sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

PAUSA NAS ATIVIDADES

Caros leitores,

Por motivos logísticos - estamos mudando nossa base de Resende-RJ para o Recife-PE - estaremos fora do ar temporariamente, com retorno previsto para o final de janeiro de 2010.

A todos os amigos e leitores desejamos um ano de 2010 repleto de realizações.

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

IMAGEM DO DIA - 17/12/2009


Guerra Indo-paquistanesa de 1971. Dois oficiais indianos examinam um blindado M-24 Chaffee capturado do 29º Regimento de Cavalaria paquistanês
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PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - GENERAL BERTOLDO KLINGER


* 1884 – Rio Grande-RS
+ 1969 – Rio de Janeiro-RJ


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Bertoldo Klinger nasceu em Rio Grande (RS), em 1884 e ingressou na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, em 1901. Junto com outros companheiros militares, participou da revolta contra a vacina obrigatória ocorrida em 1904, na então capital do país. Em função disso foi preso, só regressando ao Exército no ano seguinte, quando foi anistiado.
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Entre 1910 e 1912, esteve na Alemanha realizando estágio militar, quando tomou contato com as inovações técnicas e organizacionais então empreendidas no exército daquele país. Ao voltar ao Brasil, tomou parte na fundação da revista A Defesa Nacional, junto com outros militares que haviam realizado estágio semelhante ao seu. Por se mostrarem fortemente influenciados pela doutrina militar alemã, os incentivadores da revista receberam de seus adversários o apelido de "jovens turcos", numa referência aos jovens oficiais militares que, após terem tido contato com o exército germânico, voltaram à Turquia para promoverem reformas políticas e militares.
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Ocupou o posto de redator-chefe de A Defesa Nacional, e em suas páginas criticaria anos mais tarde, a indicação do nome de civis para os ministérios militares no governo de Epitácio Pessoa. A influência alemã fez também com que se opusesse à missão francesa contratada para reformular o Exército brasileiro no mesmo período.
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Em 1924, foi preso sob acusação de colaborar com a revolta tenentista deflagrada naquele ano em São Paulo. Sua participação é assunto controverso, pois durante o período em que esteve preso foi acusado de traidor pelos líderes do movimento. Nos anos seguintes, confirmou sua oposição ao tenentismo, comandando as tropas legalistas lançadas contra a Coluna Prestes, o exército guerrilheiro que percorreu o interior do Brasil em campanha contra o governo de Artur Bernardes, em Mato Grosso e Goiás.
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Em 1930, manteve contatos com elementos da Aliança Liberal que articulavam a deposição do presidente Washington Luís, mas não apoiou o movimento. Com o sucesso da insurreição deflagrada em outubro daquele ano, porém, participou ativamente do golpe promovido por altos oficiais das Forças Armadas lotados na capital federal, que se anteciparam aos revolucionários e afastaram o presidente da República. Nos poucos dias que durou o governo da junta militar que então se instalou no poder, Klinger foi designado chefe de polícia do Distrito Federal, tendo, então, proibido reuniões e comícios na capital do país. Manifestou-se, nessa ocasião, contrário à transferência do poder aos revolucionários. Contudo, quando Getúlio Vargas foi empossado na presidência, telegrafou ao novo ministro da Justiça, Osvaldo Aranha, para elogiar a revolução.
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Em maio de 1931 chegou ao generalato. Suas antigas desavenças com os tenentes, contudo, levaram ao seu afastamento do governo. Transferido para o Mato Grosso, proibiu que os oficiais sob sua autoridade naquele estado se filiassem ao Clube 3 de Outubro, agremiação que visava dar maior coesão política aos tenentes. Em abril de 1932, reprimiu rebeliões camponesas em território mato-grossense.
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O general Bertholdo Klinger com oficiais paulistas durante a Revolução de 1932

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Nesse mesmo ano, juntou-se aos grupos dirigentes paulistas que preparavam uma insurreição para depor Vargas. Escolhido para exercer a chefia militar do movimento, precipitou sua deflagração ao enviar uma carta ofensiva ao recém-nomeado ministro da Guerra, general Augusto Inácio do Espírito Santo Cardoso, em julho daquele ano. Foi, então, recebido com festa em São Paulo e empossado no comando das forças constitucionalistas. Sua prometida adesão de efetivos militares aquartelados no estado do Mato Grosso, porém, não se confirmou. O esperado apoio de gaúchos e mineiros também não se efetivou, o que levou os paulistas a se manterem em posição defensiva. No mês de setembro, propôs o armistício ao governo federal ao perceber a inviabilidade da continuação da campanha militar.
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Preso após a rendição dos paulistas, foi em seguida enviado para o exílio em Portugal, onde retomou as atividades conspirativas junto a outros deportados. Anistiado, voltou ao Brasil em 1934.

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Só foi readmitido no Exército em 1947, passando em seguida para a reserva. Em 1964, deu apoio ao movimento militar que derrubou o presidente João Goulart e implantou o regime militar no país. Morreu em 1969, no Rio de Janeiro.
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Fonte: CPDOC – Fundação Getúlio Vargas

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ARMAS – ALABARDA

A alabarda é uma antiga arma ofensiva e defensiva, composta por uma haste longa. A haste é rematada por uma peça pontiaguda de ferro que, por sua vez, é atravessada por uma lâmina em forma de meia-lua (similar à de um machado). Era considerada a arma de infantaria mais eficaz contra invasores em fortificações e muralhas.

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Graças à sua lâmina em meia-lua, nos combates corpo-a-corpo a alabarda era usada como machado. Já a peça pontiaguda permitia o uso da alabarda como lança, o que era muito comum nos combates contra outras unidades de infantaria, principalmente contra as que escalavam muralhas usando-se de escadas.

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A alabarda era especialmenten eficaz no combate a oponentes montados. Existiam três métodos básicos para isso: a face oposta à lâmina, normalmente uma ponteira ou gancho podia ser usada para puxar o cavaleiro para baixo derrubando-o; a lâmina podia se usada para golpear a parte de trás do tornozelo do cavalo forçando-o a dobrar as pernas caindo, algumas vezes a lâmina em forma de meia-lua convexa dava lugar a uma em forma de meia-lua, ou um "V", côncava para encaixar melhor na perna do cavalo; e por fim podia ser usada apoiando a extremidade contrária da haste no pé e apontando a peça pontiaguda de lança para o peito do cavalo, matando-o.

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A alabarda era por excelência a arma usada pelos guardas de castelos e palácios e ainda hoje aparece como o padrão em unidades militares históricas, mantidas para fins cerimoniais, com suas fardas e armaduras de época.

Alabardeiro espanhol, século XVII

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IMPERIAL ORDEM DE SÃO BENTO DE AVIS


A Imperial Ordem de São Bento de Avis é uma antiga ordem militar brasileira, originada a partir da portuguesa Ordem Militar de Avis, a qual por sua vez remonta à medieval Ordem de São Bento de Avis. Essa ordem medieval foi aparentemente originada na Espanha, a partir da Ordem de Calatrava; outra teoria informa ter-se originado em Portugal no século XII, sob D. Afonso Henriques.

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A chancelaria que cuidava dos registros da ordem brasileira pertencia ao Ministério do Império. Destituiu-se seu caráter religioso por meio de Decreto de 9 de setembro de 1843. Foi mantida após a proclamação da República, juntamente com a Imperial Ordem do Cruzeiro, por determinação do Marechal Deodoro da Fonseca, pelo decreto n.º 227 F de 22 de março de 1890. Até sua extinção definitiva, por meio da Constituição de 1891, chegou da Fonseca a distribuir as ordens de Avis e do Cruzeiro a 724 pessoas.

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Pelo decreto n.º 4328 de 15 de novembro de 1901, criou-se uma medalha honorífica que leva seu nome, reservada a condecorar militares brasileiros das três armas. Também, a Ordem do Mérito Militar, criada por decreto n.º 24660 de 11 de junho de 1934, apresenta a cruz florenciada em referência à Imperial Ordem de Avis.

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Marechal Joaquim Xavier Curado ostentando em seu uniforme a Imperial Ordem de São Bento de Avis


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Diversos militares ilustres pertenceram à Imperial Ordem de São Bento de Avis, tais como: Luís Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias; Marechal Carlos Frederico Lecor, Visconde de Laguna; Marechal Joaquim Xavier Curado, governador de Santa Catarina, Barão e conde de São João das Duas Barras; Tenente-coronel João Carlos de Villagran Cabrita e Brigadeiro Antônio de Sampaio, dentre outros.


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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

IMAGEM DO DIA - 16/12/2009


Pintura representando um combete entre hoplitas gregos existente no Museu de Atenas
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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA MILITAR - INSCRIÇÕES ABERTAS


Você quer estudar História Militar?


Agora você pode.



No Brasil existem apenas dois cursos de Especialização (nível pós-graduação) em História Militar: da UNIRIO (presencial) e da UNISUL (a distância).
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Estão abertas as inscrições para o Curso de Especialização em História Militar, modalidade ensino a distância, da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).

