segunda-feira, 26 de março de 2012

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – MARECHAL JOÃO JOSÉ DA CUNHA FIDIÉ




* Fins do século XVIII

+ 1856


João José da Cunha Fidié assentou praça como cadete no Exército Português, em Janeiro de 1809, no Regimento de Infantaria nº 10. Participou da Guerra Peninsular, tomando parte nas batalhas do Buçaco, Albuera, Vitória, Pirinéus, Nivelle, Nive, Orthez e Tolouse, assim como nos sítios de Olivença e Badajoz.

Ofereceu-se para embarcar na Divisão dos Voluntários de El-Rei que seguiu para Montevideu, na então Província Cisplatina, no Brasil, mas não foi admitido por ser tenente ainda moderno. Em 1817 embarcou para o Brasil uma Divisão Portuguesa e, como o seu regimento não havia sido nomeado para essa expedição, trocou com um oficial do Regimento de Infantaria nº 15, conseguindo assim partir para a América do Sul, onde serviu entre 1817 e 1818. Em seguida, serviu como ajudante de ordens do governador da ilha da Madeira, em 1819 e 1820.

A 9 de dezembro de 1821 foi nomeado como Governador das Armas da Província do Piauí. Em junho de 1822, com seus oficiais, partiu de Lisboa na charrua Gentil Americana, comandada pelo capitão-de-fragata Joaquim Manuel Mendes, chegando ao Piauí no dia 8 de agosto de 1822 e tomando posse no dia seguinte.

Em 13 de novembro de 1822, às 10h00min horas, o major João José da Cunha Fidié, Governador das Armas, com tropas de 1ª e 2ª Linha e o Batalhão de Infantaria da guarnição da capital partiu de Oeiras em marcha acelerada para sufocar o movimento de Independência proclamado na Vila São João da Parnaíba. No dia 18 de dezembro de 1822 entrou com sua tropa na Vila São João da Parnaíba, encontrando as ruas desertas tendo em vista que o povo se trancara em suas casas e ninguém ousou em sair para recebê-lo. Arrastando a artilharia e demais apetrechos de guerra percorreu as ruas desertas e mandou a tropa ficar perfilada em formação no Largo da Matriz com frente à Casa da Câmara para onde logo se dirigiu e dela exigiu a imediata renovação do juramente de fidelidade a D. João VI.

Tomando conhecimento da adesão de Oeiras ao movimento brasileiro e a proclamação em Campo Maior por Leonardo de Carvalho Castelo Branco, resolveu o major Fidié deixar a Vila São João da Parnaíba no dia 1º de março de 1823 e marchar sobre a capital piauiense. Antes de sair expulsou todo o povo da vila enquanto os marinheiros do brigue Infante D. Miguel saqueavam as alfaias e dinheiro das igrejas, as jóias, o cofre dos Órfãos e os livros do Senado da Câmara.

No dia 13 de março de 1823 o major João José da Cunha Fidié enfrentou as tropas brasileiras às margens do riacho Jenipapo, de onde saiu vitorioso. Atendendo a pedido do Senado da Câmara de Caxias, entra nessa vila a 17 de abril de 1823. De lá poderia refazer sua força militar e marchar sobre Oeiras. Em Caxias enfrenta tropas brasileiras, saindo-se novamente vitorioso, e lá permaneceu, fortificando-se no Monte Tabocas aguardando auxílio da capital maranhense e de Portugal.

Batalha do Jenipapo, da qual Fidié saiu-se vitorioso

Cercada novamente Caxias por tropas brasileiras, a população decide pela capitulação depois de uma reunião com o Senado da Câmara. Desgostoso com essa atitude Fidié demitiu-se do cargo e passou o comando ao tenente-coronel Luís Manoel de Mesquita. No dia 1º de agosto de 1823 o major João José da Cunha Fidié rendeu-se. Preso foi enviado oito meses depois entre uma escolta para Oeiras, sendo depois transferido para a Bahia e de lá passando ao Rio de Janeiro onde ficou encarcerado encarcerado na Fortaleza de São Francisco Xavier da Ilha de Villegagnon até que o Imperador Pedro I lhe concedeu a liberdade, permitindo que regressasse a Portugal.

Em 1825 foi nomeado primeiro comandante do Real Colégio Militar e, por vezes, durante a ausência do diretor, ficou encarregado da direção daquele estabelecimento até que, saindo de Lisboa, e apresentando-se no Porto ao duque de Bragança, foi por ele nomeado subdiretor do arsenal daquela cidade.

Regressando depois a Lisboa, foi diretor efetivo do Real Colégio Militar, cargo que exerceu de 1837 a 1848, ano em que obteve a sua exoneração. Reformou-se em 1854 no posto de tenente-general e faleceu dois anos mais tarde.

