quinta-feira, 29 de abril de 2010

UNIFORMES - SOLDADO AUSTRALIANO, 1941

Soldado de infantaria australiano
2ª Guerra Mundial, 1941


Durante toda 2ª Guerra Mundial a estratégia militar da Austrália foi diretamente atrelada à da Grã-Bretanha. Em razão disso a maior parte das unidades militares australianas no período de 1940-41 foram enviadas para os fronts do Mediterrâneo e Oriente Médio, além do Pacífico, onde representaram uma importante parcela das forças da Commonwealth (Comunidade britânica).

O uniforme do soldado de infantaria ao lado é representativo do fardamento utilizado pelo Exército australiano não somente na época da 2ª Guerra, mas também dos vinte anos anteriores a este conflito. O item mais característico é a cobertura: o tradicional chapéu de feltro com abas largas, onde a aba esquerda é levantada e afixada à parte superior por um distintivo regimental. A gandola de combate é confeccionada com quatro grandes bolsos na frente e quatro botões de bronze para fechá-lo, com as insígnias da divisão costurada no colarinho e na manga. Utiliza calças cáqui terminadas por perneiras de lona.

Amplamente empenhado em campanhas aliadas no Norte da África, em regiões desérticas de clima sufocante, o soldado australiano carrega um kit necessário para a sua sobrevivência neste ambiente hostil, além do armamento individual representado pelo robusto fuzil Lee Enfield calibre .303 polegadas, o cinturão modelo 1908 com bolsas para munição e outros itens, e a baioneta modelo 1907. Transporta, a tiracolo, um bornal contendo ração individual para dois dias de combate.

FORTE DE SANTANA DO ESTREITO

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No início desta semana tivemos o privilégio de conhecer Florianópolis, sem dúvida uma das mais belas cidades brasileiras e um rico sítio de história militar. Em nossa visita, pudemos visitar, por intermédio de nosso amigo Major Bombeiro Militar César, a quem agradecemos imensamente, o Forte de Santana e o Museu de Armas Major Antônio de Lara Ribas, da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina (PMESC).

Eis um pouco de sua história ...

O Forte de Santana do Estreito – ou simplesmente Forte Santana - foi construído pelos portugueses entre 1761 e 1763, junto ao estreito de união das Baías Norte e Sul da ilha de Santa Catarina, ponto no qual mais se aproxima do continente (cerca de 400 metros). A fortificação tinha a função de proteger o antigo ancoradouro da Vila de Nossa Senhora do Desterro - atual Florianópolis - de embarcações inimigas que tentassem adentrar pela Baía Norte.


Construção

Atendendo a uma ordem do ministro Marquês de Pombal, em 1760 o governador e capitão-general da Capitania do Rio de Janeiro Gomes Freire de Andrade determinou ao Tenente-coronel engenheiro militar José Custódio de Sá e Faria que elaborasse um projeto para melhorar as existentes defesas na ilha de Santa Catarina, organizadas anteriormente pelo Brigadeiro José da Silva Paes. Após estudar a região e analisar o sistema defensivo existente, o Tenente-coronel Sá e Faria concluiu que a vila do Desterro ficaria sem defesa ante um invasor no caso de um invasor desbordar as fortalezas da barra Norte da ilha e propôs a contrução de duas baterias fortificadas, uma na praia de Fora, ao norte da vila - o Forte de São Francisco Xavier da Praia de Fora - e outra na ponta da ilha mais próxima ao continente - o Forte de Santana do Estreito.

A construção do Forte de Santana foi concluída em 1763 e seu primeiro comandante do qual existem registros foi o Alferes Rodrigo José Brandão. A fortificação foi erguida em alvenaria de pedra e cal, sobre um único terrapleno, protegida por muralhas com 1,20 metro de espessura. O projeto original do forte possuía forma de um hexágono irregular e uma única guarita cilíndrica posicionada no vértice da muralha vigiando o canal da baía norte. O forte era de concepção bastante simples, de dimensões reduzidas para os padrões da engenharia militar portuguesa setecentista e compreendia apenas as instalações e edificações necessárias a seu funcionamento, tais como: corredor de acesso com portada; plataforma ou terrapleno, com sete canhoneiras dispostas; alojamento da tropa; cozinha; casa dos oficiais; corpo da guarda; casa da palamenta (material de artilharia) e casa da pólvora (paiol de pólvora).