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O curso de 390 horas de duração compreende as seguintes disciplinas:
- Teoria e metodologia da História

- Introdução ao estudo da História Militar

- História Militar Geral I: as guerras da Idade Antiga à Idade Moderna

- História Militar Geral II: as guerras de Napoleão ao século XXI

- História Militar Brasileira I: do Período Colonial ao Período Monárquico

- História Militar Brasileira II: Período Republicano

- Tópicos Especiais: Memórias e representaçãoes militares

- Metodologia da pesquisa científica

- Monografia




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Não perca esta oportunidade de se tornar um especialista em História Militar.
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Inscrições e informações pelo site: http://www.unisul.br/unisulvirtual/inscricoes.html



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AS DIVISÕES E OS CORPOS-DE-EXÉRCITO DE NAPOLEÃO



Um dos mais significativos desenvolvimentos no comando e controle durante a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas foi a introdução da divisão de combate e dos corpos de exército. O tamanho crescente dos exércitos durante o século XVIII, bem como o emprego simultâneo de tropas em diversos teatros de guerra impuseram uma necessária reorganização administrativa dos exércitos europeus. Geralmente, a unidade padrão militar era regimento de infantaria, composto por um ou dois batalhões de combate e um batalhão de depósito. Regimentos de cavalaria também seguiam este padrão, embora os seus esquadrões pudessem ser divididos entre os exércitos em teatros diferentes.

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O comandante do Exército, portanto, precisava controlar vários batalhões e esquadrões nos níveis estratégico, operacional e tático. Isso criou uma enorme sobrecarga para o pessoal do Exército, que tinha a responsabilidade de manter o controle das unidades, mantendo-as devidamente supridas e garantindo que as ordens fossem divulgadas em tempo hábil. Esta não era uma tarefa fácil. A coordenação de dezenas de milhares de homens em campanha muitas vezes levou à confusão e à ineficiência. Para reduzir a dificuldade, os exércitos europeus eram frequentemente organizados em alas ad hoc, colunas (Abteilungen), divisões e brigadas, de cuja composição dependia inteiramente a natureza da missão em questão. Acima do escalão regimento não havia padronização na organização do Exército .

. Em 1759, durante a Guerra dos Sete Anos, o Duque de Broglie (1718-1804) estabeleceu as divisões de combate no Exército francês, mas essas formações, na época, eram temporárias. Também durante o século XVIII, o exército francês introduziu a divisão militar administrativa. A França foi dividida em regiões e cada general de divisão era responsável pelos regimentos aquartelados nas guarnições dentro de sua jurisdição. Esta organização, no entanto, não traduzia a divisão de combate permanente, que surgiria somente durante as Guerras Revolucionárias Francesas (1792-1802), embora tenha fornecido as bases para esse desenvolvimento.
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Pierre de Bourcet (1700-80), um oficial de estado-maior, defendeu a introdução da divisão como uma formação padrão em seu Principes de la Guerre des Montagnes, escrito na década de 1760-1770. A organização em Divisões permitiria ao exército avançar ao longo de rotas paralelas e concentrar-se-se rapidamente para a batalha. A formação facilitaria uma maior eficiência na prestação de campanha e para a circulação rápida de um maior número de tropas a grandes distâncias, ao contrário de um exército com uma única estrada, movendo-se lentamente e sobrecarregados com os comboios de abastecimento. Para esse fim, outro teórico militar francês, o Conde de Guibert (1743-90), argumentou em seu Essai de tactique geral, do início de 1770, que os exércitos deviam dispensar seus comboios de abastecimento a fim de aumentar a sua flexibilidade e mobilidade.
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Marchar divididos, lutar unidos
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A divisão começou a se desenvolver em meados do século XVIII, como um meio de melhorar a mobilidade estratégica de um exército e facilitar seu e comando. Um general comandando um exército não precisava mais manter o controle de cada batalhão e esquadrão, mas apenas de suas divisões. Enquanto isso, os generais de divisão ficavam responsáveis por controlar os seus respectivos regimentos. De fato, enquanto a organização divisionária francesa era testada, foi introduzida também a brigada de infantaria - uma unidade formada por dois regimentos de infantaria. A Prússia também organizou o seu exército em brigadas, mas não adotou a divisão de combate. O que fez a divisão francesa original foi a integração da artilharia e da cavalaria na ordem de batalha. Antes, normalmente a artilharia e a cavalaria ficavam sob o controle direto do comandante do exército, que as distribuía a seus subordinados, conforme necessário. Ao integrar a artilharia e a cavalaria na estrutura de divisão, o exército francês passou a possuir o maior poder de fogo, embora a capacidade de reconhecimento tenha sido diminiuída.

.As Divisões poderiam marchar divididas, enfrentar o inimigo com autonomia adequada para um curto período, ou serem reforçadas por outras divisões. O princípio era frequentemente citado como "marchar divididos, lutar unidos".

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Durante as guerras revolucionárias francesas, o aumento do tamanho dos exércitos de campanha obrigou os revolucionários a introduzir a divisão de combate como uma entidade permanente dentro da organização do exército. Cada divisão era composta por duas brigadas de infantaria, um destacamento de cavalaria - esquadrão ou regimento - e uma bateria de artilharia. Às vezes, os generais atribuíam o comando de várias divisões a um único comandante subordinado, dependendo do plano de operações. O General Andre Massena (1758-1817), por exemplo, comandou duas divisões do exército de Napoleão na Itália, em 1796; o mesmo ocorreu com o General Kleber na Bélgica, em 1794.

.Napoleão expandiu o conceito de divisão e introduziu o corpo-de-exército. Tal organização havia existido durante a revolução, mas caráter temporário. Cada corpo era constituído de duas ou três divisões de infantaria, uma brigada de cavalaria (mais tarde uma divisão), divisão de artilharia e uma reserva de artilharia de corpo. Companhias de engenharia e turmas de estado-maior complementavam o corpo-de-exército, que atingia efetivos de 20.000 a 30.000 homens.

O corpo-de-exército era comandado por um marechal de França ou, ocasionalmente, por um general de divisão. Um corpo francês também, como uma legião romana, em geral, permanecia em um determinado teatro europeu. Assim, o alardeado III Corpo do Grande Armée, comandado pelo Marechal Louis Davout, manteve sua composição desde sua criação em 1803 até 1812 e foi baseado na Alemanha.

Doutrinariamente, o corpo francês operava em eixos independentes pré-determinados, mas com capacidade de apoio mútuo. Isto permitiu que Napoleão coordenasse seu Grande Armée em campanha com maior flexibilidade do que seus adversários podam controlar seus exércitos. Durante a campanha de 1806 contra a Prússia, Napoleão articulou o seu exército, essencialmente, em três colunas de três corpos.. Cada corpo deslocava-se a meio dia de marcha do que o sucedia, de modo que, em qualquer direção, todos os três corpos podiam ser reunidos no prazo de um dia.
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A Prússia e a Áustria adotaram o sistema de divisões no início do século XIX, mas mantiveram-se, em grande parte, com divisões administrativas. As divisões combatentes somente seriam implantadas nestes exércitos a parir de 1809. Os russos não desenvolveram divisões militares e divisões de combate até 1805, mas, quando o fizeram, estas se apresentavam extremamente complicadas e faltava o pessoal adequado para liderar as brigadas e regimentos de forma eficiente.
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Na Grã-Bretanha, as brigadas e divisões eram organizadas de maneira ad hoc, cujas formações eram estabelecidas para cumprir missões específicas.


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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PENSAMENTO MILITAR - PLANOS DE BATALHA



“Não se planeja e depois se procura fazer com que as circunstâncias se ajustem aos planos. Procura-se fazer com que os planos se ajustem às circunstâncias.”



General George S. Patton Jr.

A MARINHA DO BRASIL E A INDEPENDÊNCIA

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Em homenagem ao Dia do Marinheiro, transcorrido ontem, publicamos a seguir a história da criação da Marinha do Brasil e sua participação na Guerra de Independência.


Primeira esquadra brasileira
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Com a proclamação da independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, D. Pedro também estava declarando guerra à metrópole lusitana. Quando o primeiro Governo do Império brasileiro se instalou em outubro de 1822, somente a área de Minas-Rio-São Paulo era completamente leal à causa brasileira. Logo, no Rio de Janeiro, a capitulação das tropas portuguesas não constituiu um grande problema. Ao contrário de outras regiões como Bahia, Maranhão, Pará e Cisplatina, onde houve franca resistência à separação política do Brasil.
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Estava claro para o Governo brasileiro, no intuito de estender e consolidar sua autoridade sobre uma nação espalhada ao longo de uma extensa fronteira marítima, que o elemento mais importante naquela situação era o Poder Marítimo. Ou seja, somente ganhando o domínio do mar poderia o Governo expulsar os portugueses, impedir a chegada de reforços de Lisboa, forçar o Norte a submeter-se, e colocar as diversas províncias sob a autoridade imperial.
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Com uma percepção nítida do problema, era necessário iniciar o processo de formação da Marinha Imperial. Essa tarefa caiu sobre os ombros do novo Ministro da Marinha, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Luís da Cunha Moreira. Um dos poucos brasileiros que pertencera à Marinha portuguesa. Sua experiência se fundamenta em sua participação durante todas as Guerras Napoleônicas e seu importante desempenho na captura anglo-lusitana de Caiena em 1808.
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No porto do Rio de Janeiro, encontravam-se alguns navios da Armada portuguesa que haviam caído sob o controle do Governo Imperial brasileiro. Eram seis naus, três fragatas, duas corvetas e três brigues, porém, dentre as naus, principal navio de linha da época, somente a Martins de Freitas estava em boas condições. A Príncipe Real estava desarmada e as outras eram irreparáveis. Mas, com a ajuda de uma subscrição nacional, o apoio dos marinheiros brasileiros e de muitos portugueses, que se tornaram brasileiros por adoção, criou-se a Esquadra Nacional, composta pela Nau Pedro I, três fragatas, duas corvetas e cinco brigues. O Brasil conseguiu constituir uma força naval respeitável, em condições de fazer frente aos portugueses.
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Os movimentos a favor da libertação política do Brasil se desenrolavam também no exterior. Em Londres, encontrava-se o General Felisberto Caldeira Brant Pontes, aliado do partido patriótico e amigo de José Bonifácio. Tornou-se, para o novo Governo brasileiro, um agente digno de confiança e capaz de comprar armas, levantar empréstimos, coordenar o recrutamento de estrangeiros e dar imediato aviso do que ocorresse em Portugal. O General Caldeira Brant tinha opiniões firmes e esclarecidas sobre os problemas de estratégia militar, sua passagem pela Real Academia Naval, em Portugal, o levou a adquirir plena consciência da importância do poderio marítimo. A necessidade de uma Armada Imperial que merecesse confiança constituiu um tema ao qual se reportava com freqüência em suas correspondências com o amigo e Ministro José Bonifácio.