 
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sexta-feira, 16 de março de 2012

IMAGEM DO DIA - 16/03/2012

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Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, soldados paulistas da 2ª Divisão de Infantaria em Operações (2ª DIO) operando uma metralhadora Hotchkiss de 7mm


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JÚLIO CÉSAR CONQUISTA A GÁLIA

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Travando uma dura campanha militar que se estendeu por sete anos, Julio César, pró-consul romano da Gália Narbonense, entre 58 e 51 a.C., conseguiu submeter as 60 tribos celtas que habitavam as três partes da Gália original.

Desde então, cessada a resistência nativa ao redor do ano 50 a.C., teve início o lento processo de absorção dos derrotados pelos vencedores. Política que continuou se prolongando com sucesso pelo império de Otávio Augusto e de Tibério Cláudio.


O começo da conquista

Independentemente de César ser um homem ambicioso. Desejoso de fazer fama nos combates e nas aquisições territoriais fazia tempo que os romanos olhavam cobiçosamente para a Gália. Ainda que ela se apresentasse extremamente dividida (Bélgica, Aquitânia e Gália propriamente dita), com suas 60 tribos se desentendendo e sendo rivais, ela era uma ameaça permanente a fronteira norte da Itália. Além de possuir enorme riqueza agrícola e mineral, bem como prodigiosa criação de gado, tinha uma notável rede de rios navegáveis, tais como o Ródano, o Garona, o Loire, Mosele, Reno, Oise, Saône, Somme, Sena, etc., apresentava-se, pois, como uma questão de segurança.

Tanto assim que foi daquelas terras de onde partiu a maior ameaça que Roma sofreu em todos os tempos: a impressionante campanha de Aníbal Barca, o general cartaginês que por pouco não pôs fim à própria Roma, quando invadiu a Itália em 218 a.C.. Portanto, os estadistas romanos estavam sempre à espreita de uma oportunidade de rumarem com suas armas para o norte e colocar a Gália inteira sob sua tutela. César narrou no De Bello gallico (‘Comentários sobre a Guerra Gálica’, Livro I,) que foi atendendo ao chamado dos celtas que terminou por envolver-se na guerra.


Batalhas travadas durante a conquista da Gália


Entrou em ação a pedido dos galos-sequanos para neutralizar o chefe germano Ariovisto, que assolava a região, e, a partir de então, suas legiões não pararam mais de marchar e lutar até que todo o território celta ficasse submetido. Sua força núcleo compunha-se das legiões Claudia (VII legião), Augusta (VIII legião), Hispana (IX legião) e a Gemina (X Legião), num total de 24 mil combatentes, fora os 12 mil das tropas auxiliares. Seu objetivo era impedir por meio militar que o líder suevo implantasse, como era seu intento, uma Gália Germânica na parte setentrional da França de hoje, pois ela poderia servir como trampolim para futuras incursões dos bárbaros sobre a área controlada pelos romanos.

A guerra que os dois deram começo, em setembro do ano de 58 a.C., com a vitória espetacular de César nos Vosges (batalha de Ochsenfeld, para os alemães), nas proximidades de Mulhouse (hoje na Alsácia), foi a primeira de uma série travada entre romanos e germanos que se estendeu por séculos e que tinha como alvo o domínio da Gália, até quando os francos sálicos (vindos da Francônia alemã) a ocuparam definitivamente no século V, fundando a França moderna.

Nesta impressionante operação, agindo numa área imensa, quase duas vezes superior a da Itália, suas coortes combateram os helvécios, os germanos e, também, ao atravessar o canal da Mancha para invadir a Bretanha, no ano de 54 a.C., as tribos bretãs.  Depois de ter batido os germanos, teve a seu favor o fato dos celtas não possuírem um governo central. A Gália subdivida-se entre as tribos marítimas, as da Gália central e da Bélgica, mostrou-se incapaz de fazer uma frente comum contra o romano invasor.

A maior resistência à ocupação partiu do chefe Vercingetórix, bravo filho de Celtilo Arverno, que, conclamando as demais tribos gaulesas (senones, parísios, pictones, cadurcos, turonos, aulercos, lemovices, andes, etc.), lutou heroicamente contra o cerco romano em Alésia, até que viu-se constrangido à rendição no ano de 52 a.C., não suportando o sitio e a fome que as legiões lhe impuseram.


O chefe gaulês Vercingetórix depõe suas armas diante de um vitorioso Júlio César


A Gália Narbonense

César na sua conquista não partira da Itália e sim da Gália Narbonense, também conhecida como Gália Transalpina, região que desde 120-118 a.C. fazia parte do Império.

Aquela margem do Mar Mediterrâneo que ligava a Ligúria à Espanha, dos Alpes aos Pirineus, que os franceses hoje denominam genericamente como Languedoc - Roussinon - Provence, durante muito tempo foi hegemonizada pela cidade-estado de Marselha (fundada pelos gregos fócios em 600 a.C., sendo assim a cidade mais antiga da França), que matinha relações de amizade e dependência para com Roma. Todavia, razões geopolíticas fizeram com que os romanos, na esteira da última guerra púnica, a de 146 a.C., se decidissem por implantar uma colônia na região. Foi assim que nasceu a vila de Narbo Martius fundada pelo cônsul Aenobarbo Cneu Domitio que logo se lançou na construção de uma obra histórica.