A fortificação foi artilhada, inicialmente, com nove peças de artilharia, mas, por ocasião de um inventário realizado em 1786 pelo Alferes José Correia Rangel a mando da Coroa Portuguesa, o forte contava com dez canhões de diferentes calibres: seis de ferro e quatro de bronze. O sistema defensivo do estreito foi reforçado a partir de 1793, com a construção do Forte de São João do Estreito, erigido do lado oposto do estreito, no continente, para cruzar fogos com o Forte Santana.


O forte em ação

Quando os espanhóis tomaram a ilha de Santa Catarina dos portugueses, em 1776, o Forte Santana foi uma das instalações militares capturadas pelo Exército Espanhol. Um ano depois, contudo, a ilha voltou ao domínio português pelo Tratado de Santo Ildefonso (1777) com o compromisso da não utilização dos fortes pelos portugueses, o que ocorreu em parte, pois os portugueses mantiveram a bateria artilhada.

Em 1857 o Forte de Santana passou a abrigar a Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina e, após ser parcialmente reformado, recebeu, em 1876, Companhia dos Inválidos, formada por soldados incapacitados pelos combates da Guerra da Tríplice-Aliança. Na ocasião o Duque de Caxias, então Ministro da Guerra, mandou fornecer ao forte quatro canhões raiados La Hitte, calibre 12 antecarga.

Em 1880 o Forte de Santana passou a ser sede da Polícia Marítima. Já no período republicano, por ocasião da Revolução Federalista, em setembro de 1893 o forte foi novamente artilhado para combater os navios da esquadra federalista que atuavam nas imediações da ilha. No intuito de proteger a ilha de um ataque naval, o Alferes Hermínio Coelho dos Santos, do 25º Batalhão de Infantaria, reuniu no Forte de Santana uns poucos canhões antigos de ferro, do tipo antecarga já obsoletos, utilizados como enfeite à época, enterrados invertidos pela metade em logradouros públicos na ilha. Apesar da precariedade de sua artilharia improvisada, o forte chegou a trocar tiros com navios rebeldes: o cruzador República e o vapor Palas. Os navios permaneceram prudentemente fora do alcance dos antiquados canhões – cerca de trezentos metros - e responderam ao fogo bombardeando o forte e forçando seu comandante, ferido na ocasião com mais um soldado, a ordenar o cessar-fogo.

O editor do BLOG HISTÓRIA MILITAR junto a um dos canhões do Forte de Santana


 
 Decadência e restauração

No final do século XIX, em 1898, o comandante do forte à época, apresentou um relatório informando que seria necessária uma grande restauração no conjunto da fortificação, em função do desgaste provocado pelo tempo de uso. Todavia, o Forte de Santana foi posto fora de serviço pelo Exército a partir de maio de 1907 e cedido ao Ministério da Agricultura, que nele instalou uma estação meteorológica.

Apesar de ter sido tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1938, o forte permaneceu um longo tempo abandonado e dervindo como moradia para população de rua e “sem-tetos”. Entre 1969 e 1970, contudo, o forte foi restaurado definitivamente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e teve suas formas originais restituídas. A restauração do Forte de Santana representou o início do processo de redescoberta e recuperação das fortificações catarinenses, durante anos abandonadas e arruinadas.


 O forte hoje

Do conjunto de edifícios originais, somente a casa da pólvora não existe mais. Situado sob a atual Ponte Hercílio Luz, que liga a ilha de Santa Catarina ao continente desde a década de 1920, o Forte de Santana encontra-se é administrado, atualmente, pela PMESC mediante convênio com o IPHAN.

Acervo do Museu de Armas Major Antônio de Lara Ribas

Em 1975 o Forte de Santana passou a abrigar, em um prédio anexo, o Museu de Armas Major Antônio de Lara Ribas, da PMESC, cujo acervo é composto por armas históricas usadas pela Polícia Militar, armas selecionadas pelo próprio Major Lara Ribas, entre os anos de 1938 a 1945, peças de fardamentos, fotografias e insígnias, dentre outros objetos expostos permanentemente em uma área de exposição de 122 m².

O Forte de Santana e o museu podem ser visitados diariamente, na Avenida Beira-Mar Norte, sob a Ponte Hercílio Luz, no centro de Florianópolis-SC, distante apenas poucos metros da Rodoviária Rita Maria. A entrada é franca e o conjunto possui estacionamento próprio.


Uniforme histórico do Acervo do Museu de Armas Major Antônio de Lara Ribas


Vale a pena uma visita.