.Flotilha Itaparicana em ação.

Foi convidado pelo Governo brasileiro para comandar a recém-criada Armada brasileira, o Almirante inglês Lord Alexander Thomas Cochrane, o qual trouxe consigo mais quatro oficiais britânicos, dentre os quais John Pascoe Grenfell, que se destacou por prestar inestimáveis serviços ao Brasil.
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O Almirante Cochrane assumiu o Comando-em-Chefe da Esquadra Imperial em 21 de março de 1823, quando içou, no mastro da Nau Pedro I, o seu pavilhão de 1º Almirante da Marinha do Brasil. A 1º de abril, partiu do Rio de Janeiro com destino a Salvador levando as ordens do Ministro Cunha Moreira, para que estabelecesse um rigoroso bloqueio, destruindo e tomando todas as forças portuguesas que encontrasse, fazendo o maior dano possível ao inimigo.
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O início do bloqueio ao porto de Salvador foi retardado em virtude da vinda de uma Esquadra portuguesa para reforçar a resistência do General Madeira de Mello, comandante das tropas portuguesas estacionadas na Bahia. Ao amanhecer do dia 4 de maio de 1823, as duas esquadras se avistaram em alto-mar e imediatamente a capitânia brasileira desfraldou no mastro do traquete o sinal de Preparar para o combate! Porém, por volta das sete horas da noite baixara um violento temporal impedindo a continuidade do combate, fazendo com que os navios portugueses se recolhessem ao porto de Salvador.


Almirante Cochrane

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A manutenção do bloqueio ao porto de Salvador foi uma tarefa rude e gloriosa porque inúmeras embarcações tentavam forçar o bloqueio e conseqüentemente eram aprisionadas. Além desse bloqueio, as forças portuguesas sofriam o ataque contínuo dos patriotas baianos do Recôncavo e da ilha de Itaparica na reação contra a resistência do General Madeira de Mello. Desesperançado de qualquer reforço, lutando com dificuldades insuperáveis para abastecimentos, resolveu, a 2 de julho de 1823, abandonar o Brasil embarcando nos navios portugueses e seguir rumo à pátria. Essa fuga foi a primeira grande demonstração do valor da Marinha na independência.
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Combate naval de 4 de maio de 1823
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O Capitão-de-Fragata John Taylor, um dos oficiais ingleses que acompanharam o Almirante Cochrane, comandando a Fragata Niterói, recebeu a incumbência de perseguir até as costas da Europa a fugitiva, mas, ainda assim, poderosa esquadra portuguesa, composta de 86 navios, de guerra e onerários, só regressando a 9 de novembro de 1823.
.Depois de sua atuação na Bahia, o Almirante Cochrane, com sua famosa capitânia, a Nau Pedro I, apresentou-se na barra do porto de São Luís em 26 de julho de 1823. Fazendo supor que atrás de si, pronta a apoiá-lo, se aproximavam poderosas forças de mar e terra, conseguiu com que dois dias depois o Maranhão já aderisse oficialmente à Independência e ao Império. Após pacificar e integrar o Maranhão, o Almirante Cochrane enviou à Província do Pará o Capitão-Tenente John Pascoe Grenfell, com o Brigue Maranhão, que chegou à barra de Belém no dia 10 de agosto. Após proceder de modo semelhante ao que se realizou no Maranhão, a Junta Governativa reconheceu, em sessão solene, a Independência no dia 15 de agosto.
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Os portugueses em Montevidéu continuavam a resistir aos interesses do Governo Imperial brasileiro durante 1823. Sofriam um rigoroso bloqueio desde 15 de março, e em meados do ano, as vitórias da Marinha Imperial no Norte do país permitiram que fosse reforçada a flotilha brasileira no Sul. O auge da resistência portuguesa se deu a 21 de outubro, quando navios tremulando a bandeira lusitana, sob o comando de D. Álvaro da Costa, saíram do porto de Montevidéu em ordem de batalha. Seguiu-se um violento combate onde os brasileiros mantiveram-se firmes, comandados pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra Pedro Antônio Nunes, o que forçou os portugueses a abandonarem a luta e retirarem-se para Montevidéu. A futilidade em prosseguir a resistência estava clara, por isso foram iniciadas as negociações para a rendição portuguesa, o que veio a ocorrer em 18 de novembro de 1823.
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No dia 9 de novembro, o Almirante Cochrane tinha chegado ao Rio de Janeiro, onde recebeu, entre outras homenagens e honrarias, o título de Marquês do Maranhão. Escreveu seu nome nos livros de história como um dos maiores nomes da Pátria, no período de nossa Independência; um vulto de legenda dentro da Marinha brasileira, Primeiro Almirante da Imperial Marinha do Brasil, merece juntar-se aos insignes vultos da nossa Independência Política.
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Sob seu comando, a Marinha Imperial assegurou o contato entre os núcleos dispersos da população, varreu dos mares as esquadras hostis e, através da ligação entre os centros mais desenvolvidos, propiciou a conjugação dos esforços que nos conduziram à condição de país livre. E mais importante que as ações militares propriamente ditas foi a simples presença das forças navais do Império nas províncias do Norte. Tanto que por volta de 1824 todas as tropas portuguesas já se encontravam fora do território brasileiro, e, em 1825, a Independência do Brasil foi reconhecida por Portugal e pelo mundo.
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Fragata Niteroi


A extraordinária habilidade dos homens que comandaram e tripularam os navios da Esquadra brasileira fez com que essas ações iniciais de combate direto fossem seguidas por patrulhas eficientes que asseguravam o completo domínio do mar para o Brasil e, com isto, evitavam qualquer possibilidade de reforço de tropas portuguesas para o território brasileiro. O alto grau de eficiência de nossos navios foi sentido, também nas negociações de paz, cujas condições preliminares iniciais dos portugueses eram de que cessássemos nossas ações navais. Ou seja, a Marinha de Guerra mostrou-se definitivamente como um fator decisivo para a consolidação da Independência do Brasil.


Fonte: Marinha do Brasil

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sábado, 12 de dezembro de 2009

NOTÍCIA - FALECIMENTO DA MAJOR ELZA CANSANÇÃO DE MEDEIROS



Registramos o falecimento, no último dia 8, da Major Enfermeira ELZA CANSANÇÃO DE MEDEIROS, veterana da Força Expedicionária Brasileira, da qual foi uma das maiores divulgadoras.

A seguir, uma biografia de autoria do Prof. Israel Blajberg:




Major Enf ELZA Cansanção Medeiros
Veterana da Força Expedicionária Brasileira
Sócia Titular - Instituto de Geografia e História Militar do Brasil
e AHIMTB - Academia de História Militar Terrestre do Brasil


† 08 dez 2009


Deixou-nos um ícone, quase um mito, uma vida inteira de dedicação, entusiasmo, ideais elevados a pautar uma carreira consagrada a memória da FEB, ao Exército, ao Brasil, que perde o brilho da sua inteligência, o calor da sua dedicação, o encanto da sua presença.

A cada 7 de Setembro, a multidão diante do Pantheon de Caxias se surpreendia ao ver passar o Grupamento dos Ex- Combatentes.

Uma figura marcante de mulher, fardada, logo despertava a atenção do público, desfilando embarcada numa das primeiras viaturas.

O tempo passava mas não afetava seu brilho, nem fazia com que deixasse de manter, altaneira, a postura ereta com que saudava as Autoridades no palanque, sempre uma das mais aplaudidas.

Num dia de 1944, partiu para o desconhecido em defesa da democracia e da liberdade, retornando com a FEB coberta de glórias.

As lembranças da guerra nos remetem àquela época difícil, quando a então Tenente Enfermeira Elza Cansanção Medeiros, com suas colegas do Corpo de Saúde da FEB, em meio às vicissitudes dos combates, não media esforços nem sacrifícios para que a dor dos soldados que sofriam pudesse ser minorada.