O intento deles era não só fixar-se no sul da Gália – que passou a ser designada como Província Nostra, ou simplesmente Provence - como também abrir uma estrada da Itália alpina à Espanha pirenaica, rota que passou a se chamar de Via Domitia, cujos começos datam de 118 a.C.. Dali mesmo, de Narbone, outro longo caminho foi planejado, visando à ligação dos dois mares, o Mediterrâneo com o Atlântico, denominada de Via Aquitânia.


Guerreiros gauleses


Para proteger sua aliada Marselha das incursões bárbaras que a ameaçavam, o general Sextus Calvinus fundou Aquae Sextiae, no ano de 120 a.C., a 30 quilômetros de distancia ao norte dela, oppidum que veio a se tornar mais tarde na famosa Aix-en-Provence, agradável local de repouso e veraneio, prodigiosamente provido de águas quentes salutares.

Ali é que, em 102 a.C., poucos anos depois da sua fundação, se travou a lendária batalha de Aquae Sextiae entre o cônsul romano Caio Mario e os Kimber, teutões-cimbrios, que foram derrotados. Desastre que culminou no suicídio em massas de 300 mulheres germanas e seus filhos que não aceitaram ser escravizadas pelos vitoriosos. Esta batalha garantiu em definitivo a posse do espaço Narbonense pelos romanos, província que serviu como base e ponto de partida para o grande assalto ao país dos celtas ensejado por César meio século depois.


A política da ocupação

Octávio Augusto, tornado princep et imperator pelo Senado, no ano de 27 a.C., deu seguimento a política de César em integrar os gauleses ao projeto de domínio romano. Para os nobres celtas ele ofereceu posições de mando na administração e na magistratura, fazendo deles novos cidadãos do império com direito a pertencer ao cursus honorum, e para os jovens guerreiros gauleses, cheios de energia e vigor, abriu-lhes as portas do serviço militar, particularmente na arma da cavalaria.

Transformou a cidade de Ludgunun (Lyon) no centro da Gália federada, fazendo com que anualmente delegações de representantes tribais, presentes na Dieta, viessem prestar homenagens à pessoa do imperador, tornado culto sagrado. Estas reuniões podem ser consideradas como o embrião histórico da assembléia nacional francesa. Lentamente notou-se a alteração dos costumes, os ‘gauleses cabeludos’ deram lugar a uma população galo-romana que gradativamente foi sendo introduzida nos hábitos e costumes trazidos pelo invasor. Uma nova língua começou também a ser falada.

Ainda que rude e impreciso, foi na Provence que, desprendendo-se do latim vulgar, o provençal (ou occitano), pai do idioma francês, derivado da Língua Romana Rústica, conheceu seus primeiros avanços.  Administrativamente, a Gália foi divida em quatro partes: Aquitânia (com capital em Bordeaux), Belga (capital em Tréveris), Ludgunense (capital em Lyon) e Narbonense (com capital em Narbone), chamada mais tarde de Septimania. O antigo sistema cantonal dos celtas foi definitivamente substituído pelo municipia romano.

Todavia, coube ao imperador Tibério Cláudio, que nascera em Lyon, em 10 a.C., adotar uma política mais afirmativa no sentido de distribuir a cidadania romana ao número mais amplo possível de gauleses. Nada lhe parecia melhor para a proteção das fronteiras – talvez por sugestão do seu preceptor, o historiador Tito Lívio - do que a participação dos nativos, agora cada vez mais integrados e comprometidos na estabilidade do império.



Neste aspecto, foi importante a campanha romana contra a ilha da Bretanha, comandada pelo general Aulo Plaucio, em 43, visto que Claudio estimulou-a como um elemento fundamental para estreitar a confraternização militar entre romanos e gauleses, escolhendo os bretões como inimigo comum. Ao atrair a nobreza nativa (que adotou o tria nomina do cidadão romano) e interferir o mínimo possível nos usos e costumes locais (proibiu-se, todavia, os sacrifícios humanos), dando a maior autonomia possível aos municípios gauleses - só lhes extraindo impostos extraordinários em caso de emergência - Roma não conheceu mais atos de rebeldia na região.

Os governadores provinciais e seus agentes foram instruídos em servirem mais como árbitros dos conflitos entre as cidades federadas ou entre as tribos rivais e não como representantes de uma máquina repressora. E, claro, manterem os privilégios e regalias dos comerciantes romanos na área.

A romanização da Gália foi um dos mais bem sucedidos projetos de colonização almejados pelos Césares na ocupação da Europa Ocidental.



Fonte: Educaterra
 
 
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sexta-feira, 9 de março de 2012

O SACRIFÍCIO DA UMA LENDA




Nos primeiros movimentos da 2ª Guerra Mundial, a tradicional Cavalaria polonesa enfrentou os blindados alemães.  O resultado do enfrentamento selou o destino do cavalo no campo de batalha convencional.


