. A moda teria então se espalhado 30 anos mais tarde por todo o continente a partir da França.

Poucas pessoas sabem que na época descrita pelo escritor Alexandre Dumas em seu romance “Os Três Mosqueteiros”, os guardas reais franceses ainda não usavam a sua famosa capa azul com a cruz. Na realidade, ela foi introduzida apenas 50 anos mais tarde, na década de 1670, quando Charles d'Artagnan, o protótipo real do herói de Dumas, já não estava mais vivo.

Por isso, é de se imaginar que o caftan dos streltsi russos esteja entre os primeiros tipos de uniformes militares na Europa – ou até mesmo seja o primeiro de todos.

Fonte: Gazeta Russa


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A VERDADE SOBRE A RESISTÊNCIA FRANCESA: NEM TÃO AMPLA E NEM TÃO FRANCESA

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O historiador Robert Gildea desmonta a versão oficial do que 
aconteceu na França durante a ocupação nazista



Por Guillermo Altares


O discurso nacional que a França construiu depois da Segunda Guerra Mundial é que o país foi libertado pela Resistência, com alguma ajuda dos aliados, e que “salvo um punhado de miseráveis”, nas palavras do general Charles de Gaulle, o resto dos cidadãos se comportou como verdadeiros patriotas. Nada mais distante da realidade. O professor britânico Robert Gildea desmonta essa imagem nacional, que já estava bastante fissurada, em seu novo livro, Combatientes en la Sombra (Combatentes na sombra, em tradução livre), que traça um minucioso retrato da ocupação no qual, mais que de Resistência Francesa, ele prefere falar de “resistência na França” pelo enorme número de estrangeiros que se juntaram à luta contra o nazismo.


A França foi derrotada e ocupada pela Alemanha. Quando foi libertada e unificada de novo, criou-se uma história única que afirma que todo o país alcançou a liberdade unido sob a liderança de De Gaulle e esse relato foi propagado por meio de medalhas, cerimônias, títulos”, explica Robert Gildea, professor de História Moderna do Worcester College da Universidade de Oxford, cujo livro será publicado nesta semana na Espanha pela Taurus, com tradução de Federico Corriente. Os esquecidos nessa história não foram apenas os espanhóis que fugiram do franquismo, mas também judeus da Polônia ou da Romênia, os comunistas e as mulheres, cujo trabalho como resistentes também foi subestimado.


O livro ainda não foi publicado na França – está previsto para o ano que vem –, mas recebeu excelentes críticas no ano passado no mundo anglo-saxão em veículos de comunicação como The Economist e The New York Review of Books, cuja resenha assinada pelo grande historiador de Vichy Robert O. Paxton se intitulava “A verdade sobre a Resistência”. Gildea, que publicou outros ensaios sobre a história da França nos quais estuda o mesmo período, reconhece que a imagem ideal da sociedade francesa já havia sido questionada em filmes como o documentário A Dor e a Piedade ou Lacombe Lucien, longa-metragem de Louis Malle, que teve como roteirista o escritor Patrick Modiano, que ganhou o prêmio Nobel. No entanto, seu estudo de 650 páginas, que usa tanto fontes documentais quanto entrevistas, é o mais completo escrito até agora do ponto de vista crítico sobre a Resistência durante a ocupação, entre 1940 e 1944. O enorme sucesso alcançado na França pelas seis temporadas da série Un Village Français (Um Vilarejo Francês) demonstra o quanto continua sendo um tema delicado e sempre atual.


Temos de estudar o que aconteceu na França no contexto da luta na Europa contra o nazismo, mas também do Holocausto e da Guerra Fria. Muita gente da Resistência combateu nas Brigadas Internacionais; são o que Arthur Koestler, que compartilhou cativeiro com eles, chamou de 'escória da Terra' num livro, gente que não tinha para onde ir. Muitos republicanos foram presos na França. O objetivo deles era acabar primeiro com os nazistas e depois com Franco, de fato, fizeram uma tentativa fracassada de invadir a Espanha em 1944. O relato simplista da libertação nacional francesa só fornece uma parte da história, não toda”, continua Gildea em uma conversa telefônica.