Herdara dos pais a coragem e o desprendimento dos bravos das Alagoas, terra de gente forte e decidida, que deu ao Brasil nossos dois primeiros presidentes: Marechal Deodoro da Fonseca e Marechal Floriano Peixoto.

Portanto, não foi surpresa ter sido aquela jovem Enfermeira a primeira voluntária brasileira a se apresentar, alistando-se para a Segunda Guerra Mundial.

Era o dia 18 de abril de 1943, quando o Corpo de Enfermeiras da Reserva do Exército recebeu a primeira das suas 67 integrantes, a que se somaram mais 6 da Aeronáutica.
Logo veio o treinamento na Fortaleza de São João, no HCE e na Policlínica, e o embarque por via aérea para o TO da Itália, onde as Enfermeiras da FEB se destacaram pelo carinho e profissionalismo com que souberam se desempenhar de suas funções, granjeando o respeito e admiração da tropa.

Foram dignas de uma Ana Néri, que partiu em 1865 para a guerra do Paraguai com autorização especial do Imperador. 75 anos depois estas outras mulheres guerreiras reviveram em todo o esplendor e beleza aquela figura sublime, inspiradas ainda em Joana Angélica, Maria Quitéria, Rosa da Fonseca, Anita Garibaldi, Bárbara Heliodora, Sóror Angélica, e tantas outras heroínas brasileiras.

Seu trabalho multidisplinar foi riquíssimo, distribuindo-se por inúmeras diversas vertentes, da iconografia a escultura, da museologia a produção literária, incansável atuação reconhecida pelas inúmeras condecorações que lhe foram outorgadas, alem de filiação a importantes institutos, tendo criado o mais completo acervo iconográfico da FEB, preservando a memória histórica através de 5 mil fotografias.

Nos últimos meses não deixou de trabalhar, lançando uma edição especial da Revista do Exercito Brasileiro sobre a FEB, um livro sobre o papel da Mulher Brasileira, e sendo agraciada com a Medalha Pedro Ernesto no Palácio Tiradentes.

Possuía mais de 40 medalhas nacionais e estrangeiras, tendo sido a primeira mulher a ingressar no IGHMB, na categoria de socia-titular, no ano do cinquentario daquela instituição. Ocupava desde 2007 a Cadeira Especial Historiadora Militar Terrestre Brasileira, como primeira mulher a ocupar cadeira na AHIMTB – Academia de Historia Militar Terrestre do Brasil.

Em Maceió criou o Museu Militar da Segunda Guerra Mundial, com peças históricas de elevado valor, como aquelas recuperadas do Itapagé, torpedeado na costa de Maceió. Os verdes mares alagoanos foram o túmulo daqueles brasileiros, bravos tripulantes e passageiros inocentes, vitimas da sanha nazista.

Outra faceta não menos destacada era seu trabalho como escultora de bustos de militares famosos. Do Marechal Mascarenhas de Moraes, o Grande Comandante da FEB foram 40 esculturas, A estatueta representando uma enfermeira em continência, é o prêmio oferecido às primeiras colocadas da Escola de Administração do Exército em Salvador, que vem a ser o seu auto-retrato.

Custa a crer que tenha nos deixado, mas o fez com a sensação de missão cumprida, como atestam as muitas medalhas merecidamente conquistadas que repousam sobre o seu peito.

A mulher de fibra se foi, mas o exemplo frutificará, do trabalho ingente, da dedicação aos ideais, da preservação e divulgação da memória da FEB. A melhor homenagem que lhe poderemos prestar será manter desfraldada a bandeira a qual dedicou toda a sua rica existência.

Que a sua alma se incorpore a corrente da vida eterna.




À família enlutada, a homenagem do Blog História Militar.


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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

UNIFORMES - OFICIAL SUL-VIETNAMITA


Exército Sul-vietnamita. 1º Tenente, 1970

Formado depois do Acordo de Genebra de 1954, o Exército Sul-vietnamita (ESV), sem tradição ou experiência militar, passou a enfrentar os vietcongues, guerrilheiros comunistas do Vietnã do Norte. Com a intensificação dos combates entre o Norte e o Sul, durante os primeiros anos da década de 60, aumentou também a preocupação dos Estados Unidos com a sobrevivência de seu aliado, enviando para o Vietnã do Sul cada vez mais equipamentos e assessores militares.

Este auxílio permitiu uma rápida expansão do ESV, de 220.000 em 1964 para 416.000 homens em 1968, organizado em dez divisões de infantaria, além de diversas unidades de apoio ao combate. Após a ofensiva do Tet, em 1968, o Exército local assumiu um papel de maior destaque na linha de frente e, à medida que as tropas americanas começaram a se retirar, foi promovido um programa de modernização.

Por volta de 1970 a maioria das unidades estava equipada com fuzis M-16, lança-granadas M-79 e metralhadoras M-60. Mas apesar de todo esse apoio, o Exército sul-vietnamita foi incapaz de preencher o vazio deixado pelos norte-americanos e sucumbiu diante das forças comunistas em 1975. Embora seu padrão médio fosse baixo, algumas unidades eram da mais alta qualidade, capazes de enfrentar eficientes formações norte-vietnamitas sem apoio estrangeiro. Os batalhões Ranger, a Divisão Aérea e os Fuzileiros Navais eram muito respeitados, e a 1ª.Divisão de Infantaria se comparava às melhores unidades aeromóveis dos EUA.

O oficial sul-vietnamita está inteiramente equipado com material de procedência americana. A roupa de camuflagem de duas peças é do tipo "listas de tigre", usada pelas Forças Especiais dos EUA. O colete é de malha de náilon e tem bolsos múltiplos. O sistema de graduação - tipicamente sul-vietnamita - é representado por duas flores de ameixeira douradas aplicadas no gorro de selva, indicando o posto de 1º tenente. Bem armado, o oficial porta um fuzil de assalto M16A1, de 5,56 mm, com duas granadas de fragmentação e uma pistola no cinturão de lona.


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PENSAMENTO MILITAR: GUERRA E POLÍTICA




"Política é quase tão excitante quanto a guerra, e quase tão perigosa. Na guerra você é morto uma vez, mas, em política, várias vezes."

Winston Churchill, primeiro-ministro britânico
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PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – GENERAL MÉDICO JOÃO SEVERIANO DA FONSECA


* 27/05/1836 - Cidade de Alagoas-AL
+ 07/11/1897 – Rio de Janeiro-RJ



João Severiano da Fonseca foi um militar, médico, professor, escritor, historiador e diplomata brasileiro, tendo chegado ao posto de general-de-brigada. Participou da Campanha da Tríplice Aliança e foi o sétimo Diretor de Saúde do Exército Brasileiro. É o patrono do Serviço de Saúde do Exército.

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Família de militares

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João Severiano da Fonseca nasceu a 27 de maio de 1836, na Cidade de Alagoas, hoje chamada Marechal Deodoro, filho do tenente-coronel Manuel Mendes da Fonseca e de Rosa Maria Paulina da Fonseca. O casal teve duas filhas e oito filhos, sendo que todos os homens seguiram a carreira militar.

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Entre os irmãos, destacaram-se Manuel Deodoro da Fonseca, generalíssimo, proclamador da República e primeiro presidente do Brasil; marechal Hermes Ernesto da Fonseca, que governou a Bahia e o Mato Grosso; e marechal-de-campo Severiano Martins da Fonseca, primeiro e único barão de Alagoas. Outros três irmãos, major Eduardo Emiliano, capitão Hypolito e alferes Afonso Aurélio, faleceram em combate, nas batalhas de Itororó (1868), Curupaiti (1866) e Curuzu (1866), respectivamente. O oitavo irmão, Pedro Paulino, foi precocemente reformado, como incapaz, no posto de tenente, sendo nomeado coronel honorário . João Severiano também era tio de Hermes Rodrigues da Fonseca, futuro presidente brasileiro.

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Ao contrário dos irmãos, João Severiano não seguiu prontamente a carreira das armas, matriculando-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em 1858, recebeu o grau de doutor.
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Carreira militar

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Em 29 de janeiro de 1862, João Severiano ingressou no Corpo de Saúde do Exército Brasileiro, no posto de segundo-tenente, como cirurgião. Dois anos mais tarde, iniciou seus serviços na Campanha do Uruguai, seguindo para a Campanha da Tríplice-Aliança, na qual combateu até 1870. Nesse período, foi repetidamente merecedor de elogios e condecorações pelo zelo, competência e senso humanitário que exercia suas funções, o que lhe valeu a promoção a capitão, a designação a servir no então Hospital Militar da Guarnição da Corte e a comenda de oficial da Imperial Ordem do Cruzeiro, tornando-se o único oficial do Corpo de Saúde a receber tal condecoração.

.Em 1880, tornou-se o primeiro militar a integrar a Academia Imperial de Medicina e, no mesmo ano, entrou para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

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Em 1887, atuou como médico na Comissão de Limites com a Bolívia em Corumbá, regressando após três anos para ser reintegrado ao Hospital da Guarnição da Corte. Por uma determinação do ministro da Guerra, que não mais permitia a direção dos hospitais militares por oficiais leigos (não médicos), João Severiano, já como tenente-coronel, assumiu interinamente a direção do hospital na transição do Brasil Imperial para o Brasil República (e do Hospital da Guarnição da Corte para o Hospital Central do Exército).