A tradição da cavalaria polonesa sobreviveu a 125 anos de ocupação estrangeira, e, quando a nação finalmente tornou-se independente, em 11 de novembro de 1918, uma nova cavalaria polonesa surgiu. Meros 18 meses depois, seus sucessos já estavam sendo aclamados: em agosto de 1920 ela lançou um ataque surpresa contra a cavalaria vermelha do marechal Budenny, que tinha atingido os subúrbios de Varsóvia e estavam avançando em direção a Thorn. A intervenção da cavalaria salvou a Polônia.
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Valentes, mas mal organizadas

Havia 37 regimentos – em oposição a 90 regimentos de infantaria – um bom indicativo da importância dada ao cavalo e seu cavaleiro no Vístula, daquele ponto em diante. De fato, a cavalaria polonesa era um serviço estratégico totalmente autônomo.  Contudo, de forma paradoxal, não havia uma doutrina atualizada para gerenciar o uso de unidades de cavalaria, das quais havia tantas. A infantaria, por exemplo, ao invés de receber a missão de defender uma posição, era lançada em uma grande variedade de manobras móveis, apesar de não ser motorizada; enquanto isso, a cavalaria, altamente móvel, seria usada em tarefas de defesa, onde sua manobrabilidade superior era inútil.  O segundo erro grave era que a cavalaria não era organizada em grandes unidades – em divisões, por exemplo – que poderia dar a ela um significativo poder de combate. Pelo contrário, as brigadas existentes eram enfraquecidas pelo uso de destacamentos de regimentos inteiros para tarefas secundárias. Todas as onze brigadas de cavalaria estavam concentradas ao longo da fronteira com a Alemanha. O grosso da cavalaria polonesa, cerca de 70.000 cavaleiros, estava espalhado por todo a enorme frente e, em consequência, não podia assumir nem uma função estratégica nem um papel tático em 1939.  A única exceção era a Wolynska Brygada Kawalerii (Exército de Lodz).

O poder de fogo de um regimento de cavalaria era equivalente a de um batalhão de infantaria, mas a cavalaria não tinha morteiros. Em números, um regimento de cavalaria, quando desmontado, tinha a força de apenas duas companhias de infantaria. O serviço militar na cavalaria durava 23 meses. Os oficiais de cavalaria eram recrutados entre as classes latifundiárias.
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Soldado e oficial da Brigada de cavalaria Pomorska com uniforme de combate, 1939


Uma característica histórica sobrevivente da cavalaria polonesa era a lança – uma arma de choque consistindo de uma haste tubular metálica, com cerca de três metros de comprimento, com um fiel de couro, pesando cerca de 2,10 kg. Abaixo de sua afiada ponta de quatro gumes ficava uma pequena bandeirola, com cerca de 20 cm de largura e 50 de comprimento, com as cores regimentais. A lança não era usada como arma, mesmo em manobras, desde 1934, e, depois de abolida, só era carregada nos carroções da bagagem. De forma estranha, as tropas de cavalaria readotaram esta arma aparentemente obsoleta nos campos de batalha em 1939. Somando-se a ela, cada cavalariano tinha um fuzil, um sabre, uma baioneta, uma pequena ferramenta de sapa, máscara de gás, mochila, apetrechos de cozinha e um capacete de aço francês redondo (modelo Adrian). Oficiais e suboficiais podiam ser reconhecidos de soslaio por suas botas de montaria de corte elegante, que provaram ser uma forma clara de identificação para os atiradores de precisão alemães. As selas da cavalaria e da artilharia a cavalo, muitas vezes, datavam dos dias da velha monarquia.

A cavalaria polonesa foi a última força completa estratégica montada a manter sua forma original. E, com o fim da guerra germano-polonesa de 1939, veio o abandono de uma força que era diferente apenas em detalhes das unidades de cavalaria do século XIX. A profunda lealdade dos soldados a seus regimentos e as longas tradições regimentais tornavam a cavalaria a arma mais respeitada nas forças polonesas.
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Forte na teoria e fraco na prática
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O Exército Polonês não conseguiu equiparar-se a seus atacantes, seja em números ou em equipamento. O grosso da cavalaria polonesa – mais de 20.000 homens – estava disperso de forma convencional nos últimos dias de agosto, ao longo de todos os 1.500 km de extensão da fronteira entre a Polônia e a Alemanha. O exército polonês estava sob o comando do Marechal Edward Rydz-Smigly, com 55 anos, famoso por ser um excelente atirador.

Devido ao medo do início das hostilidades, os aliados ocidentais – França e Inglaterra – tinham pedido, e conseguido, que a Polônia não se mobilizasse, para não criar um casus belii com a Alemanha. Desta forma, somente em 30 de agosto (dois dias antes da invasão) é que as ordens de mobilização foram despachadas para os reservistas, o que fez com que todas as divisões e regimentos do exército polonês estivessem despreparados para a campanha – na verdade, sete das trinta divisões estavam ainda se reunindo no momento da invasão.