O papel dos comunistas também foi muito importante, especialmente durante a libertação de Paris. Durante muitos anos houve um confronto entre as duas versões, a gaullista e a comunista. Em 1944, os nazistas capturaram um grupo de resistência formado por comunistas e judeus da Europa de Leste e o usou como propaganda dizendo que eram 'criminosos estrangeiros', mas havia algo de verdade nisso”, afirma.


O livro de Gildea não estuda apenas os grandes movimentos históricos, mas está cheio de personagens como Jean-Pierre Vernant, um dos grandes helenistas franceses, que foi uma figura muito importante na Resistência, mas nunca quis se vangloriar disso. Quando a guerra terminou, durante a qual arriscou a vida muitas vezes, voltou para seus livros e seus clássicos. Também aparece Lew Goldenberg, filho de revolucionários russos de origem judaica próximos de Rosa Luxemburgo, que se negou a aceitar o armistício, ou Leon Landini, um jovem toscano que participou do descarrilamento de um trem alemão em outubro de 1942, quando tinha 16 anos.


E, naturalmente, estão os republicanos espanhóis, não apenas os membros de La Nueve, a mítica brigada que foi a primeira a entrar em Paris em agosto de 1944 e cujo papel foi silenciado durante anos – só em 2008 foram inauguradas placas mostrando o seu percurso. No livro aparecem combatentes como Vicente López Tovar, nascido em Madri em 1909, que passou a juventude em Buenos Aires, lutou na defesa de Madri e na Batalha do Ebro e, depois de fugir para a França, participou da organização do maquis. “A Guerra Civil tinha nos endurecido muito”, disse o próprio López Tovar a Gildea.


“Depois do desembarque na Normandia, em junho de 1944, houve uma guerra civil dentro da Segunda Guerra Mundial, não somente entre os resistentes e os nazistas, mas também com a milícia, a força paramilitar de Vichy”, diz o professor de Oxford. Em relação à ocultação do papel desempenhado pelas mulheres, Gildea explica que só foram contempladas com medalhas aquelas que participaram de ações militares, enquanto muitas mulheres trabalharam na organização da resistência, papel tão perigoso quanto o combate, mas nunca totalmente reconhecido. Tudo isso não significa que os franceses não tiveram nenhum papel, mas não foram os únicos heróis daquela guerra.



"O que esses espanhóis todos estão fazendo desfilando?"


A libertação de Toulouse, em 19 de agosto de 1944, foi coordenada pelas forças lideradas por Jean-Pierre Vernant, mas os republicanos tiveram um papel essencial. De fato, regiões como o Périgord ou cidades como Foix foram liberadas diretamente pelos espanhóis, coisa que não agradou muito De Gaulle. Gildea relata que o general visitou Toulouse muito rapidamente porque não queria perder nenhum pingo do controle sobre os territórios dos quais os nazistas estavam sendo expulsos. 

Os republicanos participaram do desfile da libertação com os capacetes dos soldados alemães pintados de azul. Quando De Gaulle viu isso, exclamou: “O que estão fazendo todos esses espanhóis desfilando com as Forças Francesas livres?”. É uma anedota que, para o historiador britânico, reflete a profunda mudança que estava acontecendo na narração da Resistência e na tomada do poder na França.


Fonte: El País

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

PARA CIA, NORDESTE ERA CRUCIAL PARA DEFENDER EUA DE ATAQUE SOVIÉTICO

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Após ocupar o Leste Europeu, os soviéticos agora avançam pelo Hemisfério Sul. As tropas comunistas invadem a Austrália, ocupam a África e de lá partem para a conquista do território de onde lançarão a ofensiva final contra os Estados Unidos: o Nordeste do Brasil.


Por João Fellet

O cenário hipotético é narrado em um relatório da CIA (agência de inteligência dos EUA) divulgado nesta semana, entre cerca de 800 mil documentos que vieram à tona após uma longo processo movido por defensores do livre acesso à informação.

Intitulado "O fortalecimento econômico-militar do Brasil: fator de importância central para a segurança dos EUA e do mundo democrático", o documento de 33 páginas destaca o papel que o Nordeste poderia ter em um eventual confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética na Guerra Fria.

Separada da costa africana por apenas 3 mil quilômetros, a região é descrita no relatório como sujeita a conflitos sociais e um "potencial centro de agitação e disseminação de ideais comunistas", mas considerada crucial para a defesa do Atlântico-Sul e dos Estados Unidos em caso de um ataque russo a partir da África.