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Durante sua estadia em Corumbá, pela Comissão de Limites com a Bolívia, escreveu o livro Viagem ao Redor do Brasil. A obra é um diário do autor, com importantes descrições a respeito do Mato Grosso e de tribos indígenas.

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Militar mais antigo do Corpo de Saúde à época, foi, logo depois, promovido a coronel e nomeado inspetor do Pessoal do Serviço Sanitário, sendo efetivado no posto de general-de-brigada, como inspetor geral do Serviço de Saúde a 4 de outubro de 1890.

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Ainda em 1890, passou a fazer parte do Conselho Supremo Militar de Justiça. Serviu, ainda, no Hospital Militar de Andaraí e chefiou a enfermaria da Escola Militar da Praia Vermelha, além de ter sido professor da cadeira de Ciências Físicas e Naturais do Imperial Colégio Militar.

.É interessante notar que João Severiano foi desligado do Exército oito dias após assinar o Manifesto dos treze generais, que contestava a legitimidade do governo de Floriano Peixoto. Teoricamente, entretanto, o licenciamento deu-se devido a sua eleição a senador. Ao término do mandato, em 4 de novembro de 1893, ele foi reintegrado ao Exército ainda no cargo de inspetor geral do Serviço Sanitário, o qual ocupou até seu falecimento, em 7 de novembro de 1897, na cidade do Rio de Janeiro.

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Por seus méritos profissionais e pessoais, em 1940 foi escolhido para ser o patrono do Serviço de Saúde, tendo sido a escolha homologada em 1962.


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ENFIM, A VITÓRIA - A CONQUISTA DE MONTE CASTELO



Pracinhas tomam Monte Castelo na quarta tentativa – Conquista é estratégica para seqüência da campanha aliada pelos Apeninos - Derrotar os alemães tornara-se questão de honra para Força Expedicionária Brasileira.

No raiar de novembro de 1944, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária do (DIE) brasileira desviou-se da frente do rio Serchio, onde vinha combatendo havia dois meses, para a frente do rio Reno, na cordilheira apenina. O novo QG Avançado do General Mascarenhas de Moraes, em Porreta-Terme, era cercado por montanhas subjugadas pelos alemães, em um raio de 15 quilômetros. As posições privilegiadas dos inimigos submetiam os brasileiros a uma vigilância diuturna, dificultando qualquer movimentação. Para piorar, o inverno prometia ser rigoroso. Além do frio tiritante, as chuvas transformaram as estradas, açoitadas pelos aviões aliados, em verdadeiros mares de lama.

O General Mark Clark, comandante das Forças Aliadas na Itália, pretendia seguir sua marcha com o 4º Corpo de Exército rumo a Bolonha antes que os primeiros flocos de neve começassem a cair. Entretanto, não poderia fazê-lo sem primeiro dominar o cume que, dentre todos os ocupados pelos tedescos, se destacava por sua localização estratégica: o Monte Castelo. Coube, então, aos brasileiros a responsabilidade de brigar pelo setor quiçá mais ingrato de toda a frente apenina. Havia só um problema: a 1ª DIE era uma tropa ainda verde para um combate daquela magnitude. Mas como Clark desejava conquistar Bolonha antes do Natal, o jeito era amadurecer tentando.
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Assim, em 24 de novembro, o Esquadrão de Reconhecimento e o 3º Batalhão do 6º Regimento de Infantaria da 1ª DIE juntavam-se à Força-Tarefa 45 dos Estados Unidos para a primeira investida por Monte Castelo. No segundo dia de ataques, tudo indicava que a operação seria exitosa: soldados americanos chegaram até a alcançar a cúspide do Castelo, depois de tomarem o vizinho Monte Belvedere. Contudo, em uma contra-ofensiva poderosa, os homens da 232ª Divisão de Infantaria germânica, responsável pela defesa de Castelo e do Monte della Torracia, recuperaram os pontos perdidos, obrigando pracinhas e ianques a abandonar as posições já conquistadas - com exceção do Monte Belvedere.
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O segundo ataque a Monte Castelo, em 29 de novembro, seria quase em sua totalidade obra da 1ª DIE - com três de seus batalhões - contando apenas com o suporte de três pelotões de tanques americanos. Todavia, um imprevisto ocorrido na véspera da investida atrapalharia os planos: na noite do dia 28, os alemães recuperaram o Belvedere, defenestrando os estadunidenses da montanha e deixando descoberto o flanco esquerdo da tropa agressora. O comando da DIE chegou a pensar em adiar a hostilidade, mas, como as tropas já estivessem em posição de ataque, a estratégia foi mantida. Às 7 horas, uma nova tentativa seria efetuada.
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As condições do tempo, porém, eram catastróficas para a ofensiva: chuva e céu encoberto impediam o auxílio da força aérea, e a lama praticamente inviabilizava a participação dos tanques. O grupamento do general Zenóbio da Costa até teve um bom início, mas o contra-ataque tedesco foi violento. Os soldados alemães dos 1.043º, 1.044º e 1.045º Regimentos de Infantaria barraram os avanços dos pracinhas. No fim da tarde, os dois batalhões brasileiros voltaram à estaca zero.
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Ofensiva infrutífera
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Em 5 de dezembro, o general Mascarenhas recebe uma ordem do 4º Corpo: "Cabe à DIE capturar e manter a crista do Monte della Torracia - Monte Belvedere." Ou seja, depois de duas tentativas frustradas, Monte Castelo ainda era o objetivo principal da próxima ofensiva brasileira, marcada pelo comandante para dali exatamente uma semana. Mas 12 de dezembro de 1944 acabaria sendo, desafortunadamente, o dia mais aziago da Força Expedicionária Brasileira no Velho Mundo.
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Com as mesmas condições meteorológicas da investida anterior, o 2º e o 3º batalhões do 1º Regimento de Infantaria fizeram, inicialmente, milagres. No flanco sinistro, os pracinhas subjugaram Zolfo, a somente 200 metros do cume; ao centro, alcançaram Abetaia, ante-sala do Monte Castelo. Entretanto, enfrentando pesada artilharia alemã, mais de 20 brasileiros foram ali abatidos. Mais uma vez, a ofensiva fora infrutífera, e, pior, causara baixas de 150 homens. A lição serviu para reforçar a convicção de Mascarenhas de que Monte Castelo só seria tomada dos alemães se toda a divisão fosse empregada no ataque - e não apenas alguns batalhões, como vinha ordenando o 5º Exército.
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O Monte Cstelo na época da batalha

Como o inverno chegasse antecipadamente, cobrindo de neve toda a frente italiana, o general Clark voltou atrás na determinação de chegar a Bolonha antes do Natal. Os pracinhas, assim, entravam em recesso: um compasso de espera de dois meses e dez dias, tenso, tedioso e, principalmente, frigidíssimo. O gelo só se quebrou em 19 de fevereiro de 1945, quando o comando do 5º Exército determinou o início da nova ofensiva que colocaria as tropas aliadas - incluindo a 1ª DIE - para além do vale do Pó, até as fronteiras da França.
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Pelo plano americano - batizado de Encore, ou "bis" -, novamente os pracinhas teriam como missão expulsar os alemães do Monte Castelo. Desta vez, porém, a tática de força total contra os tedescos, apregoada por Mascarenhas, foi aceita pelos caciques do 4º Corpo de Exército. E, assim, em 20 de fevereiro as tropas da Força Expedicionária Brasileira apresentaram-se em posição de combate, com seus três regimentos prontos para partir rumo a Castelo. À esquerda do grupamento verde-amarelo, caminharia a 10ª Divisão de Montanha estadunidense, famigerada tropa de elite, que tinha como responsabilidade tomar o Monte della Torracia e garantir, dessa forma, a proteção do flanco mais vulnerável do setor.
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Vulcão em atividade
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Como previsto, o ataque começou às 6 horas da manhã. O Batalhão Uzeda seguiu pela direita, o Batalhão Franklin na direção frontal do Monte e o Batalhão Sizeno Sarmento aguardava, nas posições privilegiadas que alcançara durante a noite, o momento de juntar-se aos outros dois batalhões. Pelo plano Encore, os brasileiros deveriam chegar ao topo do Monte Castelo às 18 horas, no máximo - uma hora depois do Monte della Torracia ser conquistado pela 10ª Divisão de Montanha, evento programado para as 17 horas. O 4º Corpo estava certo de que o Castelo não seria tomado antes que Della Torracia também o fosse.
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Entretanto, às 17h30, quando os primeiros soldados do Batalhão Franklin do 1º Regimento pisaram no cume do Monte Castelo, os ianques ainda não haviam dobrado a resistência alemã. Só o fariam noite adentro, quando os pracinhas há muito já haviam completado sua missão, e começavam a tomar, no vértice do Castelo, as trincheiras e casamatas recém-abandonadas pelos alemães.
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Para finalmente alcançar a esperada vitória, os três batalhões brasileiros coordenaram-se à perfeição; deve-se também creditar uma grande parcela do sucesso da investida à Artilharia Divisionária. Comandada pelo general Cordeiro de Farias, fez do cume do Monte Castelo, entre as 16h e 17h do dia 22, um verdadeiro vulcão em atividade, com bombardeios precisos que atarantaram os alemães.
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Para o Coronel Manoel Thomaz Castello Branco, oficial de comunicações do 1º Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira, a tomada de Monte Castelo foi mais do que só uma manobra militar bem-sucedida. "Com a conquista de Monte Castelo, esse sedento feito, a FEB saldou um de seus mais sérios compromissos na Itália, pelos aspectos morais que encerrava. O Monte Castelo já não era mais um simples objetivo a conquistar, mas um desafio a enfrentar e uma vingança a executar, cujo desfecho ou seria a consagração apoteótica ou a ruína acabrunhadora." Orgulhosamente, ficamos com a primeira opção.
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Fonte: Veja.com – Especial.
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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

IMAGEM DO DIA - 27/11/2009

Artilharia pesada britânica disparando no Somme, durante a 1a Guerra Mundial

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O EXPANSIONISMO ANTERIOR À 2ª GUERRA MUNDIAL





O Expansionismo Italiano

Após dez anos do golpe que implantou o fascismo na Itália, Mussolini iniciou uma política externa agressiva, com o objetivo de ampliar seus territórios coloniais, resolver seus problemas econômicos e reafirmar a posição do país na Europa. O Duce era não apenas o chefe de Estado, mas o comandante supremo das Forças Armadas, controlando diretamente os Ministérios da Guerra, Marinha e Aeronáutica.