A isso se somava a falta de equipamentos moderno: apesar dos poloneses terem um número razoável de blindados (cerca de 700), esses eram de modelos obsoletos e mal armados (geralmente autometralhadoras TKS), incapazes de enfrentar até mesmo os mais fracos tanques alemães – que além disso, eram muito mais numerosos. O mesmo se repetia em todos os detalhes: faltavam armas anticarro, antiaéreas, veículos motorizados, etc. A pequena marinha polonesa, apesar de seus esforços, era totalmente inadequada para enfrentar o inimigo. Em menor escala, pode-se dizer o mesmo de sua força área: 500 aparelhos, a maior parte deles obsoletos quando comparados aos 1.600 aviões alemães.

Uniforme e equipamentos da cavalaria polonesa


O Exército Polonês estava disposto em seis exércitos e quatro “grupos”: o Grupo Narew e o Exército de Modlin, na fronteira com a Prússia Oriental e na fronteira com a Alemanha, de norte para sul, o Exército da Pomerânia, o de Poznan, o de Lodz e o de Cracóvia, com o exército dos Cárpatos na fronteira Eslovaca. A esses exércitos, somavam-se os grupos de Wyskow, Kutno, Prusy e Tarnow, em reserva. Cada uma dessas grandes unidades tinha uma ou duas brigadas de cavalaria. Não havia forças cobrindo a fronteira com a URSS – de fato, não havia forças a leste do Vístula, a não ser as que estavam cobrindo a fronteira com a Prússia Oriental.
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A primeira carga de cavalaria
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Ao iniciar a guerra, o exército polonês,  que teoricamente era uma força poderosa, tinha planos de atacar a Alemanha em caso de guerra. Por exemplo, a Brigada de Cavalaria Podolska, parte do Exército de Poznan, tinha como objetivo teórico o ataque a Berlim.

Entre as forças com funções de ataque, estava a Brigada de Cavalaria Pomorska (Pormoska Brygada Kawalalerii), do Exército de Pomorze (Pomerânia), estaciona-da no corredor polonês e formada pelo 16º Regimento de Ulhanos (tradicional cavalaria ligeira, lanceiros, da polônia) – “Wielkopolskich”, pelo 18º Regimento de Ulhanos “Pomorskich”, pelo 8º Regimento de Infantaria Montada, pelo 11º Regimento de Artilharia Montada e pelo 2º Batalhão de Infantaria Ligeira. Esta tinha força tinha ordens de dar um golpe de mão contra a cidade livre de Dantzig. Contudo, a rapidez da invasão alemã impediria qualquer ação ofensiva.

Ao meio dia de 1º de setembro, no assim chamado Corredor Polonês, a 20ª Divisão Panzergrenadier alemã estava no seu caminho para o oriente, em direção a Chojmice.  Por volta de 2 da tarde, havia um forte combate entre a vanguarda da divisão e o 18º Regimento de Ulhanos poloneses, da Brigada de Cavalaria “Pomorska”, ao longo da linha férrea entre Chojmice e Naklo. Os ulhanos receberem ordem de contra-atacar, para permitir que sua própria infantaria pudesse recuar. No bosques próximos à vila de Krojanty, os cavaleiros se organizaram em ordem aberta. Foi no final da tarde quando o 1º Esquadrão do 18º Regimento de Ulhanos apareceu no flanco das colunas alemãs. Quando o ajudante do regimento, Capitão Godlewski, ouviu a ordem para atacar, ele perguntou se não seria melhor a cavalaria desmontar antes de atacar. “Jovem”, disse o comandante do regimento, Coronel Mastalerz, “sei bem o que é obedecer uma ordem impossível de ser cumprida”.

Por volta das 17:00, o major Malecki levantou seu sabre e, com este sinal, a cavalaria lançou seu assalto – a primeira carga de cavalaria da 2ª Guerra Mundial.

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A Cavalaria polonesa carregando


Mesmo antes de deixar o bosque, eles começaram a sofrer o fogo de metralhadoras da vanguarda alemã.  A cadeia de cavaleiros colocou seus cavalos a trote, então a galope – movendo-se rapidamente para frente e para longe do campo aberto, com sua pouca cobertura. Bem curvados sobre os pescoços de seus cavalos, carregaram com seus pesados sabres de cavalaria mantidos retos a frente. Os primeiros mortos e feridos caíram de seus cavalos. A despeito disto, o ímpeto da carga cresceu, mais ainda quando o 2º Esquadrão juntou-se ao ataque.  Uma ampla onda de cavalaria, composta de cerca de 250 homens, rompeu pelo campo aberto, sabres brilhando ao sol; a infantaria alemã, pega de surpresa, tentou salvar-se recuando.  De repente, pela curva da rodovia, uma longa coluna de tanques e tropas motorizadas apareceu.  Inicialmente, no calor da refrega, ela passou despercebida pelos ulhanos. Os poloneses foram então atingidos por uma chuva de fogo partindo dos carros blindados e, antes que fossem capazes de fazer a volta com seus cavalos, a carnificina começou. Cavalos tombavam, enquanto outros disparavam, puxando seus cavaleiros pelos estribos com eles. Figuras em uniformes cáqui caiam de suas selas.  Um baixo toque de clarim foi ouvido, acompanhando os gemidos de angústia dos feridos. Aqui e ali, grupos isolados de cavaleiros voavam pelo campo, e montes escuros estavam caídos ao longo da estrada. Montarias sem cavaleiros corriam pelos campos, seus estribos balançando soltos e suas rédeas abananado. O capitão Swiesciak, que tinha liderado a carga, caiu ao solo com seu cavalo, e o comandante regimental, coronel Mastalerz, foi morto enquanto corria para ajudá-lo com alguns ulhanos. No espaço de alguns momentos, metade dos ulhanos tinha sido atingida.