Endereço:

Avenida Osvaldo Rodrigues Cabral, 525 (Beira Mar Norte)
CEP: 88015-710 - Centro - Florianópolis – SC
(Localizado sob a cabeceira insular da Ponte Hercilio Luz)
Fone: (48) 3229-6263
e-mail: museu@pm.sc.gov.br

Horário de visitação:
De terça-feira a domingo das 9hs às 17hs


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sábado, 24 de abril de 2010

PENSAMENTO MILITAR - A JUSTIÇA MILITAR


"A justiça militar está para a justiça assim como a música militar está para a música."


Georges Clemenceau, estadista francês

IMAGEM DO DIA - 24/04/2010

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Durante a intervenção israelense no Líbano de 1982, um bem equipado veículo blindado M-113 das Forças de defesa de Israel entra no território libanês

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PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - GENERAL HOLLAND SMITH


* 20/04/1882 – Seale, EUA
+ 12/01/1967 – San Diego, EUA



Holland McTyeire ("Howlin Mad") Smith foi um dos mais notáveis generais do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos durante a 2ª Guerra Mundial, sendo considerado o pai das táticas de guerra anfíbia dos EUA. Durante a 2ª Guerra Mundial o General Smith comandou com sucesso os desembarques dos EUA no Pacífico, com destaque para a ações contra Kiska e Attu, nas Aleutas, e no assalto às Gilberts, Marshalls e Saipan e Tinian, nas Marianas.
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Durante a Operação Marianas, além do V Corpo Anfíbio, comandou todas as tropas expedicionárias, incluindo as que recapturaram Guam. Após isso serviu como Comandante-geral das forças anfíbias do Teatro de Operações do Pacífico, e liderou a Força-Tarefa 56 no ataque à Iwo Jima, em 1945.
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Início da carreira
.Filho de um advogado, o general nasceu em 20 de abril de 1882, na cidade de Seale, Alabama. Em Abril de 1906, depois de graduar-se oficial fuzileiro naval na Academia Naval de Annapolis, Smith partiu para as Filipinas, onde serviu em tarefas expedicionárias com a 1ª Brigada de Fuzileiros Navais até setembro de 1908. Voltou aos Estados Unidos no mês seguinte, onde foi designado para servir na base da Marinha em Annapolis. Em dezembro de 1909, embarcou para tarefas expedicionárias no Panamá. Retornou do Panamá em abril do ano seguinte e serviu, sucessivamente, em Annapolis, San Diego e na estação de Recrutamento de Seattle, antes de partir novamente para as Filipinas em setembro de 1912.
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Durante este período Smith foi designado novamente para a 1ª Brigada de Fuzileiros navais, até abril de 1914, quando foi transferido para servir a bordo do USS Galveston. Serviu em águas Asiáticas até julho de 1915, e retornou aos Estados Unidos no mês seguinte, para servir na Base Naval de New Orleans, Louisiana. Desse posto foi designado para a República Dominicana, em junho de 1916, como membro do 4º Regimento de Fuzileiros Navais. Durante as operações da unidade contra os rebeldes, participou da marcha para Santiago e lutou em La Peña e Kilometro 29. Retornou aos EUA em maio de 1917, e, em seguida, partiu para a França a fim de lutar na 1ª Guerra Mundial, onde assumiu o comando da 8ª Companhia de Metrelhadoras do 5º Regimento de Fuzileiros Navais.
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1ª Guerra Mundial
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Na França, Smith foi destacado do 5º Regimento de Fuzileiros e enviado para cursar estado-maior no Colégio de Estado-Maior Geral em Langres, que concluiu em fevereiro de 1918, tornando-se um dos seis únicos oficiais fuzileiros navais a concluírem tal curso na história.
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Foi nomeado ajudante da 4ª Brigada de Fuzileiros Navais, integrante da 2ª Divisão de Infantaria do exército, que lutou na frente de Verdun, onde tomou parte da Batalha de Belleau Wood. Transferido para o I Corpo do 1º Exército em 1918, serviu como oficial assistente de operações, durante as ofensivas Aisne-Marne, Oisne-Aisne, St. Mihiel e Meuse-Argonne. Após o armistício, atuou no Reno, através da Bélgica até Luxemburgo, como um oficial ligação com o 3º Exército e serviu nas forças de ocupação na Alemanha.
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Pelos seus serviços em Belleau Wood, Smith recebeu a Croix de Guerre pelo governo francês. Também recebeu a Meritorious Service Citation do comandante das forças expedicionárias americanas, e, mais tarde, a Medalha Purple Heart.
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Nova fase na carreira
.Ao voltar aos EUA, em abril de 1919, as tarefas de Smith nos quatro anos seguintes incluíram postos em Norfolk, Virginia. Entrou no Colégio de Guerra Naval e serviu em Washington, com a seção de planos de guerra do Departamento de Operações Navais. Novamente foi designado para embarcar nos encouraçados USS Wyoming e Arkansas, onde atuou como chefe dos fuzileiros navais da esquadra.
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Entre 1924 e 1925, seguiu para o Haiti, a fim de participar das operações dos fuzileiros navais contra forças rebeldes. Após regressar desse país, em agosto de 1925, assumiu a chefia do estado-maior da 1ª Brigada da Fuzileiros Navais em Quantico, Virginia, onde permaneceu até setembro do ano seguinte, quando foi matriculado na Escola do Corpo de Fuzileiros Navais, na mesma cidade.
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Em abril de 1931, tomou parte de nova viagem embarcado, desta vez a bordo do encouraçado USS California como ajudante-de-ordens do comandante da Força de Fuzileiros Navais da Esquadra. Em junho de 1933 foi nomeado comandante da unidade de fuzileiros navais da Base Naval de Washington, onde permaneceu até o início de 1935. No dois anos seguintes , serviu San Francisco, California, como chefe do estado-maior do Departamento do Pacífico, e chefe de operações e treinamento do Comando do Corpo de Fuzileiros Navais.
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General Holland Smith (a esq) desembarca durante uma operação anfíbia no Pacífico