A política expansionista iniciou-se em outubro de 1935 com a invasão da Etiópia, na África, que caiu sob domínio italiano em maio do ano seguinte. Ainda em 1936, a Itália enviou tropas para combater na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos falangistas comandados pelo general Francisco Franco, aproximando ao mesmo tempo da política de Hitler. Assim, a 24 de outubro de 1936, foi formalizado o eixo Roma-Berlim, que definiu a linha do expansionismo dos dois países.

Em abril de 1939, Mussolini promoveu a invasão e anexação da Albânia.
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O Expansionismo japonês
O Japão também sofreu os efeitos da crise de 1929. Na década de 30 as diferenças socioeconômicas acentuaram-se, destacando o nítido empobrecimento da classe operária. A alternativa para essa situação, foi a continuidade da sua política imperialista, iniciada em fins do século XIX com as invasões da China e da Coreia, fato que manteve a exigência de altos investimentos na estrutura militar.

Se até a década de 30 o Japão foi mais um dos países imperialistas, na década de 30 passou a uma política mais agressiva, chocando-se com os interesses das grandes potências no oriente. Em 1931 invadiu a Manchúria, em 1933 retirou-se da Liga das Nações e fez da Mandchúria a base para o novo império asiático que pretendia instaurar. Em setembro de 1940 firmou um pacto com a Alemanha e Itália. Assim, em 1940, invadiu a Indochina, colônia francesa, de onde pretendiam retirar borracha, estanho, petróleo e quinino e ao mesmo tempo abrir caminho para uma ocupação mais efetiva no sudeste asiático.



O Expansionismo Alemão
As ações políticas de Hitler combinavam suas necessidades internas e externas. Um dos mais graves problemas da Alemanha era o desemprego. Para atacar este problema, o Führer abriu frentes de trabalho, empregando cerca de 1 milhão de pessoas, em obras de emergência e atividades paramilitares. Em 1935 foi reaberto o alistamento militar, com o intuito de elevar o efetivo militar a 500 mil homens, apesar da proibição do Tratado de Versalhes. Em 1936 iniciou-se a remilitarização da Renânia, na fronteira com a França. Desta maneira saneava-se a situação social interna e ao mesmo tempo desenvolvia-se a política externa, ainda no sentido da preparação do expansionismo.
A geração de empregos esteve diretamente associada a militarização e a industrialização do país, destacando-se a indústria bélica. Preparava o avanço da Alemanha sobre os territórios considerados usurpados do país ao final da Primeira Guerra.


Em março de 1938 efetivou-se o Anchluss - anexação da Áustria pela Alemanha -, utilizando-se o argumento racial, a unidade dos povos germânicos; aproveitando-se ainda da fraqueza do governo austríaco e de sua instabilidade econômica, constantemente agravada desde o final da 1ª Guerra Mundial.
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O mesmo argumento racial foi utilizado por Hitler para avançar em direção a Tchecoslováquia, país formado após a 1ª Guerra, com o fim do Império Áustro-Húngaro. Nesse novo país, a região dos Sudetos era formada em sua maioria por alemães, que, insuflados por Hitler, passaram a exigir autonomia. A mobilização de tropas tchecas e francesas fez com que se buscasse um acordo diplomático. Realizou-se então a Conferência de Munique (setembro de 1938), que acabou por determinar que os Sudetos deveriam ser entregues a Alemanha. A Tchecoslováquia, isolada, foi obrigada a entregar 20% de seu território.

As potências ocidentais colocavam em prática a "política de apaziguamento" acreditando que dessa maneira conseguiriam frear a expansão do nazismo, através da definição de fronteiras européias e da declaração anglo-alemã e franco-alemã de não agressão.
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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ARMAS – CARABINA



 Carabina francesa Lebel Modelo 1886


A Carabina é uma arma de fogo mais curta que o fuzil, tendo entre 1,0 e 1,2 m de comprimento, muito usada em caça e tiro desportivo podendo ser de diversos calibres. Antigamente, designava uma versão mais curta do fuzil de infantaria a ser empregada por tropas de cavalaria. Hoje, designa armas longas de cano raiado mais compactas do que os fuzis ou que disparam munição de menor potência do que estes.

No século XIX e início do século XX, as carabinas eram as armas utilizadas pelas tropas de cavalaria e de caçadores a pé. Os soldados de infantaria de linha precisavam de uma arma de fogo de maior potência, enquanto que aquelas tropas precisavam de uma arma mais compacta e leve. As dimensões e peso relativamente baixos das carabinas permitem a sua mais fácil utilização em situações de combate a curtas distâncias, como áreas urbanas e florestas. A desvantagem, em relação aos fuzis, é a redução do alcance e da precisão a longas distâncias.


Primórdios

A Carabina era, originalmente, uma arma mais curta e leve desenvolvida para os soldados de cavalaria, que não podiam disparar um fuzil ou mosquete montados a cavalo, devido ao peso e tamanho daquelas armas. As carabinas tendiam a ser menos precisas e com menor potência de fogo que as armas de infantaria, em virtude da distância mais curta entre a alça e o ponto de mira e à baixa velocidade de saída dos seus projéteis em razão do cano de menor comprimento.

Com o desenvolvimento da pólvora sem fumaça, as desvantagens das Carabinas devido aos seus canos curtos diminuiram. Para além da cavalaria, as Carabinas começaram a ser utilizadas por aqueles preferiam uma arma mais compacta e ligeira em detrimento da precisão e do alcance. Este era o caso das tropas de caçadores a pé, de artilharia, de logística, de polícia, etc.. O uso deste tipo de arma levou a que alguns corpos de tropas passassem a ser denominados Carabineiros.

Durante o século XIX as Carabinas eram normalmente desenvolvidas separadamente dos fuzis de infantaria, na maioria dos casos utilizando munições diferentes, o que causava diversos problemas logísticos e operacionais.

Durante a Guerra Civil nos Estados Unidos foi desenvolvida uma das Carabinas mais notáveis da época, a Spencer, que utilizava um sistema de carregamento tubular com capacidade para sete munições. Posteriormente a carabina de repetição Winchester converteu-se num dos modelos mais populares e reconhecíveis, sendo criadas várias versões que utilizavam munições de revólver.

1ª Guerra Mundial
,Nas décadas que precederam a 1ª Guerra Mundial os fuzis em serviço nos diversos exércitos começaram a ser de menor tamanho, ou através de projetos completamente novos ou da utilização de “versões carabina” dos fuzis. O fuzil Mosin-Nagant russo, viu o comprimento do seu cano ser reduzido de 800 mm no Modelo 1891, para 730 mm em 1930 e para 510 mm em 1938. O cano da Mauser 98 passou de 740 mm na versão Gewehr 98 para 600 mm na versão Karabiner 98k, adotado como arma longa padrão do Exército Alemão em 1935.

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Pistola-carabina Luger de Artilharia alemã .


Durante a 1ª Guerra Mundial, os combates a curta distância nas trincheiras, levaram à necessidade de armas facilmente manejáveis em espaçõs restritos. Para essa função os alemães utilizaram as versões Carabinas das suas pistolas Mauser C96 e Parabellum, que consistiam essencialmente no acréscimo de uma coronha às armas, permitindo-lhes um tiro mais preciso.

2ª Guerra Mundial


A experiência dos combates da 2ª Guerra Mundial levou à mudança dos critérios para a seleção das armas de infantaria. Ao contrário da 1ª Guerra Mundial, que foi um conflito estático com linhas fixas, a 2ª Guerra foi uma guerra de movimento, com combates frequentes em cidades, florestas e outras áreas de mobilidade e visibilidade reduzidas. A maioria dos confrontos dava-se a distâncias inferiores a 300 metros e o inimigo apenas se expunha ao fogo durante breves instantes, quando se movia de uma abrigo para outro.
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Era realizado fogo de supressão, ou seja, fogo que não era apontado diretamente a um combatente inimigo, mas na direção das tropas adversárias com a intenção de lhes impedir os movimentos e os seus ataques. Estas situações requeriam não um fuzil pesado e de longo alcance, mas sim uma arma leve, de menor potência de fogo, mas com maior cadência de tiro com maiores hipóteses de atingir o inimigo durante os breves instantes em que se expunha. Além das munições mais leves e da capacidade de fogo automático ou semi-automático, as novas armas tinham um cano mais curto, tornando a arma mais compacta e fácil de usar em espaços apertados.