Com esta carga de cavalaria em Krojanty, em 1º de setembro de 1939, nasceu a lenda da cavalaria polonesa, armada só com sabres, desafiando os panzers alemães. Mas, na verdade, deve ser dito que os ulhanos poloneses não buscavam o suicídio, nem que era um movimento deliberado da parte deles lançar um ataque direto contra tanques. Mais tarde na guerra, é desnecessário dizer, houve vários outros ataques feitos contra a infantaria alemã, que levaram os alemães a chamarem o apoio de tanques; e ainda mais, houve alguns casos da cavalaria polonesa ter sido atacada por tanques. Mas para os ulhanos em Krojanty, a única chance de sobrevivência era tentar uma manobra arriscada, tão rápido quanto possível, de forma a passarem pela coluna inimiga. Não esperavam que a coluna blindada alemã aparecesse no campo de batalha e quando ela o fez, foram totalmente surpreendidos. De agora em diante, as forças de cavalaria polonesas tinham encontrado um oponente capaz de derrotá-la.
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Derrota.

Pouco depois deste primeiro embate, surgia o ponto de inflexão de toda a campanha. Em 3 de setembro, o terceiro dia da invasão da Polônia, o Marechal Rydz-Smigly, escreveu: “todo a frente polonesa entrou em colapso e não há outra alternativa a não ser retirar-se imediatamente para trás do Vistula, se isso for possível”.
O fim era só questão de dias.

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Soldados alemães observam cadáveres de cavalarianos poloneses mortos em combate em setembro de 1939


A Brigada Pomorska, que tinha feito o ataque em Krojanty, seria dizimada quando tentava fugir do cerco de Swiecie. As tropas remanescentes se juntaram à artilharia do exército de Poznan, que tinham se retraído para o rio Ner. No dia 12 de setembro, os regimentos lutaram em Ozorków, formando a retaguarda ocidental do exército de Poznan, quando este forçava o seu caminho até Varsóvia, para lutar no cerco da cidade. Os poucos remanescentes da unidade tomaram parte no combate da floresta de Campinos, onde diversas elementos conseguiram romper as linhas alemães, chegando a Varsóvia, junto com outras unidades do grupo Narew e dos Exércitos de Poznan e da Pomerânia.

Em Varsóvia foi formado um imenso bolsão. Este, contudo, não tinha a mínima esperança de apoio externo. Na verdade, a sorte da Polônia foi decidida totalmente no dia 17, quando a União Soviética invadiu a Polônia com 24 divisões de infantaria, 15 de cavalaria e 9 brigadas blindadas.  A rendição era o único caminho – Varsóvia sofreu um terrível bombardeio no dia 27 e no dia 28 capitulou. A última porção de território controlado pelos polacos, a península de Hela, se renderia em 1º de outubro, exatamente um mês desde o início da ofensiva. Diversas unidades, especialmente de cavalaria, recusaram a capitulação imediata, procurando fugir para a Lituânia ou para a Hungria – alguns regimentos das tropas do Exército de Modlin chegaram a atravessar a Polônia de norte para o Sul, conseguindo ser internadas na Hungria. Mais tropas teriam conseguido isso se não fosse a terrível perseguição dos soviéticos.

As últimas tropas a se renderem foram os elementos uma força mista, composta por elementos de duas brigadas de cavalaria (Grupa Operacyna Kawalerii e a Brigada “Podlaska”) e duas divisões de infantaria (50ª “Brzoza” e 60ª “Kobryn”), cerca de 15.000 homens (mais ou menos o mesmo efetivo que uma só divisão alemã). Estas unidades tentaram abrir o caminho a força para a Hungria, chegando até próximo a Lublin, no meio da Polônia, no dia 2 de outubro, onde combateram contra duas divisões Panzergrendieren alemãs (13ª e 29ª). Paralisados pelas forças germânicas, as tentativas de furar o cerco foram infrutífe-ras, as tropas recebendo ordens de se render no dia 6 de outubro.

A campanha da Polônia tinha terminado e, com ela, os dias de glória da cavalaria a cavalo.
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Fonte: PIEKALKIEWICZ, Janusz. The Cavalry of World War II. Historical Times, 1987.