2a Guerra Mundial
Após as suas colocações anteriores, Smith assumiu o comando da 1ª Brigada de Fuzileiros Navais em Quantico, levando essa unidade até a baía de Guantánamo, Cuba, para realizar treinamento anfíbio, em outubro de 1940. Em fevereiro do ano seguinte, quando a brigada foi expandida e redesignada 1ª Divisão de Fuzileiros Navais, tornou-se seu primeiro comandante. Em junho de 1941 assumiu o comando da Força Anfíbia da esquadra do Atlântico. Nesse posto, sob seu comando, a 1ª Divisão de Fuzileiros Navais e as 1ª e 9ª Divisões de Infantaria do Exército receberam treinamento inicial em tácticas anfíbias.
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Em agosto de 1942, foi novamente transferido, desta vez para São Diego, a fim de assumir o comando do Corpo Anfíbio da Esquadra do Pacífico, no qual completou a doutrina anfíbia da 2ª e 3ª Divisão de Fuzileiros Navais, antes de partir para a campanha contra os japoneses para batalha, além de instruir a 7ª Divisão de Infantaria do Exército e outras unidades envolvidas nas operação anfíbias nas ilhas Aleutas. A força anfíbia foi, mais tarde, redesignada V Corpo Anfíbio e, em setembro de 1943, como comandante dessa unidade, o General Smith chegou a Pearl Harbor, para começar o planejamento da campanha das ilhas Gilberts. Permaneceu no comando do V Corpo Anfíbio até agosto de 1944, quando foi nomeado Comandante-Geral da das forças anfíbias do Teatro de Operações do Pacífico. Cumulativamente com essa função, foi nomeado comandante da Força-Tarefa 56 no ataque à ilha japonesa de Iwo Jima, antes de voltar aos EUA em julho de 1945, para líderar o Comando de Treinamento e Recompletamento do Corpo de Fuzileiros Navais em Camp Pendleton, California.

General Holland Smith (a dir) ao lado do Almirante Spruance em Saipan, 1944

Reforma
Holland Smith reformou-se no posto de tenente-general em 15 de maio de 1946, com 64 anos de idade, sendo promovido a general (4 estrelas) em seguida. Na inatividade mudou-se para La Jolla, California, onde passou a viver para seu hobby, a jardinagem.
Após longa e desgastante doença, o General Holland Smith faleceu no dia 12 de janeiro de 1967 no Hospital Naval de San Diego, California, com a idade de 84 anos. Seu funeral foi celebrado em 14 de fevereiro na Capela do Corpo de Fuzileiros, tendo recebido as mais altas honrarias militares no Cemitério Nacional do Forte Resocrans, sobre o porto de San Diego.
Seu estilo de liderança e os meios de treinamento empregados por Smith renderam-lhe o apelido de "Howlin' Mad" ("Howlin Maluco"), atribuído por suas tropas.
Em sua homenagem, o quartel do Comando das Forças Anfíbias da Esquadra do Pacífico, localizado em Oahu, no Havaí, foi batizado como Campo H.M. Smith.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