Nos primeiros anos da 2ª Guerra Mundial, os alemães experimentaram carabinas de fogo seletivo. Devido à potência da munição usada, a arma tinha um grande recuo que a impedia de funcionar correctamente em tiro automático. Foi então desnvolvida uma munição intermédia, a 7,92 x 33 mm (Kurz) que foi usada no fuzil de assalto Sturmgewehr 44 (StG44).


Guerra Fria

Durante o período da Guerra Fria, a União Soviética adotou uma arma semelhante ao StG44, o AK-47, que se tornou a arma padrão da sua infantaria. Os Estados Unidos criaram a Carabina M2, uma versão de fogo selectivo da Carabina M1 usada na 2ª Guerra Mundial.

Ainda que os países da OTAN não tenham adotado uma munição intermédia, continuaram a tendência de criar fuzis de assalto menores e mais leves. A OTAN adotou a munição de 7,62 x 51 mm, com uma potência entre a .30-06 Springfield e a .303, que foi utilizada em armas tais como o M14, o FN FAL e o HK G3.


Soldado americano com uma Colt M4 no Iraque

Na década de 1960 os Estados Unidos adotaram a munição de 5,56 x 45 mm. Esta munição era mais pequena e leve que a da AK-47, mas possuía maior velocidade e aproximadamente a mesma energia. Vários países da NATO seguiram os EUA nessa tendência, mantendo a munição de 7,62 mm apenas para armas de precisão de longo alcance. A munição de 5,56 mm levou à adoção de armas de assalto compactas, denominadas Carabinas, como a Colt M4A1.






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terça-feira, 24 de novembro de 2009

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - JOANA D'ARC


Atendento à curiosidade histórica da Aninha, parceira preferencial do Blog História Militar, publico hoje um breve resumo sobre esta importante personagem da História Militar.

* 06/01/1412 - Domrémy-la-Pucelle, França
+ 30/05/1431 – Ruão, França


Joana d'Arc, por vezes chamada de donzela de Orléans, era filha de Jacques d'Arc e Isabelle Romée e foi uma heroína da Guerra dos Cem Anos, durante a qual tomou partido pelos Armagnacs, na longa luta contra os borguinhões e seus aliados ingleses.

Descendente de camponeses, gente modesta e analfabeta, foi uma mártir francesa canonizada em 1920, quase cinco séculos depois de ter sido queimada viva.

Segundo a escritora Irène Kuhn, Joana d'Arc foi esquecida pela história até o século XIX, conhecido como o século do nacionalismo, o que pode confirmar as teorias de Ernest Gellner. Irène Kuhn escreveu: Foi apenas no século XIX que a França redescobriu esta personagem trágica.

François Villon, nascido em 1431, no ano de sua morte, evoca sua lembrança na bela «Ballade des Dames du temps jadis» ou seja, «Balada das damas do tempo passado»

Et Jeanne, la bonne Lorraine
Qu'Anglais brûlèrent à Rouen;
Où sont-ils, où, Vierge souvraine?
Mais où sont les neiges d'antan?

Antes aos fatos relacionados, Shakespeare tratou-a como uma bruxa; Voltaire escreveu um poema satírico, ou pseudo-ensaio histórico, que a ridicularizava, intitulado «La Pucelle d´Orléans» ou «A Donzela de Orléans».

Primeiros Anos


Joana nasceu em Domrémy, na região de Lorena (ou Lorraine) na França. Posteriormente a cidade foi renomeada como Domrémy-la-Pucelle em sua homenagem (pucelle; donzela em português). A data de seu nascimento é imprecisa, de acordo com seu interrogatório em 24 de fevereiro de 1431, Joana teria dito que na época tinha 19 anos portanto teria provavelmente nascido em 1412.

Filha de Jacques d'Arc e Isabelle Romée, tinha mais quatro irmãos: Jacques, Catherine, Jean e Pierre, sendo ela a mais nova dos irmãos. Seu pai era agricultor e sua mãe lhe ensinou todos os afazeres de uma menina da época.

Em seu julgamento Joana d'Arc afirmou que desde os treze anos ouvia vozes divinas. Segundo ela, em seu julgamento, a primeira vez que escutou a voz, ela vinha da direção da igreja e acompanhada de claridade e uma sensação de medo. Dizia que as vezes não a entendia muito bem e que as ouvia duas ou três vezes por semana. Entre as mensagens que ela entendeu estavam conselhos para frequentar a igreja, que deveria ir a Paris e que deveria levantar o domínio que havia na cidade de Orléans. Posteriormente ela identificaria as vozes como sendo do arcanjo Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida.

O arcanjo Miguel é o líder dos exércitos celestiais. Santa Catarina é definida as vezes como uma figura apócrifa a cavalo dos séculos III e IV que morreu com uma idade similar à de Joana; também erudita, persuadiu o imperador Maximiliano II que deixasse de perseguir os cristãos. Foi condenada a morrer na roda (um sistema de tortura que fraturava os ossos). A lenda de Margaret diz que ela foi uma mulher depreciada pela sua fé católica ao que lhe ofereceram matrimônio em troca da renúncia a esta fé. Ante sua negação, foi torturada escapando milagrosamente diversas vezes, até sua morte definitiva. Assim morreu virgem e mártir

A Guerra dos Cem Anos

Desde quando o Duque da Normandia, Guilherme o Conquistador, se apoderou da Inglaterra em 1066, os monarcas ingleses passaram a controlar extensas terras no território francês. Com o tempo, passaram a ter vários ducados franceses: Aquitânia, Gasconha, Poitou, Normandia, entre outros. Os duques, apesar de vassalos do rei francês, acabaram tornando-se seus rivais.

Quando a França tentou recuperar os territórios perdidos para Inglaterra, originou-se um dos mais longos e sangrentos conflitos da história da humanidade: a Guerra dos Cem Anos que durou, na realidade, 116 anos, produzindo milhões de mortos e a destruição de quase toda a França setentrional.

O início da guerra aconteceu em 1337. Os interesses mais que evidentes de unificar as coroas concretizaram-se na morte do rei francês Carlos IV em 1328. Filipe VI, sucessor graças à lei sálica (Carlos IV não tinha descendentes masculinos), proclamou-se rei da França em 27 de maio de 1328.

Felipe VI reclamou em 1337 o feudo da Gasconha ao rei inglês Eduardo III, e no dia 1 de novembro este responde plantando-se às portas de Paris mediante ao bispo de Lincoln, declarando que ele era o candidato adequado para ocupar o trono francês.

A Inglaterra ganharia batalhas como Crécy (1346) e Poitiers (1356). Uma grave enfermidade do rei francês originou uma luta pelo poder entre seu primo João I de Borgonha ou João sem Medo, e o irmão de Carlos VI, Luís de Orléans.

No dia 23 de novembro de 1407, nas ruas de Paris e por ordem do borguinhão, se comete o assassinato do armagnac Luís de Orléans. A família real francesa estava dividida entre os que davam suporte ao duque de Borgonha (borguinhões) e os que o davam ao de Orléans e depois a Carlos VII, Delfim de França (armagnacs ligados à causa de Orléans e à morte de Luís). Com o assassinato do armagnac, ambos os bandos se enfrentaram numa guerra civil, onde buscaram o apoio dos ingleses. Os partidários do Duque de Orléans, en 1414, viram recusada uma proposta pelos ingleses, que finalmente pactuaram com os borguinhões.

Com a morte de Carlos VI, em 1422, Henrique VI da Inglaterra foi coroado rei francês, mas os armagnacs não desistiram e mantiveram-se fiéis ao filho do rei, Carlos VII, coroando-o também em 1422.


Encontro com Carlos
Aos dezesseis anos, Joana foi a Vaucouleurs, cidade vizinha a Domrèmy. Recorreu a Robert de Baudricourt, capitão da guarnição armagnac estabelecida em Vaucouleurs para lhe ceder uma escolta até Chinon, onde estava o delfim, já que teria que atravessar todo o território hostil defendido pelos aliados ingleses e borguinhões. Quase um ano depois, Baudricourt aceitou enviá-la escoltada até o delfim. A escolta iniciou-se aproximadamente em 13 de fevereiro de 1429. Entre os seis homens que a acompanharam estavam Poulengy e Jean Nouillompont (conhecido como Jean de Metz). Jean esteve presente em todas as batalhas posteriores ao lado de Joana d'Arc.

Portando roupas masculinas até sua morte, Joana atravessou as terras dominadas por Borguinhões, chegando a Chinon, onde finalmente iria se encontrar com Carlos, após uma apresentação de uma carta enviada por Baudricourt. Chegando a Chinon, Joana já dispunha de uma grande popularidade, porém o delfim tinha ainda desconfianças sobre a moça. Decidiram passá-la por algumas provas. Segundo a lenda, com medo de apresentar o delfim diante de uma desconhecida que talvez pudesse matá-lo, eles decidiram ocultar Carlos em uma sala cheia de nobres ao recebê-la. Joana então teria reconhecido o rei disfarçado entre os nobres sem que jamais o tivesse visto antes. Joana teria ido até ao verdadeiro rei, curvado e dito: "Senhor, vim conduzir seus exércitos à vitória".