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sexta-feira, 2 de março de 2012

TRÊS CANHÕES COLONIAIS SÃO ENCONTRADOS EM OBRA NO RIO DE JANEIRO


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Operários e arqueólogos que trabalham nas obras do Porto Maravilha, conjunto de intervenções que pretendem revitalizar a região portuária do Rio de Janeiro, encontraram, durante escavações feitas na manhã de 28 de fevereiro, mais um canhão antigo.  Este já é o terceiro descoberto durante escavações, todos no mês de fevereiro.

As peças, muito semelhantes entre si, têm em média de 1,5 metro a 1,7 metro de comprimento e devem ter sido utilizadas em pequenos fortes (fortim) construídos na região por volta do século 17 e que foram deixados para trás.

A Secretaria Municipal de Obras do Rio de Janeiro disse que as peças têm sido guardadas em um depósito da prefeitura e foram encontradas preservadas, embora precisem de pequenos restauros.
Os canhões devem ser avaliados por técnicos da Subsecretaria de Patrimônio Cultural do Rio e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O Iphan disse, no entanto, que ainda não foi notificado oficialmente e que, portanto, não pode valorar a relevância das peças.

Fonte: UOL

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CANUDOS E CONTESTADO – SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS






Durante a República Velha, apesar da aparente estabilidade do Governo Nacional, vários conflitos armados surgiram no Brasil. Canudos e Contestado foram movimentos sociais que se apresentavam como alternativas às estruturas políticas vigentes e que colocaram à prova as instituições militares.

Sob dois grandes pontos de vista, econômico-social e político-militar, guardavam semelhanças e diferenças. A seguir, algumas considerações sobre o tema.

Contestado e Canudos. O estudo destes conflitos brasileiros sempre nos instiga a comparações, pois encontramos entre eles uma série de semelhanças, bem como também significativas diferenças sob os aspectos sociais, econômicos, políticos e, por fim, militares. A priori, o conflito de Canudos obteve maior relevo histórico que o pouco enaltecido Contestado. Muitos atribuem isso à influência de Euclides da Cunha e sua obra Os Sertões, que efetivamente projetou a guerra de Canudos no imaginário popular por meio de sua clássica narrativa. O Contestado, embora apresente uma rica produção historiográfica, permaneceu esquecido da memória nacional, apenas evidenciada na cultura dos estados sulinos de Santa Catarina e Paraná.


Fatores socioeconômicos – semelhanças e diferenças

Tanto Canudos quanto o Contestado representam episódios que envolvem os miseráveis, os desassistidos, os excluídos, os ignorantes, os supersticiosos. A palavra de um místico, mesmo que pouco entendida, representava uma esperança que começava pálida e aos poucos se tornava brilhante graças aos adeptos que ia encontrando pelos caminhos daquela gente rude. Explorada pelos poderosos locais acobertados pela ausência dos governantes e a indiferença da Igreja, carente de tudo, principalmente de justiça, pouco importava que os monges se chamassem Conselheiro ou José Maria. Importava que existisse alguém com carisma suficiente para, através de um cristianismo primário, messiânico --- ou como querem alguns autores, um catolicismo popular --- conscientizá-la para a necessidade de superar a degradação em que vivia, fazendo nascer o espírito de coletividade. Bom Jesus, Belo Monte ou os redutos catarinenses da Irmandade Cabocla representaram a união dos menores, fortalecidos por leis e normas próprias, ligados por uma religiosidade radical, com novas formas de sustento, tudo isto contribuindo para despertar uma dignidade que a maioria desconhecia.

Vaqueanos fotografados durante a Guerra do Contestado.  Atuavam como milícia auxiliar do Exército


É certo que, em ambos os casos, vieram se juntar os bandidos, os malfeitores, os revolucionários derrotados, os fugitivos em busca de homizio. É certo também que nos dois episódios, a sociedade se preocupou apenas em expulsar, em retomar as terras, sem jamais tentar entender as causas e as conseqüências daqueles movimentos.

Em resumo, miseráveis e bandidos seguindo um místico na tentativa de fugir do poder dos coronéis, do desconhecimento da Igreja e da ausência do Estado.

Apesar das semelhanças, muitas diferenças tembém podem ser observadas. Canudos estava situado no interior da Bahia, região árida, de terras pobres, rios instáveis, clima com poucas chuvas. Os povoados da região eram pequenos e decadentes, juntando habitações construídas com pau a pique ou taipa de pilão e o cobrimento se resumindo ao uso de folhagens da região. A produção agrícola supria com muita dificuldade as necessidades de subsistência e a pequena pecuária era dirigida para a criação de caprinos, cujo couro representava uma das poucas atividades lucrativas. No entanto, criado solto no pasto, o gado dispensava o uso de mão de obra, pouco contribuindo para a solução do problema do desemprego.