Segundo a CIA, o Nordeste era tão importante para a segurança dos EUA quanto o Canadá e o Canal do Panamá, a conexão marítima entre o Atlântico e o Pacífico. A agência cita o general francês Lionel Max-Chassin, para quem uma hipotética ofensiva soviética contra os EUA incluiria ataques a partir do Ártico e da "faixa costeira entre Natal e a Bahia".

"Um segundo movimento, precedendo a invasão final, pode se voltar à conquista da zona de Cuba e do México, no sul, e da Terra Nova e Labrador, no norte. Só na última etapa uma ofensiva generalizada seria lançada contra o coração da força naval", diz o general.

Não é possível identificar a data do relatório, divulgado apenas parcialmente. Porém, eventos citados no texto indicam que ele foi elaborado na década de 1950, quando as duas potências se armavam para um possível conflito.

A Guerra Fria, como o período ficou conhecido, só se encerrou com o colapso da União Soviética, nos anos 1990.


Contrapropaganda e modernização

O documento defendia duas linhas de ação para aproximar Brasil e Estados Unidos e impedir a infiltração comunista em terras brasileiras.

No campo ideológico, a CIA sugeria a criação de um órgão de contrapropaganda para combater a influência soviética e a "eliminação ou neutralização" de grupos comunistas presentes em "todo o país e em diferentes esferas do governo".

Na economia, defendia sanar os problemas que impediam o desenvolvimento do Brasil e que poderiam facilitar a disseminação do comunismo no país, como o "atraso cultural", a pobreza e a "politização das massas por agentes comunistas".

Parnamirim Field, a grande base norte-americana em Natal


Entre as ações que a agência considerava essenciais estavam modernizar a agricultura brasileira, difundir a energia hidrelétrica e ampliar a produção de combustíveis fósseis.

Se recebesse o apoio militar devido, diz a CIA, o Brasil poderia assumir integralmente a defesa do Nordeste, do Atlântico-Sul e até participar de batalhas contra os soviéticos na Europa.

"Com uma população de cerca de 53 milhões de habitantes, o Brasil está em posição de mobilizar, num tempo razoável, entre 20 e 25 divisões de infantaria (de 400 e 500 mil homens), sem afetar muito sua economia interna", calculava o órgão.

Se, porém, os dois países não se aproximassem voluntariamente, o relatório diz que "isso obviamente levaria a uma intervenção dos EUA no território brasileiro em caso de um conflito com a Rússia".


Intervenções e Segunda Guerra

Os Estados Unidos passam a considerar o Brasil e a América Latina como parte de sua zona de segurança com a Doutrina Monroe, de 1823, que buscava restringir a ação de potências europeias nas Américas.

Outro passo foi dado em 1904 com o Corolário Roosevelt e a política do "Big Stick" (grande porrete, em português), com os quais os EUA passaram a justificar intervenções militares para preservar seus interesses na região.

Poupado de interferências mais agudas como as experimentadas por alguns vizinhos, o Brasil estreitou os laços com os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ao se unir aos Aliados contra Alemanha, Itália e Japão.

Soldados brasileiros são enviados à Itália, e o Brasil passa a abastecer a indústria bélica dos EUA com borracha e outras matérias-primas. No início dos anos 1940, Natal se torna a mais movimentada base aérea dos EUA no exterior, ponto de apoio para operações na Ásia, África e Europa.

A parceria deixou uma impressão tão boa nos EUA que, anos após o fim da guerra, a CIA defendeu repeti-la diante da ameaça soviética.

No fim do relatório, a agência afirma que Brasil e EUA "devem representar os últimos bastiões da liberdade, reafirmando a tradição histórica de aliados leais e sinceros".

"Acreditamos na sobrevivência das forças espirituais, do poder da fé e da doutrina cristã, e é por essa razão que nos devotamos a esta nova cruzada, que irá, certamente, confirmar uma vez mais o triunfo das forças da cultura e da civilização sobre as forças materialistas [soviéticas]", conclui o documento.

Fonte: BBC


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

IMAGEM DO DIA - 18/1/2017

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Durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), um terço espanhol prepara-se para a batalha. Podem ser observados os armamentos típicos do século XVII, como os mosquetes, os piques e o canhão.