Sozinha na presença do rei, ela o convenceu a lhe entregar um exército com o intuito de libertar Orléans. Porém, o rei ainda a fez passar por provas diante dos teólogos reais. As autoridades eclesiásticas em Poitiers submeteram-na a um interrogatório, averiguaram sua virgindade e suas intenções.

Convencido do discurso de Joana, o rei entrega-lhe às mãos uma espada, um estandarte e o comando das tropas francesas, para seguir rumo à libertação da cidade de Orléans, que havia sido invadida e tomada pelos ingleses havia oito meses.

Joana d'Arc: a guerreira

Munida de uma bandeira branca, Joana chega a Orléans em 29 de abril de 1429. Comandando um exército de 4.000 homens ela consegue a vitória sobre os invasores no dia 9 de maio de 1429. O episódio é conhecido como a Libertação de Orléans (e na França como a Siège d'Orléans). Os franceses já haviam tentado defender Orléans mas não obtiveram sucesso.

Existem histórias paralelas a esta que informam que a figura de Joana era diferente. Ela teria chegado para a batalha em um cavalo branco, armadura de aço, e segurando um estandarte com a cruz de Cristo, circunscrita com o nome de Jesus. Segundo esta outra versão, Joana apenas arrastada pelo fascínio sobrenatural de seus sonhos e proposta de missão a cumprir segundo a vontade divina e sem saber nada sobre arte de guerra comandou os soldados rudes, com ar angelical, na qual em sua presença ninguém se atrevia a dizer ou praticar inconveniências. Ela apresentava-se extremamente disciplinada.

Após a libertação de Orléans, os ingleses pensaram que os franceses iriam tentar reconquistar Paris ou a Normandia, e ao invés disto, Joana convenceu o delfim a iniciar uma campanha sobre o rio Loire. Isso já era uma estratégia de Joana para conduzir o delfim a Ruão.

Joana dirigiu-se a vários pontos fortificados sobre pontes do rio Loire. Em 11 e 12 de junho de 1429 venceu a batalha de Jargeau. No dia 15 de junho foi a vez da batalha de Meung-sur-Loire. A terceira vitória foi na batalha de Beaugency, nos dias 16 e 17 de junho do mesmo ano. Um dia após sua última vitória se dirigiu a Patay, onde sua participação foi pequena. A batalha de Patay, única batalha em campo aberto, já se desenrolava sem a presença de Joana.

Coroação de Carlos VII

Cerca de um mês após sua vitória sobre os ingleses em Orléans, ela conduziu o rei Carlos VII à cidade de Reims, onde Carlos VII foi coroado em 17 de julho. A vitória de Joana d'Arc e a coroação do rei acabaram por reacender as esperanças dos franceses de se libertarem do domínio inglês e representaram a virada da guerra.

O caminho até Reims era considerado difícil já que várias cidades estavam sob o domínio dos borguinhões. Porém, a fama de Joana tinha se estendido por boa parte do território e fez com que o exército armagnac do delfim fosse temido. Assim, Joana passou sem problemas por sucessivas cidades como Gien, Saint Fargeau, Mézilles, Auxerre, Saint Florentin e Saint Paul.

Desde Gien, foram enviados convites a diversas autoridades para assistir à consagração do delfim. Em Auxerre chegou-se a pensar em resistência por parte de uma pequena tropa inimiga que se encontrava na cidade. Após três dias de negociação foi possível por lá passar sem qualquer problema. O mesmo aconteceu em Troyes, cujas negociações duraram cinco dias. A chegada a Ruão foi em 16 de julho.
Sabe-se que o dia da consagração definitiva do rei francês em Ruão foi em 17 de julho e não foi a cerimônia mais esplêndida do momento, já que as circunstâncias da guerra impediam o contrário. Joana assistiu à consagração de uma posição privilegiada, acompanhada de seu estandarte.

Paris

Teoricamente Joana já não tinha nada mais que fazer no exército já que havia cumprido sua promessa perfeitamente, havia cumprido corretamente as ordens que as vozes lhe haviam dado. Mas ela, como muitos outros, viu que enquanto a cidade de Paris estivesse tomada pelas tropas inglesas, dificilmente o novo rei poderia ter claramente o controle do reino de França.

No mesmo dia da coroação, chegaram emissários do Duque de Borgonha e se iniciaram as negociações para se chegar a paz, ou a uma trégua, que foi finalmente o que se pactuou. Não foi a paz que Joana desejava, mas pelo menos ela houve durante quinze dias. Entretanto a trégua não foi gratuita, já que houve interesses políticos por trás desta. Carlos VII necessitava tomar Paris para exercer sua autoridade de rei mas não queria criar uma imagem ruim com uma conquista violenta de terras que passariam a ser seu domínio. Foi isto que o que motivou a firmar a trégua com o Duque de Borgonha. Foi uma necessidade para ganhar tempo.

Durante a trégua, Carlos VII levou seu exército até Île-de-France (região francesa que abriga Paris). Houve alguns enfrentamentos entre os armagnacs e a aliança inglesa com os borguinhões. Os ingleses abandonaram Paris dirigindo-se a Ruão. Restava então derrotar os borguinhões que ainda ficaram em Paris e na região.

Joana foi ferida por uma flecha durante uma tentativa de entrar em Paris. Isto acelerou a decisão do rei em bater em retirada no dia 10 de setembro. Com a parada o rei francês não expressava a intenção de abandonar definitivamente a luta, mas optava por pensar e defender a opção de conquistar a vitória mediante a paz, tratados e outras oportunidades no futuro.

O fim de Joana d'Arc

Na primavera de 1430, Joana d'Arc retomou a campanha militar e passou a tentar libertar a cidade de Compiègne, onde acabou sendo dominada e capturada pelos borguinhões, aliados dos ingleses, em 1430.

Foi presa em 23 de maio do mesmo ano. Entre os dias 23 e 27 foi conduzida à Beaulieu-lès-Fontaines. Joana foi entrevistada entre os dias 27 e 28 pelo próprio Duque de Borgonha, Felipe, o bom. Naquele momento Joana era propriedade do Duque de Luxemburgo. Joana foi levada ao Castelo de Beaurevoir, onde permaneceu todo o verão, enquanto o duque de Luxemburgo negociava sua venda. Ao vendê-la aos ingleses, Joana foi transferida a Ruão.

Joana foi presa em uma cela escura e vigiada por cinco homens. Em contraste ao bom tratamento que recebera em sua primeira prisão, Joana agora vivia seus piores tempos.

O processo contra Joana teve início no dia 9 de janeiro de 1431, sendo chefiado pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon. Foi um processo que passaria à posteridade e que converteria Joana em heroína nacional, pelo modo como se desenvolveu e trouxe o final da jovem, e da lenda que ainda nos dias de hoje mescla realidade com fantasia.

Dez sessões foram feitas sem a presença da acusada, apenas com a apresentação de provas, que resultaram na acusação de heresia e assassinato.

No dia 21 de fevereiro Joana foi ouvida pela primeira vez. A princípio ela se negou a fazer o juramento da verdade, mas logo o fez. Joana foi interrogada sobre as vozes que ouvia, sobre a igreja militante, sobre seus trajes masculinos. No dia 27 e 28 de março, Thomas de Courcelles fez a leitura dos 70 artigos da acusação de Joana, e que depois foram resumidos a 12 , mais precisamente no dia 5 de abril. Estes artigos sustentavam a acusação formal para a donzela buscando sua condenação.

No mesmo dia 5, Joana começou a perder saúde por causa de ingestão de alimentos venenosos que a fez vomitar. Isto alertou Cauchon e os ingleses, que lhe trouxeram um médico. Queriam mantê-la viva, principalmente os ingleses, porque planejavam executá-la.

Durante a visita do médico, Jean d’Estivet acusou Joana de ter ingerido os alimentos envenenados conscientemente para cometer suicídio. No dia 18 de abril, quando finalmente ela se viu em perigo de morte, pediu para se confessar.

Os ingleses impacientaram-se com a demora do julgamento. O Conde de Warwick disse a Cauchon que o processo estava demorando muito. Até o primeiro proprietário de Joana, Jean de Luxemburgo, apresentou-se a Joana fazendo-lhe a proposta de pagar por sua liberdade se ela prometesse não atacar mais os ingleses. A partir do dia 23 de maio, as coisas se aceleraram, e no dia 29 de maio ela foi condenada por heresia.

Joana foi queimada viva em 30 de maio de 1431, com apenas dezenove anos de idade. A cerimônia de execução aconteceu na Praça do Velho Mercado (Place du Vieux Marché), às 9 horas, em Ruão.

Antes da execução ela se confessou com Jean Totmouille e Martin Ladvenu, que lhe administraram os sacramentos da Comunhão. Entrou, vestida de branco, na praça cheia de gente, e foi colocada na plataforma montada para sua execução. Após lerem o seu veredito, Joana foi queimada viva. Suas cinzas foram jogadas no rio Sena, para que não se tornassem objeto de veneração pública. Era o fim da heroína francesa.
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