NOTÍCIA - REPARAÇÃO DE GUERRA

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Parentes de brasileiros mortos por ataques nazistas na costa do Rio de Janeiro na
Segunda Guerra querem indenização do governo alemão


Por Claudio Dantas Sequeira


Na Segunda Guerra Mundial, foram a pique 33 embarcações brasileiras em ataques de submarinos da Alemanha nazista. E, apesar do saldo de mais de mil mortos, até hoje nenhuma das famílias das vítimas – muitas delas civis – recebeu qualquer reparação por parte do Estado alemão, como ocorreu com civis de outros países por onde a máquina de guerra nazista marcou sua passagem com destruição e mortes. Essa história, no entanto, pode ser reescrita. Está na mesa do ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, a polêmica causa do barco Changri-lá. Um pequeno navio pesqueiro que foi torpedeado na manhã de 22 de julho de 1943, no litoral de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, pelo submarino alemão U-199. Os corpos dos dez pescadores que estavam a bordo nunca foram encontrados.
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“É uma obrigação da Alemanha indenizar os familiares dos mortos”, diz o advogado Luiz Roberto Leven Siano, especialista em direito marítimo que assumiu voluntariamente o caso. Filha do pescador José da Costa Marques, comandante do Changri-lá, Josefa Marques Cardoso tinha dez anos na época do ataque. “Foi muito difícil. Perdi meu pai e meu irmão Zacarias”, conta. Irmã de outro pescador morto, Etelvina de Navarra Porto emociona-se ao lembrar do episódio. “Meu pai ficou doente com a morte do Joaquim e dois anos depois também faleceu”, diz. O advogado Leven Siano pede o pagamento de até R$ 6 milhões por danos morais.
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Leven Siano entrou com a primeira ação na Justiça em 2003, depois que um pesquisador descobriu provas da ação do U-199 e a Procuradoria da Marinha resolveu reabrir o caso. Após perder em primeira instância, o advogado recorreu ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e o caso foi parar no Superior Tribunal de Justiça. Os ministros do STJ ficaram divididos em torno do eventual direito da Alemanha de não se submeter à jurisdição brasileira. Para o ministro Fernando Gonçalves, por exemplo, o assassinato dos pescadores é considerado um “ato de império”, imune a eventuais processos em outro país. Mesmo assim, determinou que o Estado alemão seja intimado a manifestar-se. O ministro Luís Felipe Salomão pensa diferente e defende o julgamento. “Naquele período, já se encontrava vigente o regime instituído pela Convenção de Haia, de 1907, que confere especial importância à proteção dos não combatentes”, escreveu Salomão.
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A tese, segundo Leven Siano, ganha respaldo na postura adotada pela própria Alemanha nos Julgamentos de Nuremberg. “Ela renunciou ao direito de imunidade, a fim de se submeter aos processos com vítimas estrangeiras atingidas fora das fronteiras alemãs”, afirma o advogado, cuja artilharia inclui 11 recursos legais e cartas à Marinha. O impasse no STJ levou o caso ao STF. O ministro Ayres Britto espera agora um parecer da Procuradoria-Geral da República para elaborar seu voto. Já o governo alemão não se pronunciou.
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Fonte: Revista Isto é
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sábado, 10 de abril de 2010