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sábado, 14 de janeiro de 2017

1919: A "LENDA DA PUNHALADA PELAS COSTAS" FOMENTA O NAZISMO

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Em 18 de novembro de 1919, o marechal Paul von Hindenburg usa a teoria da "punhalada pelas costas" para se eximir da responsabilidade pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial.




Por Henrike Scheidsbach




A comissão parlamentar de inquérito investigava a questão das responsabilidades pela Primeira Guerra Mundial, que se encerrara um ano antes. Em seu depoimento em 18 de novembro de 1919, o marechal-de-campo Paul von Hindenburg defendia a teoria de que movimentos revolucionários da Alemanha teriam "apunhalado" o Exército pelas costas.


"Um general inglês disse, com razão: 'O Exército alemão foi apunhalado pelas costas'." Essa foi uma das frases usadas por Von Hindenburg ao tentar se eximir, diante do Parlamento, de qualquer responsabilidade pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra. Nascia ali a chamada "lenda da punhalada pelas costas" (em alemão, Dolchstosslegende), que anos mais tarde ajudaria os nazistas a tomar o poder.


O estopim do primeiro conflito mundial havia sido o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, por um nacionalista sérvio, em 28 de junho de 1914. Um mês depois, a Áustria declarou guerra à Sérvia.


No início de agosto, a Alemanha declarou guerra à Rússia e à França. A invasão da Bélgica pelos alemães, que não tinham outra forma de atingir a França, foi pretexto para a entrada da Grã-Bretanha na guerra, que envolveria ainda muitos outros países.


O plano alemão de cercar rapidamente o Exército francês fracassou. Já em outubro de 1914, a guerra na Europa Ocidental passou a ser tática, com pesadas perdas para todos e praticamente sem alteração nas frentes de batalha até 1918.

Paul von Hindenburg semeou a lenda


O abastecimento piorou a tal ponto na Alemanha que 260 mil civis morreram de fome em 1917. O anúncio alemão de contrabloqueio por submarinos provocou a entrada dos Estados Unidos no conflito.


Em março de 1918, a Alemanha ainda forçou a Rússia a assinar um acordo de paz no Leste Europeu; em agosto, praticamente capitulou diante dos aliados na frente ocidental. Segundo anotações de um comandante da região de Flandres, milhares de soldados alemães e divisões inteiras de tanques estavam virando cinza.



Fome tirou entusiasmo pela guerra


Para antecipar-se a uma vitória das tropas aliadas no ocidente, o comandante geral Erich Ludendorff pediu um cessar-fogo imediato. Na Alemanha, as mortes de civis famintos no inverno de 1917 quebrara o entusiasmo inicial pela guerra. Naquele ano, operários da indústria de armamentos entraram em greve em protesto contra a fome.


Em julho, os partidos democráticos formaram uma comissão interpartidária e exigiram do governo imperial – sem sucesso – uma "paz de entendimento, sem anexação forçada de territórios".


No início de novembro de 1918, em meio às negociações do cessar-fogo, marinheiros em Kiel impediram a partida da frota da Marinha para um combate e, com essa insubmissão, desencadearam uma reação em cadeia na Alemanha.


Na disputa pelo poder, as forças democráticas, comunistas e nacionalistas derrubaram a monarquia. Os democratas saíram vitoriosos e foram legitimados, mais tarde, pela Assembleia Nacional Constituinte. O antigo regime entregou à comissão interpartidária o governo e o pesado fardo de aceitar um acordo de paz desvantajoso, do ponto de vista da Alemanha.


Todos esses acontecimentos internos, que causaram a derrocada do antigo regime e o nascimento da democracia, serviram ao Comando Superior das Forças Armadas para desviar a atenção da própria culpa pela guerra.


O argumento de Von Hindenburg, de que as forças revolucionárias teriam desmoralizado e apunhalado o Exército pelas costas, foi propagado por militares e políticos monarquistas, através de jornais conservadores e de extrema direita, e ganhou um teor explosivo subestimado pelos democratas.


A população, inicialmente castigada pelas reparações de guerra pagas pela Alemanha, sofreu as consequências do desemprego e da inflação, sem ter um esclarecimento amplo dos verdadeiros motivos da guerra. Os nazistas aproveitaram essas circunstâncias para difamar a democracia e chegar ao poder com promessas de salvação.

Fonte: DW

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