Soldados brasileiros no sertão de Canudos


A região do Contestado era pretendida pelos estados do Paraná e Santa Catarina. Ninguém pretende tornar seu o que não serve, não tem utilidade, não traz riquezas. A área era cortada por caminhos por onde passavam as tropas de muares destinadas a suprir a região de mineração, as terras eram férteis e nelas havia intensa atividade na pecuária e no cultivo da erva mate. A extração de madeira era também um fator que cada vez mais enriquecia os fazendeiros e já se instalara em Três Barras, Santa Catarina, a segunda maior madeireira da América, a Southern Brazilian Lumber & Colonization Company Inc., pertencente, da mesma forma que a Brazil Railway, ao Sindicato Farqhuar. A construção desta estrada de ferro utilizava mão de obra brasileira e estrangeira proveniente da Europa.

O clima se mostrava ameno, os povoados estavam em crescimento e alguns já alcançavam o estágio de vilas. Ao que se sabe, havia sólidos motivos para que a região abrigasse terras altas denominadas Serra da Fartura, mas, se fartura realmente existia, só beneficiava os poderosos, jamais o populacho.



Fatores Político-militares – semelhanças e diferenças


Em Canudos ou na região do Contestado, não havia um referencial político a ser alcançado pelos revoltosos. Os líderes religiosos eram monarquistas e assim se tornavam aqueles que os seguiam sem qualquer crítica, porque aqueles líderes representavam a derradeira esperança. Segundo Noel Nascimento, “Monarquia para os camponeses de Canudos e do Contestado era o reinado de Deus, o paraíso terrestre, o fim do poder dos ricos, o nivelamento social, a antecipação do futuro. Na república viam a causa de todos os males”. Para Euclides da Cunha "O rebelado arremetia contra a ordem constituída porque se afigurava iminente o reino de delícias prometido. Prenunciava-se a República - pecado mortal de um povo - heresia suprema indicadora do triunfo efêmero do Anti-Cristo."

Soldados feridos sendo evacuados por trem no Contestado


Em verdade a reunião de miseráveis e bandidos acompanhando um líder messiânico incomodava os políticos, os senhores da terra e a igreja. Não se imagine, no entanto, que as virtudes estavam todas concentradas naqueles e inexistia entre estes. A preocupação era, até certo ponto, natural, principalmente pela ação dos malfeitores, tanto os que pertenciam à nova ordem quanto aqueles que, independentes, a respeitavam. A forma de externar esta preocupação é que trazia problemas. Denunciar e agir foram considerados como as melhores soluções para eliminar a questão, esquecendo que tudo deveria ser precedido pela tentativa de conhecer a realidade dos contrários. Talvez aí fosse entendido que o monarquismo não era uma opção política, mas tão somente uma palavra de ordem de significado discutível no meio de ignorantes, fruto do fanatismo religioso.

Em ambos os casos a presença do Exército foi, inicialmente, desastrosa. Usada como polícia, mal formada, mal equipada, sem maiores conhecimentos do terreno e do inimigo, a tropa foi arrebanhada de seus aquartelamentos onde sofria a indiferença e até o desprezo dos governantes. Usando uma expressão de Garcia Marques, as primeiras derrotas foram, simplesmente, crônicas de uma morte anunciada.

Oficiais do Exército Brasileiro em Canudos



Houve também diferenças quanto aos fatores político-militares.

O ambiente político em Canudos resumia-se na manutenção do status quo, o que significa a continuidade dos governantes, o crescimento do poder dos coronéis e o respeito à igreja. Longe dos grandes centros, adversários políticos eram, na verdade, atores sociais que disputavam maiores privilégios. O povo era mantido alheio, sem vontade reconhecida.

Na região do Contestado havia uma dura disputa entre dois estados da federação para aumento de seus territórios. A luta saía dos palácios e ia para o campo envolvendo as áreas em litígio, não sendo raros os enfrentamentos verbais e até físicos. Neste ambiente, questiúnculas entre senhores da terra tomavam a forma de divergências político-ideológicas, agravadas pela presença de estrangeiros desempregados após o término da construção da ferrovia, de nacionais expulsos de suas terras pelos benefícios concedidos às empresas norte americanas e de egressos das revoltas no Rio Grande do Sul. O ambiente político era muito diferente em Canudos e no Contestado, mas a população, quando muito, servia apenas como massa de manobra.

No campo militar, a diferença começa na localização do líder adversário. Enquanto Canudos obedecia a uma só cabeça, no Contestado havia uma pulverização, o que, talvez, tenha contribuído para que o banditismo tenha superado a fé religiosa.

A “Guerra do fim do mundo”, como a chamou Vargas Llosa, sob vários aspectos serviu como lição para o emprego do Exército no sul. O apoio administrativo, praticamente inexistente na Bahia, foi utilizado de forma eficiente no Contestado. Os Armazéns de Campanha, os Esquadrões de Trem, os Hospitais, as Formações Sanitárias Regimentais mantiveram as tropas quase livres da dependência dos meios locais, sempre escassos. Segundo Marli Auras, “A partir do instante em que as forças do Exército são melhor organizadas, a irmandade começa a desmoronar”.


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