AS BANDAS DE MÚSICA MILITARES



A história da música na antiguidade evidencia a sua importância na sociedade como instrumento de integração e socialização. Porém, a terminologia “banda de música” só é apresentada, pela primeira vez, em 1678 na Inglaterra, pois, até então, só havia notícia de músicos nas tropas. A partir dessa data as bandas de música militares não cessaram de se multiplicar e desenvolver repertório próprio inerente à sua condição de militar. Na Europa, a banda de música parece ter suas origens na França. No Brasil, os músicos militares também exercem um papel relevante na sociedade brasileira desde os tempos coloniais, porém, não mais motivados pelos combates e batalhas, mas, principalmente, pelas suas apresentações cívicas, religiosas e muito mais sociais do que no início da história da música em ambiente militar.
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Embora haja a confirmação da existência de bandas militares na segunda metade do século XVIII, em Pernambuco, elas vieram a ser mais populares a partir da chegada de D. João VI, com sua corte ao Rio de Janeiro em 1808. O rei trouxe consigo uma banda de música portuguesa e, durante a estada da família real no Rio de Janeiro, foram realizados vários concertos pelas bandas existentes na época.
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As bandas de música militares do final do século XVIII foram criadas nos regimentos milicianos do Recife e Olinda, por ato do governador D. Tomás José de Melo. A exemplo destas, foi criada também uma banda no terço auxiliar de Goiana (PE), em 1789, mantida pela respectiva oficialidade. Mediante consentimento daquele governador, também se registra uma banda de um regimento de linha da guarnição da vizinha cidade da Paraíba em 1809, composta por dois pífaros, um dos quais, de Manuel de Vasconcelos Quaresma, que era o mestre, e mais duas clarinetas, duas trompas, um fagote e um zabumba.
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Desde os tempos coloniais e, principalmente, após a decadência da exploração de ouro no Rio de Janeiro, as primeiras bandas de música, formadas por barbeiros, escravos em sua maioria, tocavam fandangos, dobrados e quadrilhas em festas religiosas e profanas.
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Em 1831, são criadas as bandas de música da Guarda Nacional, e esta arte espalha-se pelo país. Em 1896, Anacleto de Medeiros funda a mais famosa de todas as bandas de música: a do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Naquela época, um grande número de músicos militares atuava em orquestras e outros nas igrejas onde participavam do serviço religioso. Como no Brasil, nos tempos da colônia, existiam os músicos das tropas de cavalaria e de infantaria, os quais não se limitavam à música militar.
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Pode-se dizer que a primeira banda militar, organizada como um conjunto, apresenta-se em 1808 com a vinda da família Real para o Brasil. Tratava-se da banda marcial da Brigada Real da Marinha, que deu origem a Banda do Corpo de Fuzileiros Navais. Após a chegada do Rei, em 1810, foram criadas as bandas para os Regimentos de Cavalaria e Infantaria da Corte. O apoio do D. Pedro I foi imprescindível para o surgimento das bandas de música, tendo em vista sua habilidade como compositor, pianista, clarinetista e fagotista.
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Da Guerra do Paraguai, se não há melhores registros de organização das bandas militares, há copiosas referências à atuação dos nossos músicos militares em campanha, constantes de comovidas reminiscências, nas quais há relatos de “Combate entre Músicos”. Esses documentos registram a luta da Banda de Música do 42° de Voluntários contra a banda do 40° Corpo do Exército paraguaio, a Guardiã de Lopez, culminando com a banda inimiga destroçada e sobrevivência de apenas seis integrantes da nossa Banda. Entre os nossos mortos, estava o seu mestre Felipe Neri Barcelos, comandante daquela ação.
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Com a decadência do ouro no século XIX, toda a pompa e o brilho do cerimonial viram-se diminuídos, como em todos os setores da sociedade. Já não havia tanto dinheiro para o pagamento dos serviços de música, o que contribuiu para a redução do número de músicos e refletiu diretamente na diminuição do número das orquestras, fator que deu origem às bandas civis. Essas bandas assumiram, como herança, o serviço eclesiástico que era executado pelas orquestras. No fim do século XIX, usando uniformes que lembram o dos militares, surgiram as associações, liras e filarmônicas, que logo se espalharam pelas diversas cidades do Brasil. As bandas de música evoluíram e transformaram-se em uma das mais populares manifestações da cultura nacional: onde havia um coreto, existia uma bandinha, orgulho da cidade.
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No seio das bandas de música, formaram-se notáveis músicos profissionais e amadores, eruditos e populares, dentre os quais se destacam renomados maestros e instrumentistas, como Patápio Silva, Anacleto de Medeiros, entre outros. As bandas também foram um centro gerador de novos gêneros musicais e de um vasto repertório de chorinhos, marchas e dobrados.
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De todas as manifestações artísticas produzidas pelo ser humano, poucas guardam tanta afinidade com a profissão militar quanto a música. Desde a mais remota antiguidade até às guerras de alta tecnologia de nossos dias, as bandas militares cumprem o singular e insubstituível papel de reforçar o moral e o ânimo daqueles que, nas casernas em tempos de paz ou nas agruras das campanhas, dedicam-se à profissão das armas.

Fonte: Adaptado da Revista Verde-Oliva nº 201
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